Através de um convite que muito me honra, passei a ser um dos Colaboradores daquele que é, provavelmente, o melhor site, no país, a divulgar e a pensar o cinema, fruto da reunião de algumas das melhores cabeças a escrever sobre o assunto. Críticas, ensaios, delírios cinéfilos e outros que tais são tudo coisas que podem encontrar, com elevadíssima qualidade, no À Pala de Walsh (que já por aqui referenciei amiúde - ali e acolá, por exemplo). Por contingências de tempo, não publicarei, no imediato, nenhum artigo, mas, de futuro, sempre que o fizer, farei a devida ligação walshiana a partir do blog.
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
ideias
Por estes dias, em que vivemos sob a ditadura do "like" (cujo reflexo mais imediato é este), pelo simples facto de se ter ideias próprias sobre determinado assunto, corre-se o risco de ser chamado de alguém "com ideias fixas" (um "teimoso", "casmurro"). Confusão que não é inocente, antes reflectindo o modus operandi daqueles que desprezam, têm alergia, à actividade de pensar. Enfim, os mesmos que, inconscientemente ou não, atribuem carácter normativo ao gosto da maioria (à qual pertencem, et pour cause), como se a estatística quantitativa fosse padrão de validade de coisa alguma.
sábado, 25 de maio de 2013
Tempelhof
A Noite Sem Fim (1962/3), Will Tremper.
"Tempelhof Airport appear as the epitome of metropolitan life, with its grand halls, modern design, and big-city atmosphere. An aircraft's graceful landing, the opening of the plane door, the descent from the gangway to the tarmac, the flashing cameras and cheering fans – when set against the austerity of West Berlin daily life, arrivals at Tempelhof helped to revive the long-lost “glamour” of a world city.
What most captured the public's attention were the prominent film stars and directors who travelled to Berlin to take part in the annual Berlinale festival. With the motto, “Showcase of the Free World”, the West Berlin film festival was founded in 1951 on the initiative of and with the support of U.S. Allied Forces, and from 1954 on had reached a status approaching that of the Cannes or Venice film festivals. In the 1950s, summer festival days implanted an image of the city with jubilant crowds at the airport, at hotels and at performance venues, and of parades and film billboards. The photos of stars arriving at Tempelhof in those years are like a Who's Who of the Western film world. The same was true for the leading lights of the fashion world. (...) These visits, as well as those from top rock and pop music acts, such as the Rolling Stones when they played at the Waldbühne in 1965, have helped preserve a picture of the airport in people's memories to this day.
And finally, Tempelhof served as a cinematic backdrop of the Cold War. Billy Wilder's film, “A Foreign Affair” (1948), which begins with the arrival of a young congressman at Tempelhof Airport, as well as Wilder's Berlin satire, “One, Two, Three” (1961), provided images of “Berlin's Gateway to the World” for all the world to see. Will Tremper's film, “The Endless Night” (1962), made the architecture of the airport into a timeless, existential transit-room, the real-life model for which West Berliners took leave of only reluctantly in September 1975".
Daqui (é verdade, nunca pensei transcrever excertos do sítio oficial de um aeroporto).
segunda-feira, 20 de maio de 2013
What lies beyond the beach?
"(...) there is a suprising deficit of actual carnality. Spring Breakers is mostly about sexual display. (...) But apart from Archie's blowjob threesome [embora sem relevância para aqui, trata-se de uma gralha do crítico: não é um blowjob, mas uma cena de sexo], there's just one actual sex act. (Gomez, notably, has exited the storyline by this point. Clearly she was only prepared to go so far in an R-rated direction: she's not involved in the robbery, is never shown taking drugs or having sex doesn't even swear much.)
As depicted in Korine's film, the participants in Spring Break act out an idea of unbridled freedom and lascivious irresponsability that's a convention-bound and repetitive as the regular, regulated life of which it's a carnivalesque inversion. Is that the message?
(...)
Watching Spring Breakers play out to its morally unsatisfactory (in)conclusion, I thought finally of Marcuse's concept of "repressive desublimation". Way back in the 1960's, the Frankfurt School associate grasped that capitalism had an interest in creating wanton consumers, insatiable and impulsive. External constraints on our appetites for sex and destruction still exist (police, law, social services etc), but they are contradicted and undermined by a consumer capitalism that erodes internal restraints like guilt and inhibition (...). Stimulating desire and narcissism, the economy's interests collide with those of other political structures like church, education and family, all of which aim to channel energy into long-term projects ('heaven' being the longest term of them all). Capitalism and advertising, as well as their bedfellow pop culture, have harnessed Romanticism not for repressive ends (unrepression is precisely the modus operandi) but for the dissipation of energy and the displacement of anger from any kind of political articulation.
When a pop star as bland as Kate Perry can sing, in her number-one hit 'TGIF', about binge-drinking past oblivion (...) and ménage-à-trois romps, it seems pretty clear that excess is normative and 'breaking loose' just another set of chains. Likewise, of Spring Break and Spring Breakers, I found myself wondering: if this is the beach underneath the pavement, what, if anything, lies beyond the beach? Pop culture in its present state has exahausted its point; its incitements to poor impulse control and attention-deficit disorder no longer threaten anything".
Simon Reynolds, "You only live once", in Sight & Sound, May 2013, Vol, 23, Issue 5, p. 30 e 31.
Joy
"I'm Good" (com BJ The Chicaco Kid e Punch), álbum Setbacks (2011). Schoolboy Q.
"Had a
little daughter, glad it ain't a boy
Knew
she'd bring me joy, so I named her Joy
Kiss her
on her head, then I kiss her lips
Then I
kiss her cheek, lay her down to sleep"
domingo, 19 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
Jurassic 5
Os festivais de Verão têm destas coisas (ou virtudes, porque não dizê-lo): volta e meia, lembram-se de trazer figuras da música cuja probabilidade de vermos ao vivo era, até esse momento, praticamente nula (ainda que nenhum critério inteligível pareça presidir a essas escolhas).
Desta feita, são os Jurassic 5, grupo histórico do hip-hop norte-americano, que terão o beneplácito do Optimus Alive, no dia 13 de Julho. Oportunidade, portanto, para presenciar um dos grupos mais marcantes do hip-hop do fim da década de 90, sobretudo das franjas mais "alternativas" de Los Angeles (hoje, cairiam, provavelmente, sob o rótulo "indie"), o que não deixa de ser curioso, tendo em conta as suas afinidades com grupos como os De La Soul, A Tribe Called Quest ou os Jungle Brothers, todos eles da cena nova-iorquina - east coast, portanto. Com efeito, no panorama norte-americano, sempre se falou numa certa oposição entre o hip-hop da costa oeste (com Los Angeles como epicentro), politicamente descomprometido e centrado em temas festivos ou apologéticos de um certo novo-riquismo gangster, e o da costa este (Nova Iorque), fortemente político e auto-reflexivo. Como em tudo na vida, este vis-à-vis é, muitas das vezes, na prática, mais fictício do que outra coisa, e os Jurassic 5 são a prova viva disso mesmo, baralhando as contas dos mais puristas (já para não falar, por exemplo, no sub-género do southern hip-hop, que fez de cidades como Miami ou Memphis a bandeira de uma "terceira via" frente a essa bipolaridade).
Marcado por beats mesclados com sonoridades jazz e soul, o hip-hop dos Jurassic 5 é completado pela bagagem funky herdada dos clássicos (Parliament, Funkadelic, James Brown), que empresta o groove para paragens mais dançantes. A isto se alia um discurso positivo, introspectivo e frequentemente humorístico - sem esquecer as derivas mais políticas - que fazem do grupo californiano um dos mais idiossincráticos do hip-hop norte-americano.
13 de Julho constitui, assim, uma golden chance que, muito provavelmente, não se repetirá. Mas... what's golden?
"What's Golden", álbum Power in Numbers (2002). Jurassic 5.
domingo, 12 de maio de 2013
modinhas
Depois da moda que foi andarem todos a encher as bocas com "narrativa" e "paradigma" (pobre Kuhn), a moda actual é dizer que está na moda dizer "narrativa" e "paradigma". O mundo, que sempre foi um lugar para baboseiras, transforma-se, vezes demais, num lugar profundamente entediante e fútil.
Neste amontoado de inanidades, reservo-me a igual dignidade e pergunto: estarei, com isto, a iniciar uma terceira fase vanguardista (dizendo que está na moda dizer que está na moda dizer "narrativa" e "paradigma")?
Neste amontoado de inanidades, reservo-me a igual dignidade e pergunto: estarei, com isto, a iniciar uma terceira fase vanguardista (dizendo que está na moda dizer que está na moda dizer "narrativa" e "paradigma")?
sábado, 11 de maio de 2013
boyz n the hood
"Say Wassup", álbum Follow Me Home (2011), Jay Rock. O álbum de hip-hop simultaneamente mais street (a crueza do ghetto sem filtros) e blues (donde é que eles vieram, afinal, senão da rua?) desde o tempo do Tupac.
Kendrick Lamar, Ab-Soul, Jay Rock e Schoolboy Q: o vídeo definitivo dos miúdos lá do bairro.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
la fille de nulle part
A Rapariga de Parte Nenhuma (2012), Jean-Claude Brisseau.
A Mulher Que Viveu Duas Vezes (1958), Alfred Hitchcock.
"O velho solitário acolhe-a, com reserva primeiro, com genuína afecção depois de algum tempo. Ela desafia-o (como se, jogando com as armas femininas, “desafiasse” também o erotismo da trilogia anterior), abandona-o, depois volta. Começam os fantasmas. Brisseau vê nela a recordação da mulher, morta vai para 29 anos. Uma pequena gota hitchcockiana de sabor a Vertigo começa a insinuar-se - será esta rapariga a “reencarnação” dessa mulher?" Na mouche.