quinta-feira, 15 de outubro de 2009

bota-coisa-nenhuma

Neste país, enquanto autocarros fazem greves e pessoas chegam tarde a casa e às sua famílias, enquanto casais de namorados discutem com olhos de amargura e indigentes passeiam a fome numa mão suja da moeda que nos sai do bolso (a uns mais, a outros menos), há quem se lembre de fazer uma festa de inauguração de um estabelecimento comercial que vende cafeteiras. Neste país, nos poucos autocarros que levam os cúmplices anónimos para os seus lares, os olhares retêm-se na bizarria de uma festa de inauguração onde não falta tapeçaria vermelha, garçons engravatados, focos de luz hollywodescos, muito design muito roxo e muito preto (que é "sóbrio", e muito), música de melodia nenhuma bem alta, mulheres vagamente sencientes de vestidos para ocasião e convidados com uma desgostosa "honra" inscrita algures entre a testa e e o chão que pisam.
Neste país, que uns apelidam de "novo-rico", que outros acusam de um viver "bacoco" e ainda onde muitos resmungam para o lado: "cambada de parolos", neste país, é neste país, que eu vivo. Não tenho outro. Nem quero ter. Gosto dele.
Mas quero escrevê-lo e ser livre para o chamar de novo-rico, bacoco e entrever a cambada de parolos que nele cava uma vala de idiossincrasias plásticas, que nos são estranhas, que não são nossas.
Este país deu-me a liberdade e eu faço por a merecer.

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