Tinha tudo aquilo que se diz que o homem cuidadoso de si próprio tem: barba generosa e bem arrumada, lábios finos e polidos, olhos pequeninos de curioso, o cabelo diligentemente puxado ao lado, os óculos de armação fina. Isto bastaria então para que uma meia dúzia de ouvintes, antes sequer de o ouvirem, cultivassem uma respeitosa distância.
Mas ele ainda tinha mais: tinha muitos papéis de faculdades e coisas dessas. Cá na terra e lá fora.
Juntava-se a tudo isto uma posição muito hirta e um rosto sério. Uma verticalidade ímpar.
Era esta a figura.
Sentou-se então para falar, num autêntico trono. Digno da personagem, portanto.
Assim que soltou os primeiros ditos, eu comecei a ver uma barba muitíssimo-íssimo-íssimo bem-tratada e uns lábios tão pequeninos que enfraqueciam as palavras que por entre eles se dissipavam no ar daquela noite. Os olhos pareciam-me um pouco assustados, como se de os olhos de uma recém-nascida loba brilhando no escuro se tratassem. O cabelo pareceu-me penteado pelas mãos molhadas da mãe antes de ir para a escola. A certa altura já duvidava da miopia.
A verticalidade esfumou-se e vi um corpo pequenito, magro e débil, onde os ombros se afundavam no fato e a gravata se descompunha a cada passo que dava, tão chupado era o peito.
"Não gosto de pessoas que não têm um ar saudável".
Cheguei à conclusão que nunca tinha pensado nisso. Mas era justamente o que aquele senhor não ostentava. Saúde. Vida. Mas, enfim, também já ostentava tantas outras coisas, não é verdade?...
Pah, o finzinho tá demais:
ResponderEliminar"Mas era justamente o que aquele senhor não ostentava. Saúde. Vida. Mas, enfim, também já ostentava tantas outras coisas, não é verdade?..."
Aquele era o homem civilizado levado ao cúmulo da depuração: quando damos por ela, já nem homem parece. Estranho.
(tá realmente muito fixe o texto).
tipo de pessoas que usa o corpo para transportar a cabeça e a gravata de um lado para o outro =)
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