sexta-feira, 27 de março de 2009

Azul,

uma vez mais, pensei eu enquanto davas novamente à costa.
Onde estiveste? Naufragaste? Antes tivesses naufragado e voltasses agora para empreender uma nova navegação. O mal é esse. É não saber em que águas andaste, que sal engoliste, que sustos te fizeram pensar. É não saber se houve tempestade e depois bonança ou apenas meia dúzia de ondas indiferentemente turbulentas que não viraram a navegação mas tão-só a balancearam.
Que naufragaste; que regelaste de tão fria era a água que te martirizava a carne; que morrias com o oceano nas goelas. Era isso que queria ouvir: a bonança depois da tempestade. O novo dia depois da tormenta. As ondas vagarosas e douradas pelo sol e o barco partido, desfeito. Abandonado, de vez.

Em terra, de vez. Ó tu!

quarta-feira, 25 de março de 2009

A morte

de um homem começa com a morte de seu pai.

A frase é do Orhan Pamuk no livro Outras Cores. Penso tantas vezes nisto... demasiadas, talvez.
Nesta noite a 1ª Linha terá o prazer de apresentar um concerto das 1as bandas de reggae do norte do país “SATIVA” (roots reggae, Dub, Ska, ragga) onde serão transmitidas boas vibrações, harmonia, paz e amor universal.

Porra... e eu que pensava que transmitir apenas uma destas coisas já era difícil por si só!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ontem, no P2

Por que será que, quando falamos com Deus, dizem que estamos a rezar e, quando Deus fala connosco, dizem que somos esquizofrénicos?

Eu não diria esquizofrénicos. Antes loucos.

aditamento: Não quero com isto dizer que quando alguém diz que Deus fala consigo, é porque é louco. Não é nada disso. Apenas substitui adjectivos, pois assim me parece mais de acordo com aquilo que as pessoas pensam e dizem. O interessante da questão não é a qualificação do indivíduo como esquizofrénico (ou louco) por dizer que Deus fala consigo, mas sim a dualidade de critério.
Popper diz que para uma sociedade democrática em constante e incessante aperfeiçoamento é fundamental uma "discussão critíca e racional" (são palavras dele) permanente. Pois é desta discussão, do debate, do conflito de ideias que se aprofunda a democracia e suas instituições. Aqui até é engraçada a visível reminiscência da dialéctica hegeliana como motor filosófico do desenvolvimento (latíssimo sensu).
Mas voltemos a Popper. Acrescenta ele então que, tendo nós em conta a importância desta discussão como caminho para uma "sociedade mais sensata" (novamente palavras do próprio), percebemos então como a Utopia (como fim, suponho eu), enquanto estádio alcançado e, a partir daí, estático, não promove esta discussão, este conflito de ideias. Não avança, não desenvolve. Não se supera.
Eu concordo com isto.
Mas se não alumiarmos o caminho com Utopias, não caíremos também em situacionismos estáticos onde a discussão - sempre ela - fica também amorfa, desprezada, esquecida?Não são afinal as Utopias grandes fomentadoras da discussão e do confronto (que se querem racionais e críticos)?
A esta questão acho que se responde com o argumento utilizado por um meu amigo com quem partilhei estas dúvidas: utopia (qualquer que ela seja no sentido do progresso do Homem) sim, sempre. Mas como caminho e isntrumentos de discussão e nunca como fim. Porque enquanto fim é estática e eliminadora da supracitada discussão. E, por isso, do progresso do Homem.
Eu também concordo com isto.

sábado, 21 de março de 2009

Grande máquina esta, hein?
Ah pois...
Um 190, não é isso?
É... Já não se fabricam.
Ai não?
Pois... A Mercedes acabou com eles. Eram muito bons. Nunca davam problemas.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Há uma escola básica dos 2.º e 3.º ciclos na freguesia de Aldoar que é comummente conhecida como "a escola de Aldoar". Poucos saberão que o seu verdadeiro nome é "Escola Manoel de Oliveira". Em homenagem ao cineasta, pois.
Constatava este pormaior com minha mãe quando me apercebi do grandioso, senão insuperável, tributo que é dar o nome de alguém a uma escola. É que a escola, quando livre e aberta, é um dos locais mais belos e fraternos no crescimento de qualquer homem ou mulher.
Que valor tem dar o nome de uma personalidade pública a uma rua? Ao contrário da escola, esta até vai ser sempre conhecida pelo nome. Mas não será mais do que esse mero conhecimento: afinal de contas, a rua será tão-só uma calçada ladeada por prédios, pisada e repisada, umas vezes mais limpa, outras vezes mais suja.
Agora uma Escola? Que edíficio tão belo e inspirador poderá haver como este? Talvez o Hospital. Será o único, creio, porque também aqui encontramos o humanismo, a ciência e o progresso de mãos dadas como leitmotiv para a sua edificação.
Se um dia algum tolo se lembrasse de me prestar uma homenagem póstuma, eu comover-me-ia se soubesse da existência de uma Escola com o meu nome. Um local onde homens e mulheres se formariam para construir coisas boas no futuro. Como melhores escolas, por exemplo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

um dia de calor



Te querer
Viver mais pra ser exacto
Te seguir
E poder chegar
Onde tudo é só meu
Te encontrar
Dar a cara pro teu beijo
Correr atrás de ti
Feito cigano, cigano, cigano
Me jogar sem medir

Viajar
Entre pernas e delícias
Conhecer pra notícias dar
Devassar sua vida
Resistir
Ao que pode o pensamento
Saber chegar no seu melhor
Momento, momento, momento
Pra ficar e ficar

Juntos, dentro, horas
Tudo ali às claras
Deixar crescer
Até romper
A manhã
Como o mar está sereno
Olha lá
As gaivotas já
Vão deixar suas ilhas
Veja o sol
É demais essa cidade!
A gente vai ter
Um dia de calor...


Cigano, Djavan

terça-feira, 17 de março de 2009

Estou numa conversa a três. Na verdade, a conversa é a dois, porque eu calo-me e escuto.
Falam dois entendidos na matéria. A pressão para se mostrar que se é entendido é grande. Atropelam as palavras num discurso surdo em que quem compete pelo primeiro lugar é a altivez. Naturalmente não se ouvem. Um fala, o outro olha para o lado. Ou então para mim. Corta-lhe o discurso, e fala por cima do outro. O outro, por sua vez, olha para o lado. Ou então para mim. Confundido em saber quem é o outro? É propositado. Nem os intervenientes sabem já quem é o outro. Só existe o seu ego e pouco mais (eu, porventura). Sinto-me tentado, num desespero interior imenso, a interrompê-los e perguntar: ainda estão a falar? Ou, para tentar ser mais claro: sabem que isto se iniciou numa conversa mas que entretanto nenhum de vocês conversou? Provavelmente olhar-me-iam como um tolo. Permaneço calado, pois.
É assustador. É uma incomunicação aterradora. Perto do autismo. Sinto-me constrangido e sem saber o que fazer. Involuntariamente, o meu olhar torna-se no centro das atenções. É agora o verdadeiro ponto de interesse para aquele que não quer ouvir o outro que fala. Como que uma legítima distracção para não ter que escutar o outro até ao momento em que possa novamente interrompê-lo sem pedir licença. Chega a parecer um jogo a ver quem interrompe e fala mais e quem escuta e apreende menos.
Naturalmente não dou qualquer opinião. Embora tenha a presunção, confesso, de que, no caso, seria ouvido.
Pensei em gravar o momento para que alguém pudesse ter alguma noção do sucedido. E dizer-me que também já presenciou momentos como este, caso contrário receio ser uma paranóia assustadora da minha cabeça.
Sinto-me incomodado e saio. Considero-os tolos. Peço para não voltar a estar numa situação destas muitas mais vezes nos próximos tempos. Perturba-me tanto...
que raio de amor é esse.
Contido, calculista. Atento e matemático nos minutos.
Estupidamente recíproco na suposta indiferença, nos carinhos devidos, nos estados de graça e noutros não tão bons.
então e a liberdade?
Que se lixe o equilíbrio e a reciprocidade. Isso não faz bem a ninguém.
E já estou chateado comigo mesmo por ter demorado tanto tempo a escrever e reescrever este textinho de merda. Tudo por causa do equilíbrio.
A verdade é que também não gosto da vaga loucura. Parece-me infantil.
então e a liberdade?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Não tinha pão nem água. E a pouca roupa que tinha estava esfarrapada.
Tinha uma pele amarelecida pela sujidade, muita barba e uns olhos sem expressão.
E tinha um mp3. Uns fiozinhos pelo pescoço acima com duas bolinhas pretas nos ouvidos.
Sim, gosto de ti.
Sim, penso em ti a toda a hora.

Não, não quero estar contigo.

(Sim, quero.)

domingo, 8 de março de 2009

aditamento

O meu pai está na cozinha a fazer o almoço e a minha mãe no escritório a estudar.
Viva! :)
Vasculhei a minha memória em busca de um livro, de uma música ou de um poema para celebrar o dia internacional da Mulher. Como não encontrei nenhum que me satisfizesse plenamente, resta-me dizer que este dia é, para mim, mais do que o Dia da Mulher, um dia da Humanidade.
Talvez porque fui criado e educado por uma mulher guerreira e inteligente, a Luta da Mulher me desperte particular sensibilidade.
Que todos os dias do ano sejam dias da mulher e, portanto, dias da Humanidade. Este é o meu desejo.
E que belo dia de sol está... Viva!

sábado, 7 de março de 2009

falta a letra

... que, não sei porquê, não consigo encontrar. A música é linda.

The first time, the last time
The first rhyme, the last rhyme
The first love...



First Love - Stereo MCs

sexta-feira, 6 de março de 2009

comunicações via Noruega

O meu amigo Nuno, arquitecto paisagista (e ele faz questão de sublinhar o paisagista, pois a maioria das pessoas pensará, como eu pensava, que a paisagista era o patinho feio da Arquitectura), foi já há uns tempos para a Noruega trabalhar. E agora partilha um pouco do seu trabalho connosco no numunicações. As fotografias são belíssimas. E já aprendi algumas lições de democracia participada... Vale a pena dar lá um salto!

O Nuno, que provavelmente nem vai sequer saber destes elogios que lhe faço, é um gajo super dinâmico, inteligente e disponível. Do que guardo das minhas passagens por terras nórdicas, resta-me pois dizer que na Noruega, o Nuno está como um peixe na água.

domingo, 1 de março de 2009

O Acossado



Eu não sei quem é este senhor, mas já tenho pena dele. É que de todas as vezes que o Público online faz uma notícia sobre a energia nuclear iraniana, aparece a fotografia do pobre do senhor.