segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crítica - "O Ornitólogo"



A minha crítica a O Ornitólogo, o último filme de João Pedro Rodrigues, já pode ser lida no À pala de Walsh (clicar). Aproveitem, o filme ainda está em sala.

"O tema da metamorfose, eixo central da sua obra desde o estrondoso O Fantasma, é novamente posto em cena no seu último filme, aqui ao ponto literal de, efectivamente, se dar uma transformação (já não, portanto, apenas como metáfora), uma milagrosa “mudança de pele”, no caso, de um homem em carne e osso que se volve em santo (a segunda convocação do padroeiro de Lisboa na obra de JPR depois de Manhã de Santo António, 2012). E metamorfose, também, ao ponto extremo de esta veicular uma certa dimensão meta-cinematográfica, no sentido em que envolve o realizador, JPR ele mesmo, nesse processo transformativo (...)".

(Excerto)


domingo, 30 de outubro de 2016

domação



(O Touro Enraivecido, 1980, Martin Scorsese)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Artes Entre As Letras #14 - Crítica de cinema



O último número do Artes Entre As Letras saiu ontem para as bancas, e nele escrevo sobre o Julieta (de que gostei muito) e o Fogo no Mar (assim assim). Bons filmes.
*
Julieta (2016), Pedro Almodóvar ★★★
É, definitivamente, o regresso de Almodóvar à sua boa forma, não ainda àquela que fez dele um dos mais importantes cineastas contemporâneos (por filmes como Carne trémula ou Todo sobre mi madre), mas indubitavelmente carregando as marcas do seu melhor cinema (para contrabalançar, a música, quase sempre em registo jazzístico, está perfeitamente desajustada do tom do filme).
A partir de contos da nobelizada Alice Munro, aqui adaptados para a história de uma mulher cuja filha desaparece sem deixar rasto, somos de novo imersos no vibrante universo almodovariano: personagens de carne e osso, complexas, cheias de mistérios (Marian, a empregada de Xoan, por exemplo) e assombrações (num trocadilho cinéfilo, poder-se-ia aqui citar o Julieta dos Espíritos de Fellini); a atenção aos pormenores, narrativos ou visuais, que vão ressoando simbolicamente ao longo do filme; a atmosfera chabroliana de tensão e de que algo adormecido – e trágico – pode despertar a qualquer momento; enfim, a elevação do melodrama a um género poderosíssimo (algo desde sempre favorecido pelas cores e temperaturas quentes dos seus filmes) em que as personagens, nas suas vidas “normais” e aparentemente comezinhas, se transcendem (numa palavra: bigger than life).
Falámos em Chabrol, mas é óbvio que Almodóvar sempre teve igualmente uma costela hitchockiana, desde logo na obsessão por personagens interpretadas por mulheres e pelas suas multiplicidades, dissimulações, desaparições. Se um título como The Lady Vanishes (filme de Hitchcock de 1938) é literalmente transponível para a personagem da filha de Julieta, Vertigo ecoa, indisfarçavelmente, no desdobramento de Julieta (loira como Kim Novak) em “duas” mulheres, correspondentes aos períodos “pré” e “pós” desaparecimento (e quão simples, mas poderoso e comovente, é o momento “transformativo” em que se dá essa transição).
Mas hitchockiano, também, pela omnipresença do tema da Culpa, que Julieta carrega penosa e masoquistamente quando nenhum motivo existe para tal (a mesma que o seu pai carrega pela troca da esposa acamada pela empregada mais nova): nem para o suicídio do homem do combóio, nem para a morte pouco ou nada clara do marido, tão-pouco para a partida da filha (e esta é, justamente, a grande opressão da Culpa, a de não nos conseguirmos abstrair e perceber como nada justifica que nos massacremos com determinado assunto). É essa sua característica capacidade de descer – e compreender – aos infernos da alma humana que Almodóvar volta a explorar com uma enorme sensibilidade, fazendo-nos entrar nas vidas de personagens que ficam connosco muito para lá do filme.

Fogo no Mar (2016), Gianfranco Rosi ★★
Aborrecido, árido, desenxabido. Os adjectivos com que muitos (e nós próprios) qualificaram Sacro GRA, o documentário anterior de Rosi e vencedor do Leão de Ouro em Veneza 2013, são transponíveis para a primeira hora do seu último filme (por sua vez laureado com o Urso de Ouro na Berlinale deste ano), no qual o italiano assenta arraiais na ilha de Lampedusa para fazer três filmes: um sobre a tragédia dos refugiados que aí aportam, outro sobre o quotidiano de um miúdo sobrinho de um pescador local, outro ainda sobre um radialista de “discos pedidos”.
Se dizemos “três filmes” é justamente para enfatizar a justaposição demasiado forçada desses três objectos, os quais se funcionam, por si só, muito bem (não tão bem o do radialista, embora se aproveite a música popular italiana, como a que dá título ao filme, que este toca e que serve de banda sonora), nunca chegam a funcionar harmoniosamente em conjunto, mesmo que neles se queira eventualmente ver um retrato da Lampedusa – e, metonimicamente, da Europa – actual, onde eventos tão diversos, tão tragicamente diversos, coexistem a poucos metros uns dos outros. É que, a ser assim, Rosi dá um tiro no pé, pela sugestão que deixa de que, afinal, os dramas de uns não afectam coisíssima nenhuma as vidas de outros, com excepção da do médico (e se se argumentar que esse era precisamente o efeito politicamente pretendido, então porquê filmar, como Rosi filma, o rapaz e o radialista com tamanha ternura e bonomia?).
De qualquer forma, e retomando o que acima dizíamos, na segunda hora do filme, Rosi descola – conscientemente ou não – do registo monolítico e inconsequente (e mesmo “televisivo” ou “de repórter”, de certa forma) e voa, finalmente, para um olhar interessante e enfim cinematográfico sobre os seus (três) objectos. Algumas das mais impressionantes imagens da actual – mas sempiterna – crise de refugiados estão neste filme (que Rosi, porém, jamais se permite de filmar de modo boçal ou gratuito), embora seja nessa imagem simbólica e bem menos explícita que se resume o Trágico: as lágrimas vermelhas, de sangue, que escorrem dos olhos de um refugiado espancado pelo seu opressor, esse fio vermelho que tinge as lágrimas como o fogo tinge o mar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Regresso ao Futuro na Antena 3 - 26 Outubro

 
 
Já podem ouvir aqui (clicar) o podcast do primeiro episódio do Regresso ao Futuro, que passou à 01h00 de hoje na Antena 3. A partir dos 52m44s, com a simpática introdução do Rui Miguel Abreu. O som e a edição são do Pedro Sancho Pires.
 
Toquei e falei sobre o Máscara (2006, Expeão) e o UniVersos (2012, Virtus), dois discos monumentais da história do hip-hop português: o primeiro celebra, actualmente, 10 anos com concertos ao vivo; do segundo realizar-se-á um concerto de "encerramento" no dia 11 de Novembro no Plano B, no Porto.
 
We're sending you back... to the future!

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"Regresso ao Futuro" na Antena 3

 
 
A partir da próxima semana, e em todas as últimas quartas-feiras do mês, tomo conta da segunda hora do programa de rádio Rimas e Batidas na Antena 3, com uma nova rubrica a que dei o nome de Regresso ao Futuro. Comigo a pilotar este carro-nave estará o Pedro Sancho Pires, responsável pelo som e edição e a quem agradeço por poder contar com a sua disponibilidade e talento. O primeiro “regresso” é já na próxima quarta-feira, 26 de Outubro, entre as 01h00 e as 02h00!
 
Nesta notícia (clicar), explico um pouco mais sobre o programa e a forma que lhe pretendo dar. Já sabem, próxima quarta-feira... apertem os cintos!

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

vermelho de sangue



(Fuocoammare, 2016, Gianfranco Rosi)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

I Wish I Had Someone Else's Face #6: A lei do Desejo é a lei de Lee Remick


 
Fiquei assim meio que obcecado com a Lee Remick no Wild River do Elia Kazan. Como não vivemos no mesmo país, e uma vez que já não se usam cartas, dediquei-lhe a minha última crónica, que ela poderá ler confortavelmente num portátil onde quer que esteja. Do sempre teu, Francisco.
 
 
 
"Wild River é um dos filmes mais subtilmente eróticos da história do cinema – ou, simplificando, um dos mais eróticos filmes de sempre (a subtileza é, em si mesma, uma propriedade erótica). E a esmagadora fatia desse erotismo tem a sua origem e o seu fim no extraordinário rosto de Lee Remick, o qual, até em momentos de angústia e aflição, permanece sempre luxurioso. Sim: até quando sofre, até quando chora (como quando, por exemplo, pergunta a Clift, entre lágrimas mas em tom insinuante, se ele sabe o que Walter lhe fez na noite anterior quando ele se foi embora), Remick é, toda ela, sensualidade, um rosto com tanto de determinação como de submissão (eroticamente falando, claro), de firmeza quanto de rendição".

segunda-feira, 3 de outubro de 2016