quarta-feira, 25 de março de 2015

Walsh #25 Crítica "The Anderson Tapes" (Noutras Salas)



O À pala de Walsh fez um lifting (não tão profundo como o da Zellweger - ah, mas não, é bluff, uffa!, suspira a humanidade) e apresenta-se com nova roupagem. Aproveitando a boleia, a minha crítica a The Anderson Tapes (1971), do Sidney Lumet, também está aí (clicar). O filme passa amanhã no Cinema Passos Manuel, às 22h, pela mão da Milímetro.

Ao chegar ao prédio, Connery repara numa câmara de videovigilância e olha-a, surpreendido (talvez também porque, dez anos antes, tal não seria comum), incomodado e, sobretudo, desconfiado. Esta “desconfiança” é tudo num filme e num realizador que, ao longo da sua extensa filmografia (43 filmes), sempre “desconfiou”, sempre duvidou, da justiça e do direito [12 Angry Man (Doze Homens em Fúria, 1957); The Verdict (O Veredicto, 1982)], da polícia [Prince of the City (O Príncipe da Cidade, 1981)], enfim, da ordem instituída. (...) Note-se que Connery não está, nesse momento, a planear ou a executar qualquer assalto, pois aí, sim, a presença da câmara ser-lhe-ia naturalmente inconveniente. Não; Connery acaba de sair da prisão, está clean e apenas de visita a Ingrid, porque, como lhe diz ainda no elevador, “I haven’t been laid in over ten years”. O olhar desconfiado de Connery é, por isso, não o olhar do Connery-criminoso a registar mentalmente os obstáculos potenciais a um plano de assalto, mas o olhar do Connery-pessoa, do Connery-cidadão. Ou seja, e resumindo, o olhar desconfiado de Connery é, afinal, o olhar de Sidney Lumet, profundamente incomodado e relutante em aceitar o esquadrinhamento visual e sonoro da vida privada dos cidadãos em nome da “segurança” e do “bem estar" (...)".

(Excerto)

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