domingo, 5 de julho de 2009

Eu Não das Palavras Troco A Ordem



Já não comprava um disco de hip-hop português que me desse tanto prazer de escutar como este. Aliás, já não comprava um disco de hip-hop português há bastante tempo.
Nerve é um caso sério. Nos poesia, na métrica cantada da mesma, nos beats, na interpretação pessoalíssima com que modela as palavras e as respirações (quase que o vemos a gesticular mesmo à nossa frente), no negrume cínico e imprevisível (e depressivo, claro) que é transversal a todas as faixas do disco.
Uma vez que antes de ir comprar o disco, já tinha ouvido umas coisas na net, fiquei excitadíssimo quando vi na capa "INCLUI LETRAS DAS MÚSICAS". Excitadíssimo e, ao mesmo tempo, surpreso, pela transparência de alguém que põe na sua música palavras tão cruas.
A surpresa desfez-se. As letras vêm redigidas num complexo sistema de inversão que as tornam ilegíveis. Mesmo agora que já descobri o caminho lógico para as decifrar, acabei por me decidir a não fazê-lo, quase num respeito íntimo para com o autor.
Para mais, esteticamente falando, Nerve salta anarquicamente o campo do hip-hop com uma produção não raras vezes puramente experimental, louca, desconcertante. Para trás e para a frente, dá voltas e voltas numa sonoridade eclética e estranha q.b., sem nunca cair, todavia, nos minimalismos chatos ou monótonos da música experimental mais frequente nos dias de hoje. É rap, é indie, é spoken word, é electrónica, é tudo isto mais os rasgos excêntricos de um jovem da minha idade (creio) com uma caneta endiabrada...
Este é um grande, grande disco e de impacto ainda desconhecido para a música portuguesa, arrisco eu.

"Nunca fales com estranhos!"
Não falo, está prometido!
(...)
Ei, eu sou estranho e ninguém quer falar comigo...






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