quarta-feira, 29 de outubro de 2008

da pobreza de espírito ou a ontologia da excentricidade

Alguém já parou para pensar no slogan-lema do Euromilhões? Passo a citar: "Há 4 anos a criar excêntricos". No seu website, o visitante é inclusive interrogado: Está excêntrico?
Nos anúncios de televisão, o slogan-lema é acompanhado de indivíduos acabados de realizar uma compra qualquer exuberante ou astronómica.
A publicidade consegue ser muita estúpida, de facto. Além de manipular o conceito em si de excentricidade, utiliza-o como se o ostensivo e uma petulância hiper-materialista constituíssem um forma de estar ou um status a alcançar. Não digo que não exista nem seja legítima de ter; digo que promovê-la idealisticamente é de uma imbecilidade tremenda.
Assim o povo continua a labuta, sonhando com a excentricidade que tarda em chegar...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

tesouros com pó

Desculpa lá dread, se não nasci no gueto.
Desculpa lá, se a pele da minha cara é muito clara para me
achares um verdadeiro preto.
Não há espiga, vamos fumar o cachimbo da paz.
Eu, tu e o novo rico de fato lilás.
Tu roubas-lhe o dinheiro...
Eu roubo-te a intolerância e o preconceito.
Vocês dois roubam-me o desconforto perfeito! (Vai mais uma passa?)


Pacman, Da Weasel (3º Capítulo, 1997)

domingo, 26 de outubro de 2008

vida e morte

Como disse ao amigo que me acompanhou à segunda parte da Melhor Juventude, quando algo me deixa tão atordoado, prefiro muitas vezes não traduzi-lo em palavras escritas. Não explicá-lo, não contá-lo, não descrevê-lo. Prefiro pensá-lo, vivê-lo interiormente. Por um lado porque me é difícil fazê-lo; por outro, porque não quero. Egoísta, talvez.
Filmes são filmes, é verdade. Mas quando um filme me bate como se de uma experiência de vida se tratasse, como se de um testemunho que me fosse passado, apercebo-me de que um filme pode não ser só um filme. Pode ser uma alma, um coração, um respirar.
Não sei o que mais dizer. Confesso a mim mesmo que estou perturbado.

Tudo é belo...

"Não Sofia, chama-se sensibilidade"

Chegado a casa às 2.40 da manhã, pensei em meter-me na cama para estudar umas coisas amanhã. No entanto, vi as luzinhas do computador acesas e não resisti à tentação de dar um salto na blogosfera. Ora há males que vêm por bem fez mais sentido do que nunca, e tendo sabido pelo blog de uma amiga que a hora havia atrasado, decidi dizer o que me vai na alma depois de ver A Melhor Juventude, de Marco Tullio Giordana. E o que posso dizer é que ainda estou com as emoções à flor da pele. Há muito tempo que um filme não me tocava tanto. Bem sei que isto pouco diz ao certo do filme mas... eu avisei que me iria referir ao que me vai na alma. E é isso. Arrepios. Pele de galinha também.
Ah, e ainda só vamos na primeira parte. Amanha segue-se a segunda. Fica o convite - no Teatro Campo Alegre, às 18h:30 e às 22h.








quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Peixinho



Hoje fui com um amigo buscar um peixinho para oferecer como prenda a uma amiga minha. É uma oferenda simbólica mas que acho muito bonita. Tão bonita que hoje perguntei ao meu irmão se não gostava de ter um.
Creio que O Peixinho figurará em muitos imaginários, porventura nostálgicos, da nossa infância. Fosse a nossa casa ou a de um amigo que costumavamos frequentar, havia quase sempre O Peixinho. E o espaço do aquário do peixinho. Entretanto, o tempo passou, e hoje os cientistas da Verdade descem as encostas da Serra do Dogma e juntam-se a nós no Vale da Plebe Ignorante. Anunciam-nos então, de megafone em punho, que os aquários redondos fazem mal à cabeça dos peixinhos. Bem, seja. Ninguém queria fazer mal ao Peixinho!
E as estórias à volta do Peixinho? A alimentação, a mudança de água... não terá sido O Peixinho para muitas crianças o primeiro encarar com a responsabilidade? Mas mais épico do que isso, para muitos terá sido também o Peixinho que pela primeira vez pôs meninos em contacto com a dimensão real da morte. Digo isto sem qualquer pretenso humor. Penso ser uma primeira experiência importante, enriquecedora. Lembro-me que quando o meu Peixinho morreu, fiquei por uns dias a pensar na coisa. Sem grandes dramatismos, evidente. Todavia, evidente é também que a perda de algo ou alguém que nos é querido é sempre uma perda.
Nunca achei que iria escrever um texto tão extenso sobre isto. Mas bem, vou é tratar de tratar de trazer um peixinho para casa.

domingo, 19 de outubro de 2008

a palavra mágica

Parece que John McCain apelidou de "socialistas" as políticas fiscais de Barack Obama.
Se fosse a Obama, começava imediatamente a pensar num retratamento público, não vão os americanos acreditar nas palavras do republicano.

sábado, 18 de outubro de 2008

esbofeteado

Acabei de chegar a casa. Do cinema. Fui ver o Blow-up do Antonioni. Pela primeira vez. Ainda estou abananado. Com a cabeça à roda.







segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Para os papagaios e outros camaleões da crise que se esquecem do Homem

Ora o primeiro aspecto a reter é que, embora uma parte tão grande do mundo seja criada pelo homem, raramente pensamos nela enquanto tal e, neste sentido, somos alienados dos nossos produtos. Mais, temos tendência a tomá-los como adquiridos. Pensem na história da engenharia que foi necessária para que saia água limpa quente e fria das vossas torneiras. No entanto, só damos conta disso quando o abastecimento tem o desplante de falhar. A mistificação fica completa se pensarmos em como tão poucos de nós têm ideia de como funcionam electrodomésticos perfeitamente vulgares. Qual de nós pode honestamente dizer que compreende como funciona o seu frigorífico, mesmo quando isso lhe foi explicado? Nós, seres humanos, criámos um mundo que simplesmente não compreendemos; somos estranho no nosso próprio mundo.
Mas estes produtos não só nos deixam perplexos como chegamos a ser dominados por eles. (...) somos alienados durante a produção. A tecnologia da linha de montagem é a principal culpada. Mas quem inventou esta tecnologia e quem a construiu? Fomos nós. É portanto um exemplo de um produto que nos domina.
Mas a ideia de dominação vai muito mais fundo. Peguemos na ideia batida de que "não se pode lutar contra o mercado". Acostumámo-nos à ideia de que existem coisas como as "leis do mercado" e se as ignorámos fazemo-lo por nossa conta e risco. É tão provável acabarmos em desgraça como se ignorarmos as leis naturais - da gravidade, do magnetismo e por aí adiante. (...)
A lição a tirar é a de que a economia capitalista torna racionais algumas formas de comportamento, e torna outras irracionais. Assim, é melhor fazer o que mercado ordena, senão fica-se em apuros. Deste modo, damos por nós dominados pelo mercado. Mas o que é o mercado? Apenas os efeitos acumulados de incontáveis decisões humanas sobre produção e consumo. É, então, um produto nosso. Daqui conclui-se que, mais uma vez, passámos a ser dominados pelo nosso próprio produto. E mesmo sendo o nosso produto, ele não está já sob o nosso controlo. Quem quer, por exemplo, que haja um crash na bolsa? Mas acontece, de tempos a tempos, como consequência indesejada das nossas próprias acções individuais, cada uma das quais pode ter parecido perfeitamente racional nas condições em que foi feita. (...) Como diz Marx, experimentamos a "dominação completa da matéria morta sobre os homens".


in Porquê ler Marx hoje?, Jonathan Wolff

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

VAMOS FALAR SÉRIO...

Estava eu já na cama descansadinho e de banho tomado com o ipsilon à frente quando, incauto, abro a primeira página e vejo que...
DJ PREMIER (27 Outubro), GURU (3 Novembro), AFRIKA BAMBAATA (17 NOVEMBRO) e DE LA SOUL (1 DEZEMBRO) VÃO ACTUAR EM LISBOA!
DÁ PARA ACREDITAR?!

WOOORD UP!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

amemo-nos, caminhando

Sustentado com uma carne inocente, satisfeito com pouco, sempre pronto para o voo, impaciente por voar, ganhar voo, eis como sou. Como não havia de ter alguma coisa da ave?
E é sobretudo por odiar o espírito de Gravidade que tenho alguma coisa da ave; na verdade, sou seu inimigo mortal, abonado, jurado.
(...)
Aquele qe um dia ensinar os homens a voar deslocará todas as barreiras; fará saltar todas as barreiras, dará à terra um nome novo, chamar-lhe-á "a Leve".
(...)
É preciso aprender a amar-se a si próprio, tal é a minha doutrina, com um amor total e são, a fim de ficar preso a si mesmo (...).
(...)
E na verdade, aprender a amar-se, não é uma máxima aplicável a partir de hoje ou de amanhã. É, pelo contrário, de todas as artes, a mais subtil, a mais astuta, a arte suprema, e aquela que requere mais paciência.
O que possuímos está-nos sempre sempre escondido; e de todos os tesouros é o seu próprio que todos desenterram em último lugar. Assim quis o espírito de Gravidade.
É quase que desde o berço que nos dotam com palavras pesadas, com valores pesados chamados "bem" e "mal", porque tal é o nome deste património. Pelo preço desses valores, desculpam-nos o facto de viver.
E se os homens deixam vir a si as criancinhas, é para as impedir a tempo que se amem a si próprias; tal é a obra do espírito de Gravidade.
Quanto a nós, arrastamos conscienciosamente aquilo com que nos carregaram, nos nossos duros ombros, para além das rudes montanhas. E quando estamos encharcado em suor, dizem-nos: "Sim, a vida é difícil de levar!".
(...)
O homem é difícil de descobrir, sobretudo quando se trata de se descobrir a ele mesmo. Muitas vezes o espírito mente a respeito da alma. Eis a obra do espírito de Gravidade.
(...)
Na verdade, também eu aprendi a esperar, mas a esperar-me a mim mesmo. E sobretudo aprendi a estar de pé, a andar, a correr, a saltar, a trepar, a dançar. Porque tal é a minha doutrina; se quisermos aprender um dia a voar, é preciso começar por aprender a estar de pé, a caminhar, a corer, a saltar, a trepar, a dançar.
Para aprender a voar não basta um único golpe de asa.
(...)
Tomei por muitos caminhos e servi-me de muitos meios para chegar à minha verdade, servi-me de mais de uma escada para chegar à altura de onde o meu olhar percorre os longínquos espaços.
E foi sempre contrariado que perguntei o meu caminho, sempre isso me repugnou. Prefiro interrogar os próprios caminhos e experimentá-los.
Experimentar e interrogar é a minha maneira de avançar, e na verdade é também necessário aprender a responder a semelhantes perguntas. É esse o meu gosto.
Esse gosto não é bom nem mau, é o meu gosto; não tenho vergonha dele e dele não faço mistério.
"Eis o meu caminho; e vós, onde está o vosso?". É o que responde aos que me perguntam o "caminho". O caminho, com efeito, não existe.


in Assim falava Zaratustra, Nietzsche

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

tem ratos, tem ratos

O que se está a passar no PS à volta da questão do voto sobre o projecto do BE e dos Verdes para o casamento entre pessoas do mesmo sexo traduz o que penso actualmente dos meandros "socialistas". Hipocrisia (justificando-se a disciplina de voto contra com a ausência do tema no programa de governo - já o divórcio...); asfixia (disciplina de voto contra um projecto fundamental para uma sociedade mais livre, igualitáia e tolerante na qual um P"S" se devia obviamente revêr); bizarria (com a hipótese de se conceder uma excepcional liberdade de voto a apenas um (!) deputado - o ex líder da JS). E digo isto sem tomar sequer partido pela questão que está em cima da mesa (apesar de já aqui a ter manifestado); digo-o apenas como observador de um pobre e humilhante número de circo.
Neste momento, o PS enoja-me.

P.S. - Já agora, diga-se de passagem que o PSD concedeu liberdade de voto. Muito bem!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Alguém ainda se lembra?

Eu gostava muito desta série. Entre outras coisas, tinha uma banda sonora fantástica que lhe conferia uma aura muito própria. Neste excerto podemos escutar Pedro Abrunhosa, Xutos ou Texas (que grande som...). Eram músicas que absorviam o meu virgem espírito enquanto acompanhava as aventuras e desventuras daqueles adolescentes tão longe de mim, algures numa Lisboa cosmopolita, mundana e híbrida. Sem saber muito bem o que isto quer dizer, vou dizê-lo na mesma: acho que cresci com os Riscos.