Coincidência ou não, deixaram de ser o centro do mundo um do outro a partir do momento em que passaram a ter o mundo no telemóvel. Abjuraram, então, a tecnologia, mas já foram tarde.
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
it's the melody, stupid
«"I think it's weird if you hear a song and the artist isn't incorporating melody these days", Drake says (...). Drake continues: I understand who the greatest in the world are, at this my time in my life. I know about Bob Marley. I know about the Marvin Gayes, Jimy Hendrix, the Nirvanas. I'm aware of music. Hip-Hop always just seemed so different", explains Drizzy, who explains how rap and its fickle fans have been overly critical about anyone who streches the boundaries. (...)
(...) Melody and sing-songy rap hooks date all the way back to rap's early days. Songs like Grandmaster Flash's "White Lines" and Kurtis Blow's "Basketball" incorporated catchy melodic choruses to help move rap to the top of the charts. (...)
Singing in rap, however, has historically been met with some criticism. (...) But a study of rap will show hit-making MCs getting their R&B on every chance they get. (...) More ofter than not, rappers are singing their rhymes, or all-around just singing. (...)
Even the best of them [outros rappers] can afford to pay more attention to Drake's cadence and tonal progression in his verses. It's called songwritting. It's about more than just a rap. It envolves flow, one of the most underrated qualities in the MC argument.
Aside from the hooks on his records, Drake lends an interesting thought to the rap music fabric: the ability to melodically deliver a rhyme with each bar in a way that is musically sound».
Kim Osorio, "The Best of Both Worlds" (entrevista com Drake), in The Source, #249, November 2011, pp. 57-58.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
da sombra
No último artigo que escrevi (acolá) para o À pala de Walsh, sobre o filme Fruta Louca (1956, de Kô Nakahira), procurei focar um aspecto que, sob um prisma estético, se revelou revolucionário para toda a filmografia da Nuberu Bagu japonesa: o clareamento programático da fotografia. A propósito disto, referi-me a Jun’ichirō Tanizaki, para quem - e cito - "toda a estética japonesa se superiorizaria à estética ocidental por via, justamente, do predomínio da sombra na composição, de harmonia com esta visão das coisas se esgrimindo que o belo inerente a um determinado objecto se obtinha sempre por contraste com a sombra, sendo essa candência que conferiria valor estético ao objecto".
É precisamente sobre isto, sobre o Elogio da Somba e Tanizaki, que incide o último artigo do António Pinto Ribeiro para o ipsílon de 25 de Outubro, p. 39. Bom proveito.
domingo, 27 de outubro de 2013
Muitas vezes, a passagem do tempo mede-se nos pormenores mais comezinhos do quotidiano. Com o calor do Verão, antes de adormecer, vira-se o lado da almofada no qual, até aí, apoiámos a cabeça enquanto lemos. Uma última sensação de frescura antes do sono. No Inverno, pelo contrário, mantemos a almofada virada do mesmo lado, quente e amolecido, para fazer frente ao frio.
Também há outros quentes e outros frios, os das alegrias e das tristezas, mas nisso o tempo não corre. Fixa-os, congela-os num sítio próprio, como compassos circunscritos. É a banalidade do quotidiano que faz o tempo correr, para o bem e para o mal.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
we still pump Biggie
"Sing Like Bilal" (c/ Joell Ortiz), álbum DJ Premier Presents - Get Used To Us (2010). DJ Premier.
"New rap is cool but we still pump BIGGIE!"
domingo, 13 de outubro de 2013
from time
"From time" (c/ Jhené Aiko), álbum Nothing Was The Same (2013). Drake.
"I've been dealing with my
dad, speakin' of lack of patience
Just me and my old man
gettin' back to basics
We've been talkin' 'bout the
future and time that we wasted
When he put that bottle
down, girl that nigga's amazin'
Well, fuck it, we had a
couple Coronas
We might have rolled a white
paper, just somethin' to hold us
We even talked about you and
our couple of moments
He said we should hash it
out like a couple of grown ups
You a flower child,
beautiful child, I'm in your zone
Lookin' like you came from
the 70's on your own
My mother is 66 and her
favorite line to hit me with is
Who the fuck wants to be 70
and alone?
You don't even know what you
want from love anymore
I search for somethin' I'm
missing and disappear when I'm bored
But girl, what qualities was
I lookin' for before?
Who you settlin' for? Who
better for you than the boy, huh?"
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
estão à espera de quê?
Nothing Was The Same (2013), Drake.
É, desde já, um dos álbuns do ano: obra praticamente perfeita (retirem-lhe "Hold On, We're Going Home", faixa metida a martelo para tocar no club, e uma coisinha ou outra) onde, além de ecoar o melhor do 808's and Heartbreak (K. West, 2008) e do Channel Orange (F. Ocean, 2012), predomina o talento letrista (não só no "conteúdo" do que é dito, mas, sobretudo, no wordplay com que é dito) de um tipo demasiado aparatoso para não ser julgado pela capa. Acontece aos melhores, Drake, live with that.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Walsh #3 - Crítica "Fruta Louca" (Raridades)
Fruta Louca (1956), de Kô Nakahira.
O meu último artigo para o À pala de Walsh debruça-se sobre o filme Fruta Louca (1956), de Kô Nakahira, e está já disponível para leitura aqui ao lado.
Filme pouco visto e lembrado (daí a sua inclusão na rubrica Raridades) que, a despeito do retrato de uma geração de jovens japoneses idiossincrática (a geração Tayozoku), foi preponderante para toda uma nova forma de fazer e pensar o cinema japonês - a Nuberu Bagu, "vaga" com afinidades com as outras (desde logo a francesa) que, pelos anos 60, varreram o cinema um pouco por todo o globo.
Num dos primeiros planos do filme (um plano americano), Haruji (Masahiko Tsugawa) é filmado, de frente, conduzindo uma lancha: é um rosto desorientado e perturbado o que vemos, próprio de quem – saberemos mais tarde – procura alguém, mas, sobretudo, procura algo: um rumo, um caminho, que, metonimicamente, são os que toda uma geração de jovens japoneses, a bem dizer, perseguia à época. Desse plano americano (que, gradual e claustrofobicamente, se convola num grande plano, espécie de aprisionamento psicológico progressivo da personagem, imerso na sua obsessão) saberemos, também mais adiante, pertencer à sequência final do filme: ou seja, o filme abre e fecha exactamente do mesmo modo, sintoma de que algo de errado perpassa esta geração, no sentido de que aquela perturbação não fica “resolvida” no filme, antes andando em círculo, sem saída. É a utilização da circularidade como factor indiciário da obsessão ou paranóia, sugestão que se repete, “plasticamente”, no final do filme, na cena (de um silêncio aterrorizante) em que Haruji descreve repetidas voltas em torno do barco onde se encontram Eri e o seu irmão, antes do acto final. Foi, assim, com essas voltas infernais, doentias, que Kurutta kajitsu abriu (escancarou…) a porta a pelo menos três dos temas-chave da revolução da Nuberu Bagu, da qual foi um prenúncio: o desejo, a obsessão, a morte.
(Excerto)
(Excerto)
Soweto Kinch
Senhoras e Senhores, o estupendo Soweto Kinch - de quem neste local entretanto tornado ermo falei em 2008 (!) - toca, esta sexta-feira, na Casa da Música. Go with the flow:
domingo, 6 de outubro de 2013
os suspeitos do costume
O Cineclube FDUP voltou e não fez a coisa por menos: ele é Lubitsch, ele é Dreyer, Pabst, etc.. Nem é bom pensar. Confiram por vocês mesmos - right there.
o último grande junkie
"O Último Grande Junkie" (produção de Kilú), álbum Coisas de 1 Porco (2013). Beware Jack.
Coisas de 1 Porco é uma das melhores coisas que aconteceu nos últimos tempos ao hip-hop português - "fresh como o Prince em Bel-Air!", como se ouve na faixa acima. Por falta de tempo, não cheguei a escrever sobre o álbum, mas fica agora um cheirinho. Download gratuito ali.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
o princípio da ocupação
As Amigas (1955), Michelangelo Antonioni.
Repare-se na sombra (de resignação, de conformismo, do "pragmatismo triste" - feliz malgré tout) que pende sobre a Eleonora R. Drago.