A provar que entre duas músicas com o mesmo nome podemos encontrar uma terrível e uma líndissima (é só esperar 44 anos):
("I got a feeling", 1965, The Four Tops)
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
O azar do Ronaldo ainda está para chegar: vai ser quando o BES e companhia derem conta de que, na verdade, enfim, o rapaz, apesar de mediático, gera mais animosidade do que simpatia e, de chofre, lhe cortarem os anúncios e os cifrões a eles associados.
Vai continuar a ser bonito (diz que) e um grande jogador, mas menos rico. Nada que não o deixe dormir, por supuesto.
Vai continuar a ser bonito (diz que) e um grande jogador, mas menos rico. Nada que não o deixe dormir, por supuesto.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
este era Troy Davis
Li, há dias, que a Maria Filomena Mónica se recusava a viajar/fazer turismo para países onde os direitos humanos não fossem respeitados. Talvez isto faça bastante sentido e eu deva refrear a minha vontade de conhecer a América.
And how many times must cannonballs fly
Before they're forever banned?
(Blowin' in the wind, Bob Dylan)
Há um conjunto de pessoas cujo denonimador comum não vou revelar, por elegância e conveniência de ocasião (mas que a etnografia ou mesmo a caractereologia conhecem de gingeira, dada a sua propensão para comportamentos tribais perfeitamente identificados e repetitivos), cuja estupidez consegue ser tão grande, e ao mesmo tempo tão cómica, que me deixa desconcertado.
É o caso de uma jovem que, depois de anos sem me ver, confrontada com o facto de eu agora usar barba (as pessoas crescem e o corpo acompanha esse processo), ter deixado de frequentar os mesmos meios que ela e, enfim, ter seguido outros caminhos, me diz, às duas da manhã (depois de me cravar interesseiramente um cigarro): ya, porque, tipo, tu 'tás todo naquela onda dos chakras, né? ya, tipo, o meu pai também, 'tá muito nessa onda, tipo, cenas tipo zen e budismo...
Quando ouvi "chakras", só pensei, estupidamente, na Chaka Khan. Voltei à terra e respondi que não, e aproveitei para dar uma resposta muito curial, dizendo que acabara o curso há alguns meses, e que agora iria trabalhar e continuar a estudar. Penso que a sossegou, embora tenha perdido algum do entusiasmo, exótico e vagamente místico, que me dedicara até então. Vulgarizei-me, assim, num instante, e fomos os dois felizes para sempre.
É o caso de uma jovem que, depois de anos sem me ver, confrontada com o facto de eu agora usar barba (as pessoas crescem e o corpo acompanha esse processo), ter deixado de frequentar os mesmos meios que ela e, enfim, ter seguido outros caminhos, me diz, às duas da manhã (depois de me cravar interesseiramente um cigarro): ya, porque, tipo, tu 'tás todo naquela onda dos chakras, né? ya, tipo, o meu pai também, 'tá muito nessa onda, tipo, cenas tipo zen e budismo...
Quando ouvi "chakras", só pensei, estupidamente, na Chaka Khan. Voltei à terra e respondi que não, e aproveitei para dar uma resposta muito curial, dizendo que acabara o curso há alguns meses, e que agora iria trabalhar e continuar a estudar. Penso que a sossegou, embora tenha perdido algum do entusiasmo, exótico e vagamente místico, que me dedicara até então. Vulgarizei-me, assim, num instante, e fomos os dois felizes para sempre.
Depois de ver Mamma Roma (1962, Pier Paolo Pasolini), é incrível pensar na semelhança física entre Anna Magnani e Amy Winehouse: a silhueta, o cabelo (ainda que menos sofisticado, o de Magnani), e as expressões faciais, especialmente aquele sorriso generoso (a boca muito aberta, os dentes enfileirados), selvagem q.b., com tanto de miúda como de mulher (precocemente?) vivida.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
a cena toda
Retirado daqui:
"Os tempos mudaram drasticamente. Já não existem grupos de jovens que se juntam no isolamento de um quarto para, em conjunto, ouvirem um disco, desfrutando do momento colectivo da descoberta musical. Muito menos existe o culto da iconografia relacionada com os suportes dos CD (capas, contracapas, conteúdo informativo...).
O que existe agora é o consumo musical cada vez mais individualista e solipsista, ao ponto de vários jovens poderem estar na mesma sala ou no mesmo café a ouvir músicas diferentes, sem comunicação ou interacção. É mais democrático e acessível, é mais fashion e mais de acordo com as regras da cultura pop, mas neste fenómeno de fruição perdem-se vivências e perde-se o prazer da partilha em comum. É certo que para cada nova geração, surgem novas fórmulas de fruição musical. Até ao dia em que essas gerações só conheçam o mundo virtual onde a desmaterialização da música impera. Para o bem e para o mal".
"Os tempos mudaram drasticamente. Já não existem grupos de jovens que se juntam no isolamento de um quarto para, em conjunto, ouvirem um disco, desfrutando do momento colectivo da descoberta musical. Muito menos existe o culto da iconografia relacionada com os suportes dos CD (capas, contracapas, conteúdo informativo...).
O que existe agora é o consumo musical cada vez mais individualista e solipsista, ao ponto de vários jovens poderem estar na mesma sala ou no mesmo café a ouvir músicas diferentes, sem comunicação ou interacção. É mais democrático e acessível, é mais fashion e mais de acordo com as regras da cultura pop, mas neste fenómeno de fruição perdem-se vivências e perde-se o prazer da partilha em comum. É certo que para cada nova geração, surgem novas fórmulas de fruição musical. Até ao dia em que essas gerações só conheçam o mundo virtual onde a desmaterialização da música impera. Para o bem e para o mal".
e depois ainda dizem que somos nós
Falem 15 minutos com um especialista em consultadoria de comunicação e depois venham-me dizer se ainda acham que as pessoas de Direito falam muito mas "não dizem nada".
terça-feira, 20 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
acidentalmente up to date
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
afinidades
Hoje, enquanto aguardava pela minha vez numa fila de embrulho de presentes, vi um rapaz que andava comigo na escola, tinha eu 13, 14 anos. Era magríssimo, altíssimo, óculos finos encaixados numa cabeleira preta e, pormenor que retive de então, umas mãos grandes, de dedos longuíssimos, com os quais coçava os olhos quando não tinha nada para fazer (e também quando tinha). Calado, metido consigo mesmo, com ar destrambelhado, era tido por aquilo que hoje vulgarmente se chama de um nerd.
Hoje vi-o. Continua igualzinho, coçou o olho direito como antigamente. Não me reconheceu, ou preferiu não o fazer. Levava um filme do Tati (creio que o Meu Tio) na mão e, só por isso, senti-me mais perto dele do que quando passava não sei quantas horas numa sala com quatro paredes, cinco dias por semana.
Hoje vi-o. Continua igualzinho, coçou o olho direito como antigamente. Não me reconheceu, ou preferiu não o fazer. Levava um filme do Tati (creio que o Meu Tio) na mão e, só por isso, senti-me mais perto dele do que quando passava não sei quantas horas numa sala com quatro paredes, cinco dias por semana.
o elogio da imperfeição
Sempre me interroguei sobre aquelas apreciações em que os críticos elogiam, sublinham, canonizam a "imperfeição da obra", como se essas falhas, essas arestas por polir, emprestassem à obra um rosto mais humano (mais falível, et pour cause...) e, por isso, mais genial. No fundo, a ideia do génio, do sublime, como algo criado pelo homem e, portanto, imperfeitos como ele. Imortal, eterno, sim; mas terreno, temporal, abaixo da divindade.
O mistério inerente a essa adjectivação, tão cara à crítica cultural (literária, musical, ...), adensou-se-me agora que oiço o novo álbum de Gramatik. Ao ouvirmos Beatz & Pieces Vol. 1, depois de passarmos em revista todas as faixas, a sensação que nos fica é uma: a de perfeição. Tudo é harmónico, tudo é excitante.
Mas em que ficamos, agora? Por ser perfeita e, portanto, supomos, menos humana (mas como, se a mão criadora é humana?!), a obra não é genial? Ou é menos genial que a obra imperfeita?
Ou aceitamos que não há obras perfeitas (e eu estarei contra!), ou, então, o elogio à imperfeição corre o risco de se esvaziar de sentido.
O mistério inerente a essa adjectivação, tão cara à crítica cultural (literária, musical, ...), adensou-se-me agora que oiço o novo álbum de Gramatik. Ao ouvirmos Beatz & Pieces Vol. 1, depois de passarmos em revista todas as faixas, a sensação que nos fica é uma: a de perfeição. Tudo é harmónico, tudo é excitante.
Mas em que ficamos, agora? Por ser perfeita e, portanto, supomos, menos humana (mas como, se a mão criadora é humana?!), a obra não é genial? Ou é menos genial que a obra imperfeita?
Ou aceitamos que não há obras perfeitas (e eu estarei contra!), ou, então, o elogio à imperfeição corre o risco de se esvaziar de sentido.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
watch out now
Convém lembrar que esse beat fantástico sobre o qual a Jennifer Lopez cantou ao mundo "I'm still Jennifer from the block" é, na verdade, autoria dos Beatnuts, reis que nunca serão depostos. E, já se sabe, a "cópia" nunca iguala o original. E agora bounce to this, please.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
o espírito
"«Dos bezerros faz-se o sebo, das pessoas dinheiro», eis como é caracterizada nesta «filosofia da avareza» o ideal do homem honrado e digno de crédito; e, sobretudo, a ideia do dever do indivíduo para com o interesse no aumento do capital, tomado como um objectivo em si. Na realidade, o que aqui é defendido não é uma simples técnica de vida, mas uma «ética» particular, cujo não cumprimento é considerado não apenas loucura, mas uma espécie de falta ao dever. É sobretudo este aspecto que caracteriza a natureza da questão [da especificidade do «espírito do capitalismo»]. Não se trata aqui apenas de lições sobre «esperteza para o negócio» - o que, de resto, é frequente encontrar - mas de um ethos que se expressa, e que nos interessa precisamente nesta qualidade. Perante um associado que se havia retirado dos negócios e que o aconselhou a fazer outro tanto, dado já ter ganho o suficiente e querer deixar que outros ganhassem também, Jakob Fugger classificou isso de «pusilânime», retorquindo que «ele (Fugger) tinha uma perspectiva totalmente diferente; queria ganhar enquanto pudesse». Assim, o «espírito» desta posição difere claramente do de [Benjamim] Franklin: o que ali é considerado expressão de audácia comercial e de uma tendência pessoal, moralmente indiferente, é aqui tomado como carácter de uma máxima de vida de cunho ético. É neste sentido específico que é aqui utilizado o conceito de «espírito do capitalismo»".
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
sábado, 10 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
YOU
"You", single do álbum Cats & Dogs, de Evidence, com lançamento previsto para o final deste mês.
Juntar um rapper como o Evidence e um produtor como o Premier dá nisto... DOPE!
Depois, repare-se, há outra coisa: o clip não é, de modo algum - exceptuando a fragmentação em boneco animado do Evidence -, original no panorama dos telediscos do hip-hop (a câmara filmando o rosto do rapper enquanto ele rappa e deambula por uma paisagem urbana). Mas, e isto é que é empolgante, com uma música tão boa, essa vulgaridade esbate-se e a nossa atenção redobra: é como se estivéssemos a ver um clip desses pela pela primeira vez, quais A Tribe Called Quest.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Não sou, de modo algum, um purista do plano fixo longo. Mas digam-me: para que precisava esta cena de movimentos de câmara? Que maior impacto podem ter estas palavras e esta mulher (ali, ao canto, como que nos deixando a porta entreaberta) em nós se não filmadas desta forma?
La Maman et la Putain (1973), Jean Eustache.
Les amants de Paris couchent sur ma chanson.
A Paris, les amants s'aiment à leur façon.
Les refrains que je leur dis,
C'est plus beau que les beaux jours.
Ça fait des tas d'printemps et l'printemps fait l'amour.
Mon couplet s'est perdu
Sur les bords d'un jardin.
On ne me l'a jamais rendu
Et pourtant, je sais bien
Que les amants de Paris m'ont volé mes chansons.
A Paris, les amants ont de drôles de façons...
Les amants de Paris se font à Robinson
Quand on marque des points à coups d'accordéon.
Les amants de Paris vont changer de saison
En traînant par la main mon p'tit brin de chanson.
'y a plein d'or, plein de lilas
Et des yeux pour les voir.
D'habitude c'est comme ça
Que commencement les histoires.
Les amants de Paris se font à Robinson.
A Paris, les amants ont de drôles de façons.
J'ai la chaîne d'amour au bout de mes deux mains.
'y a des millions d'amants et je n'ai qu'un refrain.
On y voit tout autour les gars du monde entier
Qui donneraient bien l'printemps pour venir s'aligner.
Pour eux c'est pas beaucoup
Car des beaux mois de mai,
J'en ai collé partout
Dans leurs calendriers...
Les amants de Paris ont usé mes chansons.
A Paris, les amants s'aiment à leur façon.
Donnez-moi des chansons
Pour qu'on s'aime à Paris...
"Les Amants de Paris", Edith Piaf.
La Maman et la Putain (1973), Jean Eustache.
Les amants de Paris couchent sur ma chanson.
A Paris, les amants s'aiment à leur façon.
Les refrains que je leur dis,
C'est plus beau que les beaux jours.
Ça fait des tas d'printemps et l'printemps fait l'amour.
Mon couplet s'est perdu
Sur les bords d'un jardin.
On ne me l'a jamais rendu
Et pourtant, je sais bien
Que les amants de Paris m'ont volé mes chansons.
A Paris, les amants ont de drôles de façons...
Les amants de Paris se font à Robinson
Quand on marque des points à coups d'accordéon.
Les amants de Paris vont changer de saison
En traînant par la main mon p'tit brin de chanson.
'y a plein d'or, plein de lilas
Et des yeux pour les voir.
D'habitude c'est comme ça
Que commencement les histoires.
Les amants de Paris se font à Robinson.
A Paris, les amants ont de drôles de façons.
J'ai la chaîne d'amour au bout de mes deux mains.
'y a des millions d'amants et je n'ai qu'un refrain.
On y voit tout autour les gars du monde entier
Qui donneraient bien l'printemps pour venir s'aligner.
Pour eux c'est pas beaucoup
Car des beaux mois de mai,
J'en ai collé partout
Dans leurs calendriers...
Les amants de Paris ont usé mes chansons.
A Paris, les amants s'aiment à leur façon.
Donnez-moi des chansons
Pour qu'on s'aime à Paris...
"Les Amants de Paris", Edith Piaf.
não é por mal
À segunda vez que oiço a palavra "transcendência" ser utilizada por motivos estéreis - como por exemplo: "então, não é para si nenhuma transcendência deslocar-se até ao nosso escritório todos os dias, certo?" - numa entrevista de emprego, começo a perder a vontade de ficar a trabalhar naquele local.
Mas sim, eu sei, ai a crise, ai a crise.
Mas sim, eu sei, ai a crise, ai a crise.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
António Guerreiro, «Ao pé da letra», Expresso-Atual, Portugal, 20.8.2011.
"«Ele foi para a rua, viu o que os outros estavam a fazer e juntou-se a eles. Cometeu um sério erro e reconhece-o»: assim disse a mãe de um miúdo de treze anos apanhado pela polícia a saquear lojas nas ruas de Londres. Sobre o que aí se passou dividiram-se as interpretações entre os que nem querem ouvir falar de explicações sociológicas (nem de “sociologia”, tout court, porque seguem à letra a boutade de Thatcher de que a sociedade não existe) e os que viram logo a revolta social e a luta de classes a desaguar nos templos londrinos do consumo. Ora, o que se passou foi um facto social, mas para compreendê-lo temos de recorrer à “psicologia social” de um Gabriel Tarde. Contemporâneo do nascimento da grande metrópole moderna e do fenómeno das multidões, Tarde definiu em 1884 a sociedade como “uma coleção de seres que se imitam uns aos outros”. À questão de saber o que é que está na base deste fenómeno de imitação de um indivíduo por outro e depois por uma multidão, responde Tarde: esse fenómeno releva da sugestão, que é um forma de hipnotismo: o social é um estado hipnótico.
Não ter senão ideias sugeridas e julgar que elas são espontâneas – eis a ilusão do sonâmbulo assim como do homem social. Segundo Tarde, é a imitação que leva à propagação dos comportamentos sociais. E a cidade é o domínio próprio e ilimitado do social: numa grande metrópole nada nem ninguém é insociável, dirá mais tarde Durkheim. Tarde explicou assim como se formavam as multidões e como estas apresentam algo de animal, sofrem de alucinações e de ausência absoluta de moderação e de tolerância. As multidões, disse este sociólogo francês, não são apenas crédulas, são loucas. Lendo os testemunhos de muitos jovens saqueadores, sabendo que filhos de boas famílias seguiram a multidão delinquente, percebemos que é preciso reler a definição de sociedade de Gabriel Tarde".
"«Ele foi para a rua, viu o que os outros estavam a fazer e juntou-se a eles. Cometeu um sério erro e reconhece-o»: assim disse a mãe de um miúdo de treze anos apanhado pela polícia a saquear lojas nas ruas de Londres. Sobre o que aí se passou dividiram-se as interpretações entre os que nem querem ouvir falar de explicações sociológicas (nem de “sociologia”, tout court, porque seguem à letra a boutade de Thatcher de que a sociedade não existe) e os que viram logo a revolta social e a luta de classes a desaguar nos templos londrinos do consumo. Ora, o que se passou foi um facto social, mas para compreendê-lo temos de recorrer à “psicologia social” de um Gabriel Tarde. Contemporâneo do nascimento da grande metrópole moderna e do fenómeno das multidões, Tarde definiu em 1884 a sociedade como “uma coleção de seres que se imitam uns aos outros”. À questão de saber o que é que está na base deste fenómeno de imitação de um indivíduo por outro e depois por uma multidão, responde Tarde: esse fenómeno releva da sugestão, que é um forma de hipnotismo: o social é um estado hipnótico.
Não ter senão ideias sugeridas e julgar que elas são espontâneas – eis a ilusão do sonâmbulo assim como do homem social. Segundo Tarde, é a imitação que leva à propagação dos comportamentos sociais. E a cidade é o domínio próprio e ilimitado do social: numa grande metrópole nada nem ninguém é insociável, dirá mais tarde Durkheim. Tarde explicou assim como se formavam as multidões e como estas apresentam algo de animal, sofrem de alucinações e de ausência absoluta de moderação e de tolerância. As multidões, disse este sociólogo francês, não são apenas crédulas, são loucas. Lendo os testemunhos de muitos jovens saqueadores, sabendo que filhos de boas famílias seguiram a multidão delinquente, percebemos que é preciso reler a definição de sociedade de Gabriel Tarde".