Parece-me uma síntese bem burilada. There are only two kinds of woman: the one you love, the one you wish for.
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Conversas à Pala no Porto, 26 Fevereiro: Cineclubismo(s)
Cartaz: Sara Campino
Depois de Satyajit Ray e do Porto Post Doc, a terceira Conversa à Pala terá como tema o(s) Cineclubismo(s) e suas expressões, para o que contaremos com a presença de José António Cunha (Cineclube do Porto), Vítor Ribeiro (Cineclube de Joane - Famalicão) e Carlos Mesquita (Cineclube de Guimarães).
A entrada, como não podia deixar de ser, é à pala. Até lá.
Walsh #24 Crítica "The Stranger" (Noutras Salas)
O Cineclube Ao Norte, de Viana do Castelo, exibiu ontem The Stranger (1946), um excelente noir mas um dos filmes menos vistos e comentados de Orson Welles, sobre o qual foi publicada a minha crítica no À pala de Walsh. Para ler aqui (clicar).
"(...) quem é, afinal, o stranger do filme? Por aqui tropeçamos no primeiro – e já tristemente tradicional – equívoco: incrivelmente, a tradução portuguesa do título é “O Estrangeiro”, o que, embora não sendo um atentado à literalidade da língua inglesa (stranger tanto serve “estranho” como “estrangeiro”), fere a deliciosa polissemia do termo no original. Melhor, então, “O Estranho” – que tanto pode ser Franz Kindler (o próprio Welles, em mais um papel demoníaco), por ser (também) um estrangeiro na América mas, essencialmente, por não ser quem todos julgam que é (o Charles Rankin por que se faz passar); como pode ser o nazi Konrad Meinike, cuja libertação e chegada a um vilarejo (Harper) do interior da América despoleta toda a acção do filme; mas pode, ainda, ser Wilson [Edward G. Robinson, num papel aparentado ao do detective de Double Indemnity (1944, Pagos a Dobrar)], o membro da Allied War Crimes Commission que, uma vez em Harper, coloca a cidade em polvorosa (embora com bons propósitos)".
(Excerto)
sábado, 14 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
4:44 last day on earth
Saí para correr. Não sei porquê, já que há muito não corro. Subi a avenida. Seriam umas duas, três da manhã, dia da semana, não se via vivalma. A noite estava estranhamente calma e quente, com uma particularidade: não havia iluminação alguma, nem dos candeeiros de rua, nem das casas, nem das publicidades dos prédios. Nada. Apesar da hora, não era, ainda, absolutamente noite - quer dizer, era, o escuro é que não era absoluto. Olhei pela avenida abaixo e uma fresta de luz ainda resistia. Embora a visse deste ângulo, parecia-me estranhamente próxima, como um desenho de uma criança, um amarelo torrado gigante por cima de mim contrariando a escala dos espaços. Progressiva mas rapidamente, como acontece nos pores-do-sol, a luz desapareceu, como um pano com que alguém, com uma mão e de uma assentada, cobre um objecto. Breu. O mundo tinha acabado. E agora? Agora que o mundo acabou. Alguém me acenou do outro lado da rua, um homem negro que parecia à vontade com o fenómeno e que me convidou para subir a sua casa. Não me recordo do resto.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Walsh #23 As nossas fauxtografias/Nijûshi no hitomi (Sopa de Planos)
A Sopa de Planos de Janeiro, ainda que atrasada, é saborosa como de costume. Para provar ali ao lado (clicar). O meu contributo:
É uma fotografia da e de escola. A clássica fotografia que a turma, com a respectiva Professora, tira para a posteridade, testemunho de um tempo em que meninos e meninas, entretanto adultos e separados pela vida, aprenderam as primeiras letras (caracteres, no caso), as primeiras contas, enfrentaram as primeiras inseguranças perante o outro, enfim, sentiram, pela primeiríssima vez, uma autoridade (e, espera-se, um aconchego) que não a familiar. É, fatalmente, mais do que um registo fotográfico, um registo de vida, no sentido em que se trata de uma fotografia-despedida, algo a que os alvos da câmara (fotográfica e, aqui, também cinematográfica), embora disso tendo uma ligeira ideia, não atribuem grande importância (com excepção da Professora), porque, afinal de contas, o “futuro” é a próxima brincadeira ali ao lado e a nostalgia não existe para quem o “passado” é meia dúzia de anos de que, sejamos crianças ou adultos, pouquíssima ou nenhuma memória temos. Trata-se de uma fotografia com um propósito muito bem demarcado, se bem que, em rigor, seja esse propósito de toda a fotografia, por mais descomprometida e desprendida que se pretenda (por mais “selfieana”, já agora, que se pretenda): fixar o tempo, “um” tempo, para sempre, contrariar o seu inexorável percurso, afirmar: “um dia, foi assim”. Neste caso, com a particularidade, digamos “idealista”, de fixar a infância, tempo de pureza e inocência – uma fotografia que, em qualquer momento da nossa vida, sempre poderemos retirar de uma gaveta, colocar em cima da mesa e, melancolicamente, desabafar: “lembras-te de quando éramos crianças?…”. Em Nijûshi no hitomi (Twenty-Four Eyes, 1954) de Keisuke Kinishita, porém, a fotografia-despedida promove não só a despedida destes meninos, mas uma bem maior: a despedida do Japão, de um certo Japão, outra forma de assinalar a sensação do “fim de um tempo”, em breve substituído pela guerra e, depois, pela aculturação americana. Contra o esquecimento, a memória, por si só, pode ser escorregadia. Daí a fotografia: lembras-te de quando éramos crianças?