(LP The Elements, Joe Anderson e Alice Coltrane, 1974)
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
terça-feira, 18 de novembro de 2025
artigo no Y
ERA UMA VEZ UMA FAMÍLIA NO CHILE - texto e entrevista no último Ípsilon (versão + curta no papel; versão completa on-line)
Retrospectiva Dominga Sotomayor, 16 Nov-19 Dez, Batalha Centro de Cinema
"A família é o habitat natural dos filmes da chilena, dona de um olhar delicado, contemplativo, sobre os silêncios e os não-ditos entre aqueles que partilham quatro paredes – ou quatro portas, não passassem as personagens, casais (juntos, separados, viúvos) e filhos que partem sempre de uma posição de perda (ou na iminência disso), largos períodos dentro do carro. A um ponto tal que só no cinema iraniano nos lembramos de igual protagonismo. Não é por acaso: Abbas Kiarostami é um dos cineastas de eleição de Dominga, O Sabor da Cereja, no qual germinou a sua curiosidade em fazer cinema, um dos seus amuletos. Mas onde no cinema de Abbas e compatriotas o carro desempenha um lugar de protecção, um refúgio onde é possível pensar e sonhar resguardado da opressão dos ayatollahs, no caso da chilena, a viagem é outra. 'A minha primeira memória de infância é das muitas horas no banco de trás do carro' [...]".
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
terça-feira, 11 de novembro de 2025
(O Agente Secreto, K.M.F, 2025)
Talvez o mais americano dos cineastas vivos (com absoluta certeza o mais americano dos cineastas não-americanos), KMF é, por estes dias, dos poucos com um sentido tão engenhoso e, mesmo, espectacular de mise-en-scène. O Agente Secreto, pese embora as fragilidades do argumento, é um prazer imenso de se ver. Passei praticamente o filme inteiro a imaginar como seria o corte seguinte ou como se filmaria a entrada de um carro no plano (e que bem que se filmam carros aqui, haja alguém).
(The Apprentice, A. Abbasi, 2024)
"Filme de acção" psicológico, mental mesmo, imparável, sempre com uma toada semi-gótica, decadentista, de fundo. Lúgubre é o ambiente do princípio ao fim: ou seja, ao mesmo tempo que "A Star is Born", a sensação, na verdade, está muito mais perto de um amortalhar, de um funeral. E com um travo ligeiramente independente ou experimental (na câmara, na cor, ritmo, no acting) que não sentia no cinema americano há algum tempo. Talvez a última vez tenha sido no The Girlfriend Experience do Soderbergh. Ao mesmo tempo, estranhamente ou não, pensei no Welles (não fosse ele um dos maiores experimentalistas). Filmaço.
Curioso como, em Suspense, o assassino, apesar de empunhar uma faca numa das mãos, estronca a porta com a mão livre. No filme de Kubrick, tudo se torna mais gritante (e não por ser um filme sonoro): em vez da mão, o machado; em vez de a protagonista ser a pura ideia de Intrusão (como em Suspense, onde a esposa está aos pés da cama, logo, fora de campo), aqui, prevalece a vítima que, de olhos arregalados, é colocada na profundidade. Enfim, também no terror - i.e., no Medo - fomos, insaciáveis, precisando sempre de mais e mais.