segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

primos em segundo grau

A A Árvore da Vida e Melancholia comungam de vários aspectos. Enquanto o primeiro celebra a vida, o segundo é um ensaio elegíaco (ainda que belíssimo, o que é uma ironia daquelas). Ambos fazem da estética visual a sua maior força: são verdadeiras obras-primas enquanto construções pictóricas, dotadas de uma intensidade e de um perfeccionismo que nos enchem, fazem transbordar, os olhos. Depois, ambos falam do fim, mesmo que em tons distintos. O filme de Malick debruça-se sobre o fim de uma época (Texas, anos 70), de uma família (e, além daquela família em concreto, de um tipo de família, conservadora mas vibrante nas suas contradições) e, acima de tudo, do fim da infância - da inocência da meninice, do tempo das ilusões e da fantasia (esta parte é-me particularmente cara, já agora). Ou, dito de outro modo, do fim de um tempo (que já não volta mais, bla-bla-bla, já sabemos todos como é, poupemo-nos a esse suplício). Melancholia, por sua vez, aponta o foco para o fim do mundo, da humanidade, embora, na mesma passada, e quase como que justificando esse grande desfecho universal, apresente outros fins ou desmoronares mais localizados: da família, do amor, da burguesia ou, mais latamente, dos convencionalismos que pautam as relações humanas (eles não pertencem só à burguesia, desenganem-se os mais ingénuos). Como se dissesse: se tudo acabou (a genuinidade e a bondade das coisas) ou se deixou viciar, para quê continuarmos aqui? Arrebente-se com tudo. Como me disse um amigo, e vou roubar-lhe a ideia mesmo nas suas barbas, Von Trier teve a arte e o engenho de fundir ideias mundanas sobre nós, homens, com um argumento absolutamente inverosímil (a colisão de um planeta chamado Melancholia com a Terra) sem que o resultado final tivesse o aspecto disso mesmo: de algo inverosímil.
Além disto, e esta é a parte que menos vos interessa, os filmes de Malick e Lars Von Trier partilham da particularidade de ambos me terem feito sair da sala bastante mal disposto e, não há direito, com uma enorme vontade de os rever. Fi-lo com A Árvore da Vida, mas continuo de pé atrás com Melancholia.

Conclusão: são os dois melhores filmes deste ano, só partilhando o pódio com o Road to Nowhere, do Monte Hellman (um filme em tudo semelhante - estou a gozar).

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