A primeira flor chamar-se-á
Flor
em honra à mãe das flores,
sua Mãe.
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Timeless
Era capaz de ouvir este beat e este piano um dia inteiro. Um dia, dois dias, três, o que fosse... timeless.
Illa J - Timeless
"I spend so much time, just livin in a bubble
I just wanna lay back and stay out of trouble
I think it's time for me to break out the shell
And I can't be afraid to fail
I spend so much time outside my mind
That I can't tell if I'm in or outside my mind"
A propósito: o disco é o Yancey Boys (deste ano ainda), do Illa J, irmão do falecido J Dilla. Está no sangue...
Adenda: Correcção: o álbum Yancey Boys é de 2008 (e não de 2009).
Illa J - Timeless
"I spend so much time, just livin in a bubble
I just wanna lay back and stay out of trouble
I think it's time for me to break out the shell
And I can't be afraid to fail
I spend so much time outside my mind
That I can't tell if I'm in or outside my mind"
A propósito: o disco é o Yancey Boys (deste ano ainda), do Illa J, irmão do falecido J Dilla. Está no sangue...
Adenda: Correcção: o álbum Yancey Boys é de 2008 (e não de 2009).
terça-feira, 10 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
CLS
Só soube ontem que Claude Levi-Strauss faleceu. Atordoado aquando da sua leitura pela magnitude de Tristes Trópicos, e a propósito de outras ramas, escrevi um dia isto. E citei também isto, que volto a citar aqui como tributo ao homem que partiu. Poucos me terão atordoado - o termo é mesmo esse - como o fez Levi-Strauss (só Ortega y Gasset, provavelmente).
A etnografia traz-me uma satisfação intelectual: tal como a história, que une os extremos da história do mundo e da minha, assim também ela desvenda ao mesmo tempo a sua razão comum. Ao propor-me estudar o homem, ela liberta-me da dúvida, pois considera nele essas diferenças e modificações que têm sentido para todos os homens, com exclusão daqueles que, peculiares a uma única civilização, se dissolveriam se escolhessemos ficar de fora. Ela tranquiliza, por fim, esse apetite inquieto e destruidor de que falei, garantindo-me uma matéria praticamente inesgotável para a minha reflexão fornecida pela diversidade dos usos, dos costumes e das instituições. Ela reconcilia o meu carácter e a minha vida.
Claude Levi-Strauss, Tristes Trópicos
Quando transcrevi o excerto coloquei como título, como poderão ver pelo link, "comigo é o Direito...".
E embora eventualmente com outras matizes, continua a ser (e gosto de desconfiar que o será sempre?). Para bem do "meu carácter" e da "minha vida". O bom nisto é de nos ser dito por alguém, por outro: sabemos que a experiência pessoal é real, porque afinal não unicamente pessoal. Se dito (ou iluminado) como o faz Levi-Strauss, ainda melhor.
A etnografia traz-me uma satisfação intelectual: tal como a história, que une os extremos da história do mundo e da minha, assim também ela desvenda ao mesmo tempo a sua razão comum. Ao propor-me estudar o homem, ela liberta-me da dúvida, pois considera nele essas diferenças e modificações que têm sentido para todos os homens, com exclusão daqueles que, peculiares a uma única civilização, se dissolveriam se escolhessemos ficar de fora. Ela tranquiliza, por fim, esse apetite inquieto e destruidor de que falei, garantindo-me uma matéria praticamente inesgotável para a minha reflexão fornecida pela diversidade dos usos, dos costumes e das instituições. Ela reconcilia o meu carácter e a minha vida.
Claude Levi-Strauss, Tristes Trópicos
Quando transcrevi o excerto coloquei como título, como poderão ver pelo link, "comigo é o Direito...".
E embora eventualmente com outras matizes, continua a ser (e gosto de desconfiar que o será sempre?). Para bem do "meu carácter" e da "minha vida". O bom nisto é de nos ser dito por alguém, por outro: sabemos que a experiência pessoal é real, porque afinal não unicamente pessoal. Se dito (ou iluminado) como o faz Levi-Strauss, ainda melhor.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
(e que bom que assim é o) rito
Abrem-se as pernas. Tronco direito. Esticam-se os braços. Gémeos, abdominais, bíceps, tríceps, deltóides e outros que tais. Estirados.
Levantam-se e compõem os fatos. Fraldas para dentro, cinto religiosamente apertado (como é mesmo?, pergunta o mais novo e suspira secretamente o mais velho), peito para fora. Enfileiram-se na tira vermelha com rostos genuinamente sérios. Respiram. Joelho esquerdo, joelho direito. Dedo grande do pé direito sobre o dedo grande do pé esquerdo. Mãos na horizontal sobre os joelhos. Queixo para a frente. A polidez íntima de cada um materializa-se no círculo em que a mão direita repousa na esquerda, os polegares tocando-se.
Mokuso.
Os olhos fecham-se e cada um vai para bem longe. Não se exige nenhuma espiritualidade de ocasião nem tão-pouco reflexões do dia que finda. Os olhos fecham-se e cada um dá, não ao diabo, mas a si próprio, o que sabe. Se quiser. Se não quiser, também não há problema. O silêncio imprimido pela palavra é tudo o que lhes é dado. Façam ou pensem ou meditem ou ignorem o que quiserem. Esse tempo de silêncio é vosso, diz-lhes autoridade nenhuma no interior das suas cabeças.
Mate.
Os olhos abrem-se e voltam ao local de onde nunca saíram. Passou rápido, passou devagar, nunca o sabem. O silêncio não é mensurável quando o suor e a divagação inevitavelmente incipiente se misturam. E que bom que assim o é, pensam, desconfiando sem desconfiança de que sempre farão a pergunta a si próprios. E que bom que assim o é, repetem, admirados e satisfeitos.
Senseni-Rei.
Pausa.
Shomeni-Rei.
Pausa.
Rua daqui p'ra fora!
Levantam-se e compõem os fatos. Fraldas para dentro, cinto religiosamente apertado (como é mesmo?, pergunta o mais novo e suspira secretamente o mais velho), peito para fora. Enfileiram-se na tira vermelha com rostos genuinamente sérios. Respiram. Joelho esquerdo, joelho direito. Dedo grande do pé direito sobre o dedo grande do pé esquerdo. Mãos na horizontal sobre os joelhos. Queixo para a frente. A polidez íntima de cada um materializa-se no círculo em que a mão direita repousa na esquerda, os polegares tocando-se.
Mokuso.
Os olhos fecham-se e cada um vai para bem longe. Não se exige nenhuma espiritualidade de ocasião nem tão-pouco reflexões do dia que finda. Os olhos fecham-se e cada um dá, não ao diabo, mas a si próprio, o que sabe. Se quiser. Se não quiser, também não há problema. O silêncio imprimido pela palavra é tudo o que lhes é dado. Façam ou pensem ou meditem ou ignorem o que quiserem. Esse tempo de silêncio é vosso, diz-lhes autoridade nenhuma no interior das suas cabeças.
Mate.
Os olhos abrem-se e voltam ao local de onde nunca saíram. Passou rápido, passou devagar, nunca o sabem. O silêncio não é mensurável quando o suor e a divagação inevitavelmente incipiente se misturam. E que bom que assim o é, pensam, desconfiando sem desconfiança de que sempre farão a pergunta a si próprios. E que bom que assim o é, repetem, admirados e satisfeitos.
Senseni-Rei.
Pausa.
Shomeni-Rei.
Pausa.
Rua daqui p'ra fora!