sábado, 25 de abril de 2009

"nosso"
é tão forte
e tão de mais nenhum
que os dois ésses
não se deslaçam
por motivo algum.

Mesmo agora,
que a palavra repetida
soa estranha
as letrinhas se agarram
com ternura tamanha.

O que faz falta passados 35 anos?


O que faz falta - Jose Afonso

Muita coisa, suponho...

Tenho a tentação para fazer um breve ensaio sobre o que penso do 25 de Abril. Se um momento estanque, um ponto de clivagem pertencente ao passado; ou um projecto a realizar, a aperfeiçoar. Consciente, por outro lado, de que o 25 de Abril é de tal forma alvo de tantos e tantos entendimentos, que não pode, afinal, reconduzir-se apenas a estes dois caminhos interpretativos.
Pois é. Não faço então qualquer ensaio. Celebro! Com o misticismo (seria nostalgia se o tivesse vivido) que sempre me arrepia todos o anos nesta data.
Viva!

terça-feira, 21 de abril de 2009

o verão da calçada
o açúcar queimando os lábios
o descomprometimento das almas sozinhas
E a cabeça que imagina tudo isto.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

smooth

Descobri os The Streets há uns dias. E têm coisas fantásticas como esta:

Has it come to this? (do album Original Pirate Material, 2002)

domingo, 19 de abril de 2009

Um dia disseram-lhe:
Fazer amor de meias é como fazer amor à antiga: de lençol por cima e círculo estrategicamente perfurado.

Ela concordou e deu graças.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Agora tenho um crédito.
Que nunca quis ter. Que nunca pretendi que fosse o reverso da medalha.
Entre outras facetas, este crédito é o Tempo que medeia os impulsos, a atracção, os desejos carnais. É a distância que vai entre um sinal, a acusação da sua recepção e a resposta.
Deste crédito deriva um segundo: o da reacção perante a não-emissão do primeiro sinal. Esse é um verdadeiro super-crédito pois sinto poder dar-lhe uso de uma forma avassaladora.
Simultaneamente, sinto uma enorme angústia por me sentir dono deste segundo crédito. Não o querendo, sinto ter o legítimo poder - legítimo porque herdado pelo esforço, sofrimento e, porque não, por alguma razão - de destruir tudo a qualquer momento. Destruir pedra por pedra, até não restar nada. Insultar, vocifrar, espezinhar. Esmagar a desilusão (uma vez mais) com violência. Mas ninguém imaginará como esta possibilidade me é, ao mesmo tempo, assustadora. Assustadora porque esquizofrénica: em vez de cortar com esse crédito (tristemente) ou de ele me ser cortado (alegremente) de uma só penada, assim acabando com dúvidas e frustrações, mantenho-no, esticando-o e flexibilizando-o conforme o meu estado de espírito esteja mais ou menos positivo. Assim, se naquele dia estiver radiante, sou capaz de me interrogar porque razão escreveria uma coisa como a que estou a escrever; num dia de espírito distinto, desejo ser brutal no suprimento do dito. Desejo deixar uma marca de tal forma funda que me faça sentir que estive certo. Que me faça sentir que o devedor, afinal, enganava-me eu durante tanto tempo, não me devia nada. Se porque nunca soube ou nunca quis, esse continua(rá) a ser um mistério.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Acordei trauteando a My Way. Não faço ideia do porquê.
Mas quando pus música, foi isto que ouvi:


Rolling Stones - Miss You - Rolling Stones

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um dia também te quero escrever... metáforas

Meu pai dizia "este filme é muito na onda..." quando o interrompi para dar um gritinho: "muito na onda do Cinema Paradiso!!". E tinha acertado.
Ontem à noite vi O Carteiro de Pablo Neruda. Tal como em Cinema Paradiso - e isto tem, enfim, muito dedo italiano - somos tocados por uma sensibilidade incomum. A fotografia é lindíssima, o carteiro faz um papel fabuloso... e Neruda conserva toda a aura daquele que é Poeta.
Soltei umas lágrimas brutas, rapidamente amarfanhadas pelos meus lábios envergonhados. E a seguir foi uma vontade tremenda de beijar o carteiro como se meu filho fosse, abraçar Neruda como se de meu pai se tratasse, fazer uma festa no cabelo de Beatrice Russo, como fosse ela a metáfora que me pertencesse...
Depois fui ao escritório de meus pais perscrutar o que de Neruda havia. E não tinha mãos para o que encontrei. Aí o filme quase que se me esqueceu por completo e assomou-me outro pensamento central: o privilégio, a sorte que é poder fazer tal. Naqueles 5 minutos que mediaram o momento em que acabei de ver um filme inspirador e fui procurar um testemunho real de uma das suas personagens, compreendi que, infelizmente, este é um daqueles prazeres raros. Ao alcance de poucos. É triste, muito triste. Quem me dera abrir naquele momento o velho escritório a todas as almas que tivessem acabado de vêr O Carteiro de Pablo Neruda e gostassem de saber um pouco mais do poeta... E aos que não tivessem visto, oferecia-lhes a oportunidade de o vêr. Com todo o amor.
Democratização do acesso à cultura, diz-se na Política (a que não corresponde - e pelo menos aqui era bom que correspondesse! - à etimologia...). Pois, está muito bem... mas falta-lhes o amor. O amor de quem dá. Que se transforma no amor de quem recebe.
O amor de Neruda, por exemplo:

(...)
Mas eis que aquela
que passou pelos meus braços
como uma onda,
aquela
que foi somente um sabor
de fruta vespertina,
subitamente
pestanejou como uma estrela,
ardeu como uma pomba
e na minha pele senti que ela
se desatava
como a cabeleira duma fogueira.
Amor, tudo foi mais simples
desde aquele dia.
Obedeci às ordens
que o meu olvidado coração ordenava
e enlacei a sua cintura
e solicitei a sua boca
com toda a força
dos meus beijos,
como um rei que arrebata
com um exército em fúria
uma pequena torre onde cresce
a açucena selvagem da sua infância.

Por isso, Amor, eu creio
que emaranhado e cruel
pode ser o teu caminho,
mas que regressas
da tua caçada
e quando acendes
novamente o fogo,
como o pão sobre a mesa,
assim, singelamente,
deve estar o que amamos.
Amor, isso me deste.
Quando pela primeira vez
ela veio a meus braços
passou como as águas
numa despenhada primavera.
Hoje
dou-lhe guarida.
São estreitas as minhas mãos e pequenas
as órbitas os meus olhos
para que elas possam receber
o seu tesouro,
a cascata
da infindável luz, o fio de ouro,
o pão da sua fragrância
que são singelamente, Amor, a minha vida.

excerto de Ode ao Amor, Pablo Neruda

domingo, 12 de abril de 2009

Admiro aqueles que, escrevendo com mais ou menos qualidade, se conseguem abrir no seu blog. Que soltam os seus medos, que descrevem as suas frustrações, que deixam transparecer o mais fundo de suas almas.
Eu não consigo. E, na maioria das vezes, também não quero. Sentir-me-ia nu. Desprotegido, frágil. E isto independentemente de ser lido por muita ou pouca gente, coisa de que, na verdade, sou totalmente desconhecedor.
Todavia, quanto mais aprisiono os meus fantasmas, mais sinto que me isolo na negritude. Mais fundo desço no poço.
E parece que quanto mais leio os ditos blogs, mais aversão sinto à possibilidade de me expôr. Parece que já foi tudo dito. Que já tudo foi sentido e sofrido. E não é verdade! O que sinto é singular. Como o de qualquer um, suponho.
Mas, afinal de contas, que estou eu a fazer agora senão aquilo que disse até aqui não conseguir fazer? Só tomei outro caminho...

terça-feira, 7 de abril de 2009

(te)

sóquandotiveraliberdadededizerqueamovoupoderamardaformaquequeroamar

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono


Outubro 1979

Mia Couto
No nickname de um contacto meu no Messenger:
Trabalhos ou artigos sobre a CRISE ECONÓMICA alguém tem???

Não sei o que dizer, pelo que me rio tristemente.