sábado, 6 de dezembro de 2014

Naomi



Passei as últimas noites a tentar acabar Naomi, de Jun'ichirō Tanizaki, como se me estivessem a torturar - aliás, como se Naomi, além de Jōji, me torturasse a mim também. Acabei o livro ontem, no comboio, e a primeira imagem em que pensei depois de o fechar foi neste plano da Rosamund Pike no Gone Girl. Mais do que o perfil psicótico e manipulador de ambas as mulheres (Naomi e Amy), o que verdadeiramente liga o livro com o filme é o seu mórbido, horroroso final: em ambos os casos, a relação do casal não termina, mantém-se, mesmo depois de todas as provas dadas do que de errado, doentio, sinistro, ela comporta. O perverso nesse final é o que de pacificador ele carrega: depois do tumulto (a separação de Naomi e consequente desespero de Jōji; o reaparecimento de Amy), tudo volta ao "normal", que, no caso, significa a conformação, a resignação, a podridão do que algum dia já se pôde chamar amor e a certeza de que, dali para a frente, o inferno é condição tacita e mutuamente aceite.

Num segundo momento, quando visualizei Jōji completamente submisso às mordomias e caprichos (todos e mais alguns) e aos amantes (... todos e mais alguns, também) de Naomi, foi de Martha que me lembrei (escrevi sobre o filme aqui), encarcerada ("entrevada" nunca fez tanto sentido), no final do filme, numa cadeira de rodas, e, por isso, definitivamente presa na masmorra barroca tutelada por Helmut.



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