"O sabor do verdadeiro conhecimento está definitivamente associado, na minha mente, ao terreno baldio que havia no fim do bairro para onde fui transplantado quando tinha cerca de 10 anos. (...) o mundo estava repleto de maravilha e mistério e só quando estávamos a tiritar de frio no terreno baldio falávamos a sério e sentíamos uma necessidade de comunicar que era simultaneamente agradável e aterradora.
A maravilha e o mistério da vida, que são sufocadas em nós quando nos tornamos membros responsáveis da sociedade! Até sermos forçados a trabalhar, o mundo era muito pequeno e vivíamos na sua margem, na fronteira, digamos, do desconhecido. Um pequeno mundo grego, ainda assim suficientemente profundo para proporcionar toda a espécie de aventura e especulação. E não era assim tão pequeno, pois reservava as mais imensas possibilidades. Não ganhei nada com o alargamento do meu mundo, pelo contrário, perdi. Quero tornar-me cada vez mais infantil e seguir além da infância, na direcção oposta. Quero seguir exactamente o percurso contrário à linha normal de desenvolvimento, entrar num estado de superinfantilidade que será absolutamente louco e caótico, mas não louco e caótico como o mundo que me rodeia".
Henry Miller, Trópico de Capricórnio
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
domingo, 19 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
provocando uns e outros
Estou muuuito curioso por este Hip-Hop Sinfónico de amanhã!
Para saber um pouco mais, veja-se a interessante entrevista de Miki, reputado produtor alemão de hip-hop e coordenador de todo o projecto, à revista institucional da Casa da Música. Tinha sublinhado uma série de frases que queria deixar aqui, mas entretanto não sei onde pára a revista. Debruçavam-se sobre as inevitáveis querelas entre puristas, quer de um lado (música clássica), quer do outro (hip-hop). E já todos sabemos onde está a virtude...
Pelos vistos, esta experiência - no mínimo arrojada - já foi levada a cabo pelo mesmo Miki na sua terra natal, quando juntou uma série de rappers alemães e a Orquesta Nacional de Berlim (se não me engano). Os elogios foram muitos... e dos dois lados.
É ver para crer!
Orquestra Nacional do Porto
Rappers portugueses presentes: Sam the Kid, NBC e New Max (embora este último porventura mais conhecido pelos dotes na produção).
Outros: Ono.
Arranjos e coordenação: Miki.
Para saber um pouco mais, veja-se a interessante entrevista de Miki, reputado produtor alemão de hip-hop e coordenador de todo o projecto, à revista institucional da Casa da Música. Tinha sublinhado uma série de frases que queria deixar aqui, mas entretanto não sei onde pára a revista. Debruçavam-se sobre as inevitáveis querelas entre puristas, quer de um lado (música clássica), quer do outro (hip-hop). E já todos sabemos onde está a virtude...
Pelos vistos, esta experiência - no mínimo arrojada - já foi levada a cabo pelo mesmo Miki na sua terra natal, quando juntou uma série de rappers alemães e a Orquesta Nacional de Berlim (se não me engano). Os elogios foram muitos... e dos dois lados.
É ver para crer!
Orquestra Nacional do Porto
Rappers portugueses presentes: Sam the Kid, NBC e New Max (embora este último porventura mais conhecido pelos dotes na produção).
Outros: Ono.
Arranjos e coordenação: Miki.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
entre escrever uma coisa banalíssima e ser alvo de troça, e escrever a mesma coisa banalíssima e receber aplausos, há um sem-fim de complexos, preconceitos, paranóias, amores-ódios, invejas, egoísmos. E depois, talvez só depois, venha a qualidade como critério. Na verdade, o único critério.
É uma linha... ténue, dizem.
É uma linha... ténue, dizem.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Lo fácil cae ligero
Obrigado pela revelação naquele fim de tarde mal contado.
"Lo fácil cae ligero
lo duro pesa mucho
el tiempo va volando ya que puede tiene que vola
cada uno en su luga
todo esta muy claro
tu origen te marca, tu eliges la charca
donde quieres remar"
Mala Rodriguez, Lo fácil cae ligero
"Lo fácil cae ligero
lo duro pesa mucho
el tiempo va volando ya que puede tiene que vola
cada uno en su luga
todo esta muy claro
tu origen te marca, tu eliges la charca
donde quieres remar"
Mala Rodriguez, Lo fácil cae ligero
terça-feira, 7 de julho de 2009
relendo
Há tempos, o Tiago deixava aqui um testamento de Miguel Torga sobre a complicada e não raras vezes desesperada relação entre o homem que escreve e as palavras que escreve.
Estendendo o ponto de vista:
"Jamais homem algum escreve o que desejaria escrever: a criação primitiva, que está sempre a acontecer quer se escreva, quer não, pertence ao fluxo primordial: não tem dimensões, nem forma, nem qualquer elemento de tempo.
(...)
Num mundo inteligentemente organizado não haveria necessidade de fazer a tentativa insensata de exprimir por palavras escritas acontecimentos tão miraculosos. Na verdade não faria sentido nenhum, porque, se os homens se detivessem a meditar no assunto, compreenderiam que ninguém se contentaria com a imitação, com o falso, se o real, o genuíno, estivesse ao seu alcance".
Henry Miller, Sexus
Estendendo o ponto de vista:
"Jamais homem algum escreve o que desejaria escrever: a criação primitiva, que está sempre a acontecer quer se escreva, quer não, pertence ao fluxo primordial: não tem dimensões, nem forma, nem qualquer elemento de tempo.
(...)
Num mundo inteligentemente organizado não haveria necessidade de fazer a tentativa insensata de exprimir por palavras escritas acontecimentos tão miraculosos. Na verdade não faria sentido nenhum, porque, se os homens se detivessem a meditar no assunto, compreenderiam que ninguém se contentaria com a imitação, com o falso, se o real, o genuíno, estivesse ao seu alcance".
Henry Miller, Sexus
segunda-feira, 6 de julho de 2009
domingo, 5 de julho de 2009
Eu Não das Palavras Troco A Ordem
Já não comprava um disco de hip-hop português que me desse tanto prazer de escutar como este. Aliás, já não comprava um disco de hip-hop português há bastante tempo.
Nerve é um caso sério. Nos poesia, na métrica cantada da mesma, nos beats, na interpretação pessoalíssima com que modela as palavras e as respirações (quase que o vemos a gesticular mesmo à nossa frente), no negrume cínico e imprevisível (e depressivo, claro) que é transversal a todas as faixas do disco.
Uma vez que antes de ir comprar o disco, já tinha ouvido umas coisas na net, fiquei excitadíssimo quando vi na capa "INCLUI LETRAS DAS MÚSICAS". Excitadíssimo e, ao mesmo tempo, surpreso, pela transparência de alguém que põe na sua música palavras tão cruas.
A surpresa desfez-se. As letras vêm redigidas num complexo sistema de inversão que as tornam ilegíveis. Mesmo agora que já descobri o caminho lógico para as decifrar, acabei por me decidir a não fazê-lo, quase num respeito íntimo para com o autor.
Para mais, esteticamente falando, Nerve salta anarquicamente o campo do hip-hop com uma produção não raras vezes puramente experimental, louca, desconcertante. Para trás e para a frente, dá voltas e voltas numa sonoridade eclética e estranha q.b., sem nunca cair, todavia, nos minimalismos chatos ou monótonos da música experimental mais frequente nos dias de hoje. É rap, é indie, é spoken word, é electrónica, é tudo isto mais os rasgos excêntricos de um jovem da minha idade (creio) com uma caneta endiabrada...
Este é um grande, grande disco e de impacto ainda desconhecido para a música portuguesa, arrisco eu.
"Nunca fales com estranhos!"
Não falo, está prometido!
(...)
Ei, eu sou estranho e ninguém quer falar comigo...
sexta-feira, 3 de julho de 2009
no meio de tanto absurdo
é bem capaz de aparecer alguma associação animal dizendo sentir-se ultrajada pelo "tratamento indigno e vexante" para com a classe taurina, bovina, suína e outros que tais.
Não era a primeira vez.
Não era a primeira vez.