sexta-feira, 29 de junho de 2018

andas sempre com uma câmara na cabeça é
pergunta-me
mais voyeurista
do que o voyeur enquanto
peço põe-te
de joelhos
só mais
uma vez, queres que eu faça
alguma coisa
não
fica só aí enquanto
eu pego na
câmara que
não trouxe
nem tenho por isso sim respondendo à tua
pergunta fotografo-te com
quatro imaginários dedos memorizo-te
com
as pupilas 

quinta-feira, 28 de junho de 2018

corpo-a-corpo

A luta corpo-a-corpo habitual, hoje fica dez euros, não fica nada menino, fica sim ande lá, não menino são cinco, estou a pedir-lhe fica assim senhor ferreira por favor. No Natal, era mais fácil convencê-lo, a desculpa saía mais lesta, o frio que entrava pela porta quando algum cliente saía obrigava-o a tomar decisões rápidas, discutir menos. Isto quando eu tinha dinheiro na carteira; se não era o caso e lhe dizia a ele ou ao irmão vou só levantar ali e já venho, a resposta também já era conhecida não vai nada paga da próxima, ó senhor ferreira não me venha com essa a próxima não sei quando vai ser sei lá quando volto a cortar o cabelo. Mas volta, não volta?

Pelo menos nesta luta do multibanco, eu saía sempre vencedor, ia num pé e vinha noutro das galerias lumiére, aquela frase dos irmãos do cinema que o godard citou no le mépris, alguém a pintou do lado de lá, numa noite estranha tirei uma fotografia à rita com ela nas costas, gosto tanto dessa fotografia… nota vermelha nas mãos para então sim, de regresso à amistosa arena, iniciar o segundo round, o tal dos dez euros não menino fica cinco

Volto sim senhor senhor ferreira. Volto desde os meus dezoito anos, primeiro de faculdade, um dia qualquer em que saio pela zona mais elevada de direito, junto a jornalismo, desço pela rua das oliveiras, passo pelo bar do meu tio eurico (o meu tio eurico já morreu, agora está lá o meu primo, também eurico, por sinal, mas eu continuo a ver lá o meu tio, embora ele estivesse por lá num tempo em que eu evitava encontrar os meus tios, que é feito do teu pai pá nunca mais falámos sabes como são estas coisas ai a vida xico, copos e uma hereditária melancolia com que não sei, não queria, talvez ainda não saiba lidar), dou-lhe um abraço, criatura que sempre contemplo com fascinação na sua energia instável, insatisfeita, desesperada (escrevi um filme baseado numa personagem que é, sem tirar nem por, ele mesmo, quando houver dinheiro, verá a luz do dia, provavelmente nunca), mas dizia, não foi a necessidade que, originalmente, me fez lá ir cortar o cabelo; o que me fez reparar naquelas porticas pintadas a vermelho em tal dia foi o autocolante, fundo branco, coração vermelho, letras pretas

I (coração) MOÇAMBIQUE
(mais tarde, hei-de explicar, orgulhosamente, a sua história a duas raparigas por quem me apaixono)

O resto, como se costuma dizer, é cabelo. E rádio festival, fadunchos, discos pedidos e as remotas e desesperadas vozes que os dedicam ao locutor que tanta companhia lhes faz (outro filme que tenho na cabeça é sobre esse submundo e foi rabiscado no telemóvel enquanto senhor ferreira, o de lá, me tesourava, ou melhor, enquanto fazia uma pausa contrariada e me olhava de soslaio, já está menino, sim desculpe lá senhor ferreira), os rostos do costume e o monumental bigode que senhor ferreira, o de lá, já não usa na fotografia, o irmão mais novo reformado que passa lá o dia a varrer o chão e a ouvir a converseta dos clientes (só muito mais tarde vim a perceber que era irmão, na verdade), a superior mas comedida inteligência dos dois irmãos mais velhos sempre que alguém puxa de um assunto qualquer: Pois, talvez, não sei, é capaz de ter razão. No aborto, na bola, no casamento gay, na igreja, a resposta vinha sempre parcimoniosa, entrecortada apenas pelo zás, zás, zás, zás. Lavar o cabelo só com sabão menino, de certeza, sim e só de vez em quando. O meu pai, o henrique, o meu irmão lucas, o álvaro, o gui, o tavares, todos eles passaram depois a ser testemunhas da mesma humildade. Dessa crença na disciplina e no trabalho (da qual estou, “ideologicamente”, se é que o posso dizer assim, distante, mas que não me deixa de me comover): ó menino, férias para quê tenho o domingo para passear, despachou-me num dia de setembro em que lhe perguntei pelo “verão”. Qual verão qual quê, ali o relógio só marcava

marca
as sete, as da manhã, hora em que as porticas vermelhas se abriam, e as da noite, em que fecham. Feriados também se trabalhava

trabalha
pois claro. Mas porquê senhor ferreira, então menino imagine que um dia um cliente nos aparece aqui e estamos fechados. Mas é feriado senhor ferreira e, sem concordar, concordava olhando-o no espelho que me devolve a assertividade deste homem bom, sempre com o belo relógio no pulso, um olho no cabelo e outro nas fotografias, o meu neto ali joga no porto, não vou vê-lo porque não gosto da bola no estádio, daquela gente toda, mas sei tudo e leio sobre ele no jornais, grande jogo que fez contra o benfica no ano passado, não leu nos jornais menino, o pai dele sim também é barbeiro mas na senhora da hora nunca quis vir para aqui e eu compreendo menino. E aquela menina ali com a pintinha na cabeça, é minha neta a minha filha casou com um rapaz indiano

Senhor ferreira, o de lá, sempre me lembrou, muito nitidamente, o meu avô. Não apenas pela calvície, os óculos ou os grandes sinais nos braços brancos e magros, a forma da cabeça, o tronco, mas também por esse sentido de disciplina, labor, esforço, de honra, também. Certamente de outros tempos, certamente dos quais estou, “ideologicamente”, se é que o posso dizer assim, distante, mas que não me deixa de me comover. Outros tempos como os de moçambique não é senhor ferreira como foram esses tempos hã, ó menino foi muito bom, aquilo era tão bom, como foi lá parar senhor ferreira, fui eu primeiro depois foi lá ter o meu irmão tínhamos uma barbearia, como esta, sim um pouco maior e eu olho pelo espelho para senhor ferreira, o de cá mas que neste momento pela minha posição é o de lá, imagino-o em mangas de camisa suadíssimo numa terra castanha que não conheço, no vinte e cinco de abril a minha mulher e os meus filhos voltaram primeiro, quando eu voltei ela morre-me fiquei com cinco para criar sozinho, como fez senhor ferreira, como fiz então menino cortei cabelo, pois. … E nunca mais casou senhor ferreira desculpe a pergunta, ah sim casei e vivo junto há trinta anos, ah que bom assim! Mas então como era lá a vida, era muito boa menino agora aquilo está muito pior desde que nós saímos de lá, senhor ferreira mas aquela terra não era nossa só tínhamos que sair, ó menino não é assim, calo-me senhor senhor ferreira vou calar-me sem lhe dizer que me vou calar eu não vivi lá jamais concordarei consigo mas não é aos seus oitenta e não sei quantos anos que um rapaz de trinta lhe vai explicar como ele acha que é e como não é só se eu fosse parvo. Já voltou lá? Nunca mas houve uma ocasião há uns anos numa viagem que a associação organizou mas acabei por não ir achei caro e era pouco tempo menino e sempre de um lado para o outro, então não vai voltar nunca mais, não sei menino talvez não mas gostava muito

Tentei explicar isto ao mário, mário quero falar-te de senhor ferreira, quero dizer são dois, dois irmãos, corto lá o cabelo há muitos anos, quero fazer um documentário com eles mas não sei se aceitarão. Reunimos em minha casa num verão em que ele estava cá por uns dias regressado da croácia, enviei-lhe um word com um guião umas fotografias também, ele interessou-se, sim, vamos fazer o filme tens mesmo que falar com eles. Meses e dias que andei a adiar, até telefonei, tou senhor ferreira então como está queria falar-lhe de um assunto posso passar aí amanhã, sim claro menino quando quiser. Meses e dias a pensar que vai ser impossível convence-los a sentarem-se em frente a uma câmara até que senhor ferreira, eu gostava de fazer um filme com vós os dois, ó menino mas é da televisão o menino, sou do direito não é estudei aqui ao lado como senhor ferreira sabe mas também faço umas coisas ligadas ao cinema, ah sim menino pronto é quando quiser vem aí e combina-se isso estamos habituados volta e meia vem aí a televisão, só temos que ver a hora porque eu às seis e pouco tenho que estar a sair menino, diz senhor ferreira, o de cá, tenho a minha mulher acamada em casa e o saco pode rebentar tenho que ir a correr apanhar a camioneta. Está tão doente já viu o que isto é chegar a esta idade e viver com esta preocupação é muito mau menino não encontro ninguém que queira ficar com uma senhora idosa até tão tarde. Mudo de assunto, senhor ferreira, quero tentar animá-lo e por isso pergunto-lhe pela sua rotina deita-se tarde senhor ferreira, nã menino, às dez já estou na cama mas só adormeço pela uma, a sério mas porquê, olhe não sei às cinco e meia já estou a acordar para dar de comer às galinhas e fazer as coisas na horta

Foi assim como te conto mário, eles disseram logo que sim, não esperava isto, é pá espectacular francisco temos filme então vamos a isto

Despedimo-nos como habitualmente, mas não foi como habitualmente. Eu vou voltar mas senhor ferreira, o de lá, não fará o mesmo. No dia em travámos a nossa última luta corpo-a-corpo, eu cheguei, como habitualmente, demasiado tarde, já passavam das sete. Senhor Ferreira, o de cá, já tinha saído, Senhor Ferreira, o de lá, atendia o último cliente. Se calhar já é tarde não, senhor ferreira, é se calhar já é menino… E eu estranhei. Tão cedo não conseguiria voltar e, por isso, ainda da porta insisti

é, senhor ferreira, será que não dará assim rapidinho

Mas dá, claro. Passados alguns, breves, segundos de me ter sentado, notei-lhe uma anormal lentidão nos movimentos e no esgar, está adoentado senhor ferreira. Olhe menino, tive uma das piores coisas que se pode ter, achei que estava a fazer pouco nunca o ouvi queixar-se de nada, então que se passou está a brincar, não estou não, teve um avc foi não me diga senhor ferreira, não menino tive um cancro no baço. A filha aparece, pai no fim estou lá fora e eu muito envergonhado peço-lhe desculpa, não fazia ideia que o seu pai tinha estado doente se soubesse não tinha vindo a estas horas peço-lhe imensa desculpa, ora essa ele está rijo ele quer é trabalhar deixe-se estar à vontade. Agora estou melhor menino mas tive que vir porque já não conseguia estar em casa já estive dois meses mas não consigo estar mais pintei a casa toda, andei a pegar nos baldes e tudo mas e o esforço senhor ferreira os médicos devem-lhe ter dito para ter cuidado. …Depois já não tinha mais nada para fazer e se começamos a pensar muito nas coisas não é bom sabe ficamos meios, sabe, eu ainda surpreendido por senhor ferreira estar tão falador sei, pois, senhor ferreira, ó se sei

fui levantar a nota vermelha às lumière e, quando volto, a luta do costume, mão empurra mão, braços sobrepõem-se abruptamente, repelem-se desajeitadamente, há força de parte a parte, força mesmo, violência que noutras circunstâncias transbordaria de sangue, tudo culmina num abraço, nunca o tínhamos dado antes, e beijei-lhe a face porque senti que era a do meu avô ou senti que ele também era meu avô já não sei

saí rapidamente, olhos meus que não deixo mais que se cruzem com os dele, dir-me-ia logo que não sei, ponha-se rijo, dir-me-ia logo o quê, se calhar também os tem húmidos

não olho mais para trás e já na esquina pensei outra vez

tenho que fazer o filme

já não vou fazer (já não vamos fazer, mário). à mesa a almoçar com a minha mãe, o meu irmão lucas aparece e xico tenho que te dizer uma coisa mas eu antecipo-me até que enfim cortaste o cabelo fica-te melhor assim mas devias ter cortado mais. não me responde, tem um sorriso estranhíssimo, poucas vezes lho vi, se é que posso dizer que é um sorriso, talvez só uma desajeitada fileira de dentes num boca que não se sabe comportar de outra forma naquele momento. o meu pai, o meu irmão lucas, o álvaro e eu na igreja de cedofeita (o gui não pôde vir, se calhar vai ter que trabalhar até tarde, ou não quis, podia ser eu a não querer, nem sequer lhe pergunto no dia seguinte), não sabíamos se estávamos na missa certa porque não conhecíamos ninguém até ver a careca de senhor ferreira, o de cá, junto ao padre. Apertei-lhe as mãos com força uma e outra vez ele só acena a cabeça e eu lembro-me neste momento de ele me dizer que quando o irmão estava doente se telefonavam apenas uma vez por dia só para lhe perguntar estás bem e desligamos menino, só isso senhor ferreira, sim menino, quanto amor aqui quantas personagens do Ford a passarem na minha cabeça e depois disso já só ouvi o meu pai dizer lá fora

tem que vir para a cadeira do seu pai hã, ouviu, força, os meus sentimentos

senhor ferreira, o de lá, nunca me chamou menino, chamava-me doutor. senhor ferreira, o de cá, também me chama assim, mesmo depois de lhes ter dito umas quantas vezes para não o fazerem. Mas na minha cabeça eu sempre ouvi menino, como os avós dizem aos nossos pais quando somos meninos: então e o menino, cristina, já lhe deste de comer, não será melhor deitá-lo agora está cheio de sono, deixa o menino aqui, fica todo contente a brincar com as galinhas e depois faço-lhe umas batatas fritas
  

terça-feira, 26 de junho de 2018

squeeze me


 
 
(LP The Delfonics, 1970)

have you seen her?


 
 
LP (For God's Sake) Give More Power to the People, 1971.

don't you cry


 


(LP It's Gonna Take A Miracle, 1965)


"boy did i dance to this as a little boy. the girl next door was about 16 at this time. she had this record and played it over and over". (YouTube dixit)

KIDS SEE GHOSTS

 
 
 
Depois de "DAYTONA" e de "Ye", a marinha segue com "Kids See Ghosts", fabuloso disco colaborativo de Kanye West e Kid Cudi - no Ípsilon de hoje.
 
post scriptum: Quando a moda e o hipócrita hype actuais em condenar Kanye West passarem, podeis pôr os olhos, por exemplo, no que ele escreve em "Cudi Montage".
 
"'Kids See Ghosts' tem, desde logo, essa funda marca solidária, fraternal, de dois amigos dando as mãos com força para não caírem. Enfim, dois 'brothers in arms' a voltarem a...o estúdio para tentarem retomar a sua arte enquanto lutam com os seus demónios e fantasmas — esses, os tais que eles vêem (como os que se vislumbram na lindíssima artwork do disco, autoria do artista plástico japonês Takashi Murakami, ...). São eles, portanto, os kids — West e Cudi a tentarem voltar a um estado (a infância) a que, como se costuma dizer, só os loucos, na idade adulta, logram regressar (uma “regressão” que, na realidade, é, dizem os nostálgicos, progressão...), idílico espaço-tempo de irresponsabilidade, inconsciência, enfim, da liberdade celebrada na formidável 'Freee': ”I don’t feel pain anymore / Guess what, baby? I feel free / Nothin’ hurts me anymore' (não por acaso, 'Ghost Town', canção de 'Ye' e de que 'Freee' aparece oficialmente designada como sendo o segundo tomo, já terminava por aí: 'Once again I am a child / I let it all go, of everything that I know, yeah / And nothing hurts anymore, I feel kinda free / We’re still the kids we used to be')".
 
 

quinta-feira, 21 de junho de 2018

"É costume ainda hoje dizer-se no Porto a uma rapariga desleixada na sua apresentação: 'Pareces uma mulher casada'. Casar é abdicar do gosto e da vaidade que pressupõe tentação.
(…)
- A senhora é feliz? - teria perguntado o doutor Bensaúde (…), uma vez que ouvira Maria Adelaide sobre os seus padecimentos dos intestinos. Não se sabe o que têm a ver os intestinos com a felicidade das mulheres. Mas Maria Adelaide nunca se esqueceu dessa consulta".
 
Agustina Bessa-Luís, Doidos e Amantes.

love me right - com muito carinho, por exemplo




"You tell me all the time, baaaaaby
I'm the light in your liiife
And you love me more each day!
You are starting to drive me craaaaazy
Why won't you realise you gotta love me right baaby"

(EP Conexão, 2018)

take a good look at my face


 


"People say I'm the life of the party
Because I tell a joke or two
Although I might be laughing loud and hearty
Deep inside I'm blue
So take a good look at my face
You'll see my smile looks out of place
If you look closer, it's easy to trace
The tracks of my tears"
 
(LP Going to a Go-Go, 1965)

vida que gira








(Nobody Knows, 2004, Hirokazu Kore-eda)




(Les gardiennes, 2017, Xavier Beauvois)

Crítica "DAYTONA"

 
 
No Ípsilon da última sexta-feira, continuo a acompanhar o ressurgimento da GOOD Music e de Kanye West, desta feita olhando para "DAYTONA", que junta o último (produção) a Pusha T (voz).
 
 
«O que é interessante, porém – e, de resto, extensível a todo o rap que se assume, genericamente, como cru ou agressivo –, é que todo este discurso “egotripesco”, de auto-engrandecimento, vai sempre produzindo – ou deixando-se contaminar por – importantes anotações sobre os EUA, seus mitos... e paranóias, do sonho americano à obsessão materialista, do sufoco das minorias e dos mais pobres a uma (compreensível) arrogância nova-riquista (“See these diamonds in this watch face? / All that shit came from pressure”, desabafa Pusha em “Come Back Baby”), realidades que, porventura, nós, europeus ocidentais, nunca chegaremos a compreender por completo. Houve quem já se interrogasse sobre a razão para o fascínio de alguns críticos (onde não nos incluímos, isso é certo) pelo fascínio, por sua vez, de certos rappers com o dinheiro. É uma questão válida e à qual Pusha T poderá dar uma ajuda na resposta com estes dois versos: “They say don't let money change you / That's how we know money ain't you”. Por outras palavras: quem nunca esteve na situação de nada ter senão uma família tragicamente disfuncional e um quotidiano de tráfico, armas e pobreza e de um dia passar a desfrutar de tudo e mais alguma coisa provavelmente não conseguirá jamais compreender, enfim, how money does change you (mas é também por isto que os rappers são dos músicos contemporâneos mais fascinantes, pela capacidade de fazerem conviver um arrazoado ostentatório com um objecto extraordinariamente poético)».
 
 

terça-feira, 19 de junho de 2018

SESSÃO ESPECIAL HOJE NO CINEMA TRINDADE





Hoje teremos uma sessão especialíssima do Não Consegues Criar O Mundo Duas Vezes no Cinema Trindade com a presença dos convidados (e intervenientes no filme) MUNDO SEGUNDO, M7 (aka Beatriz Gosta) e KESO.
 
Apresentação pelos realizadores no início e debate com convidados e público no final. A partir das 21h15!
 
Venham todos para celebrarmos juntos a cidade, a cultura e a história. Até já!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sessão especial 19 Junho com Convidados

 
 
Sessão especial com Convidados: Dia 19 Junho (terça-feira), 21h15, Cinema Trindade
 
Temos o prazer de anunciar uma sessão na próxima terça-feira (19 Junho) no Cinema Trindade com os convidados MUNDO SEGUNDO, M7 (aka Beatriz Gosta aka Marta Bateira) e KESO. Juntem-se a nós!
 
IMPORTANTE: ENTRETANTO, O FILME ESTÁ EM EXIBIÇÃO TODOS OS DIAS NO CINEMA TRINDADE, ÀS 21H15.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Não Consegues Criar O Mundo Duas Vezes - no Cinema Trindade



Boas notícias para os próximos dias!: o filme vai estar em exibição a partir de dia 14 de Junho (esta quinta-feira) no Cinema Trindade (Rua do Almada, Porto), diariamente, durante uma semana.
 
Decorrerão duas sessões especiais, uma a 14 de Junho (quinta-feira) com a presença dos realizadores e outra dia 19 de junho (terça-feira) com convidados muito especiais. Horários da sessões muito em breve.
 
Venham todos! Até já

segunda-feira, 11 de junho de 2018

ípsilon - YE



No ípsilon da última sexta-feira sobre "Ye", novo disco de Kanye West.

Com um aviso à navegação:

"Não deixa de se revelar assaz hipócrita a forma como algumas publicações americanas que sempre idolatraram West por aspectos que a nós sempre nos mereceram reserva (as punchlines na fronteira do mau-gosto, o descaramento, o narcisismo extremado), e que se servem de toda e qualquer manifestação sua para uma desavergonhada exploração... do clickbait, venham agora a terreiro condenar o disco por esses mesmíssimos aspectos (francamente, fica a ideia de que, aproveitando o hype actual segundo o qual é de bom-tom reprovar West, não escutaram o disco seriamente, só isso explicando que nem sequer tenham compreendido como ele é o que mais próximo está, afinal, dos seus três primeiros e consensuais álbuns…)".


quarta-feira, 6 de junho de 2018

ípsilon - "KOD", de J. Cole



No Ípsilon da última sexta-feira, continuo a acompanhar a obra de J.Cole, talvez a grande - a "única" - mácula na programação do dia 20 Julho do Super Bock Super Rock, verdadeiro histórico pelos nomes de hip-hop/R&B que concentra.


"Integralmente produzido pelo próprio Cole (e tende-se a esquecer o seu virtuosismo neste departamento), 'KOD' – que, tal como '4YEO', não inclui qualquer convidado – prolonga a excelência dos arranjos (samplados e tocados) que já campeavam em '4YEO'. Algo imedia...tamente perceptível no trompete de 'Intro”, nas teclas de 'Photograph' (dedos de Ron Gilmore), no baixo de Nates Jone em 'Once an Addict' (incursão biográfica sobre a figura materna, ela própria uma ex-alcoólica e consumidora de crack) ou, ainda, nas cordas de 'The Cut Off' (soberba voz distorcida de kiLL edward, alter-ego de Cole que se crê corresponder ao seu abusivo padrasto), talvez o mais belo momento de todo o disco, condensador, aliás, da atmosfera jazzisticamente melancólica (e vice-versa) que tem caracterizado os seus últimos trabalhos: 'I know Heaven is a mind state, I've been a couple times / Stuck in my ways so I keep on falling down', dessacralização curiosa vinda de um rapper cristão (mas não menos existencialista) como Cole".


On-line: https://www.publico.pt/2018/06/03/culturaipsilon/critica/que-a-dependencia-e-uma-besta-1832406

segunda-feira, 4 de junho de 2018

celebrámos a palavra na
cama
como todas as coisas devem ser celebradas
(quase todas)
a luz a entrar demasiado cedo no teu quarto
intrusões que não compões

armados de uma filosofia imbatível, apuradíssima, coada pelos muitos e derrotados dias, celebrámos

Não
(no princípio não era o Verbo, foi
a quietude do substantivo
olhos que dispensam mãos e coxas se tudo
o que queremos
é fixidez
o contrário da
acção, berlindes
que se devoram, imobilizados)

deixámos para amanhã o que podíamos fazer hoje, contrariámos o
universal e absoluto princípio
da eficiência. fora com esses
tecnocratas!

fizemo-nos revolucionários da espera
inaugurámos o comité da paciência
vírgula da
demora
e do
tactear

Pê Dê Tê! Pê Dê Tê! Pê Dê Tê!

prometemos corpos que cantarão amanhãs
mas só cantarão amanhãs
amanhã
hoje,
não
hoje,
Não é
a palavra
amanhã será com certeza
outra

promessas nada vãs para quem
nos quisesse ouvir ou
ver
como esse teimoso e furtivo sol
partículas alienígenas que te doiram a franja

migalhas que não limpo
copo de água que tombo
pelas tuas costas
a enxurrada cobre-me dos pés à cabeça
tu não vês
(o frio não se vê)

e novamente
Não
vai tu primeiro, eu
vou a seguir
separaste assim as águas
sim, Não! claro, Não, Não
e Não

monossílabos crescem orgulhosamente em nós, rebentam em
afirmativas esplendorosas que nos elevam
do chão
literalmente, digo
a já não sei quantos mil pés de altitude de ti
vou ao Nimas fazer tempo
ignorando que me falarás da Marine
(os fantasmas conhecem-se, já devia saber)

seres
teres sido

projecção
?

se as sombras do teu quarto não desapareceram
quando a luz
entrou

projector estragado.
bobinas que se emaranham no peito.
larguem-me, deixem-me as veias em paz
sangue quer correr livremente
na cabeça o
botão
ligar
desligar

sexta-feira, 1 de junho de 2018

meus pés, onde


 
 
(LP Arthur Verocai, 1972)
 
 
"Depois de sonhar no sofá
Desfiar minhas contas sem fim
Se nada vai bem ou vai mal
Que mapa estão os meus pés?



A praça, o povo, a fé
O campo, a bola, o café
E nada vai bem ou vai mal
Que mapa estão os meus pés?



A gente, o porto, o cais
O medo, a vida, o revés
E nada vai bem ou vai mal
Que mapa estão os meus pés?



A gente, o porto, o cais
O medo, a vida, o revés
E nada vai bem ou vai mal
Que mapa estão os meus pés?"

Entrevista com Black Milk - Público

Tocou a semana passada em Lisboa (Music Box) e no Porto (Plano B)  na companhia da extraordinária Nat Turner Band. À conversa com Black Milk no Público:
 
 
 
Artigo que escrevi há umas semanas sobre o seu disco "FEVER":
 

Entrevista para o Porto Canal


Link para entrevista que demos ao Porto Canal a propósito do nosso filme Não Consegues Criar O Mundo Duas Vezes:
 


(Ramiro, 2017, Manuel Mozos)

ípsilon - "Deepak Loper"

 
 
No Ípsilon de há umas semanas, escrevi sobre Papillon e o seu primeiro LP a solo "Deepak Looper". A liberdade está a passar por aqui.

"À data, Slow realçava como o seu horizonte era a mistura e o dinamitar de espartilhos (...), e Papillon é, neste sentido (nada pejorativo, entenda-se), o 'performer' de que Slow se serve para dar asas à sua profunda imaginação, numa sinergia altamente benéfica para ambos. De ...repente, encontramos Papillon, rapper “de formação”, a puxar da voz, cantando e experimentando entonações e inflexões por cima dos arranjos soberbos (apenas um entre mil exemplos: aquelas duas prodigiosas linhas de sopro sobrepostas no início de “Metamorfose Fase II”) com que Slow não pára de surpreender o ouvinte (...). Notável o modo como, em determinadas letras de Papillon, depois de, num primeiro momento, as palavras e as ideias poderem soar simplistas ou previsíveis, um twist as faz descarrilar (quase sempre com cariz dramático), assim densificando, problematizando, tudo aquilo que o ouvinte captara até aí (ao jeito da parábola) – é o caso de “1 Am”, canção aparentemente colorida e escapista cujo subtexto (negro, na verdade, e subtil na forma como o Pai biográfico se confunde com o Pai “Estado”) vai progredindo (teclas fabulosas, quase de filme mudo cómico, no momento da vertigem) até a um pesadelo-suicídio (há ecos do “sunken place” de 'Foge', o filme de Jordan Peele, também…).