sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

venha o diabo e escolha

Depois de bombardear alvos políticos estratégicos (como farmácias), parece que Israel decidiu utilizar bombas de fósforo. As bombas de fósforo foram, entre outros, o tipo de material usado naqueles longíquos tempos da 2ª Guerra Mundial. Entretanto proibido pela Convenção de Genebra, segundo li. Particularidade das bombas de fósforo? Queimam o alvo ininterruptamente (isto tem alguma pertinência quando estejam em causa corpos humanos).
Mas enfim, como estamos numa arena daquele tipo de competições clandestinas que há lá para os lados de Matosinhos, chamam-lhes de Vale-Tudo, há que perguntar: porque não? Já dá para tudo. Mais um ou outro exagero, a gente não diz nada.

4 comentários:

  1. "A gente não diz nada", tocaste na ferida.
    As situações são muito diferentes, mas faz-me lembrar uma conversa que tive com uma madrilena. Muito sucintamente, ela dizia-me que todos em Espanha sabem que o governo tortura os etarras (bem ao estilo da nossa PIDE, dão-lhes choques nos genitais, espancam-nos, obrigam-nos a ficar acordados vários dias, etc etc), mas ninguém se revolta, ninguém diz nada. São todos muito católicos, Deus nosso Senhor é misericordioso e nós dizemos todos Ámen. Mas podemos tapar os olhos a umas torturazinhas pequeninas.
    Com Israel parece passar-se uma coisa do género. A comunidade internacional manda umas bocas para o ar, mas trabalho que é bom não se vê. Vamos todos fazer de conta que nos preocupamos, mandamos uns bitaites nos discursos da ONU, mas vá, eles até têm direito de responder aos terroristas, danados, mandam rockets e atiram pedras.
    O Sarkozy até foi passear ao Médio Oriente (será que a Bruni foi distribuir sorrisos às criancinhas?) e o Dakar é que é importante!
    Todos nós sabemos que muito mais podia ser feito. A verdade é que não interessa, não convém. E quando abrem a boca é porque fica bem dizer que se preocupam.
    Vamos ver o que faz Obama (com tanta política interna para lhe ocupar a cabeça) quando tomar posse. Sinceramente, já não espero muito de ninguém.



    (peço desculpa pela minha abordagem irónica, passei da revolta à ironia, é um estado de transição. só não ficarei calada, isso é que não!)
    Parabéns pelo teu blog, sempre com excelente conteúdo!

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  2. Olá! :)

    Percebo o que quiseste dizer e até partilho de alguma da tua revolta.
    Todavia, as coisas não podem ser colocadas num plano tão simples como o fazes.
    A minha crítica a Israel, tal qual a escrevi, é frontal. Todavia, tal como em tudo na vida, a situação não pode ser vista de um só prisma. E nesse outro prisma se colocam o Hamas e outros movimentos palestinianos cuja forma de luta é tão autista e intolerante como é a do Estado Israelita. Há aqui, porém, uma pequena (grande) diferença gradativa: é que o Hamas é o Hamas, um movimento mais ou menos unitário; Israel é um Estado, pertencente à ONU e por isso, em princípio, imbuído do espírito (pelo menos isso) do Direito Internacional. Israel, como Estado dito de Direito, tem outras responsabilidades, outro pathos, que, até hoje, não soube honrar. E o pior (ou melhor) isco que se pode dar aos intolerante, é ser-se, justamente, intolerante.
    A Palestina tem de encontrar dentro de si movimentos democráticos, laicos ou não-fundamentalistas, dialogantes e tolerantes. E Israel tem de ser pressionado (de uma forma que chegue a ser insuportável) e sancionado.
    Hoje, necessariamente, defendo uma coexistência pacífica, profícua e aberta entre os estados de Palestina e Israel. E quem, nos dias de hoje, não sustentar tal, carece da mesma intolerância que tem minado alguns dos actores de ambas as partes.

    Peço-te desculpa se me alonguei em demasia.
    Obrigado pela visita!

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  3. Obrigada pela tua pronta resposta! :)

    Tens razão, talvez tenha feito uma abordagem demasiado simples do problema.
    Também eu defendo uma coexistência pacífica ente os Estados de Palestina e Israel, mas quer queiramos quer não, estamos a falar de um cenário praticamente impossível, pelo menos nos termos actuais. Mais impossível ainda se a comunidade internacional não pressionar.
    O problema da Faixa de Gaza assume grandes proporções na questão israelo-árabe. Ali, encruzilhados entre o mar, Egipto e Israel, rodeados de muros (muros bem mais altos e musculados que o muro de Berlim) e alvos de um embargo, milhão e meio de pessoas tem muito pouco que fazer na vida. A comida que há é fruto da caridade internacional, os empregos não abundam, a energia falta quando os vizinhos (Israel) a decidem cortar, e o único apoio que encontram está nos movimentos radicais, como o Hamas, que engenhosamente consegue introduzir trigo para produzir pão através de túneis construídos ao longo de toda a zona. Além disso, numa situação assim é fácil cair em extremismos.
    O que quero dizer é que, enquanto as necessidades básicas das populações não estiverem satisfeitas, pouco lhes interessará se é o Hamas, a Fatah ou outros maluquinhos quaisquer que controlam o poder.
    Não quero justificar nada. Aliás, de nenhuma forma se justifica o recurso à violência. Mas convenhamos que existe aqui uma grande desproporção.
    Quase que arriscaria dizer que estamos num estado tal em que a única análise a fazer é tentar descobrir qual o "menos mau" no meio disto tudo. E no fim, o problema talvez até não necessite de grandes e complexas abordagens de Direito Internacional.

    A propósito destes assuntos, aproveito também para lembrar Yitzhak Rabin, impulsionador de uma chance para a paz, assassinado em 1995 por um israelita militante de extrema-direita.

    Julgo que da próxima vez será melhor tentar não ser tão irónica! :)

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  4. ainda bem que falas disto, pois andava a tentar apanhar-te pela net para te enviar o link do último texto que Saramago escreveu no seu blogue sobre o assunto :) acho que resume um bocado as coisas.
    sinceramente, acho que desde sempre se usou força excessiva de um lado para responder a ataques condenáveis, totalmente condenáveis, de um grupo terrorista, que vai continuar a existir e a ganhar força na palestina enquanto for o responsável por muitas das pequenas coisas que existem na palestina, mas que ataca com roquets e bombas humanas, às vezes umas pedras atiradas por crianças. creio que foi no 60 minutos que vi em tempos uma reportagem feita em escolas palestinianas, em que todo o material, os livros e o pão, era fornecido pelo hamas, onde as crianças desde pequenas viam neles os salvadores e portanto, não teriam grandes problemas em dar o corpo pela causa do hamas, seja ela qual for. ora, estas situações críticas e cíclicas, são culpa tanta da impunidade israelista ao poder tratar outros seres humanos como se fossem mero lixo e do facto de a comunidade internacional cruzar os braços pois carrega em si um genocídio judeu com o qual ainda não sabe muito bem como lidar.
    claro que a situação perfeita seria uma coexistência pacifica, pois hoje é impensável outra solução, mas por muito que me frustre (e confesso que estas coisas às vezes me conseguem deixar mesmo frustrada e um bocado sem esperança nas coisas),a verdade é que não vejo isso a acontecer mesmo nunca... nunca mesmo.
    p.s - ainda hoje ao jantar discuti isto, não há forma de fugir ao assunto.

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