No primeiro dia do ano, o Rimas e Batidas publicou o meu balanço de 2015, com a feliz particularidade de a proposta que me foi feita ter sido no sentido de abordar a música que ouvi em 2015 (e não "os melhores" de 2015), o que permite que as referências incluam gente de tempos e eras muito distintas, bem como o cruzamento com bandas sonoras de filmes. Mais "contemporaneamente", digamos assim, além de me interrogar sobre o fenómeno To Pimp a Butterfly, deixo elogios a The Good Fight (Oddisee), The Free Food Tape (Slow J; não se deixem enganar, é produto nacional), Sou Quem Sou (SP Deville), Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (Emicida), entre outros.
Para ler aqui (clicar). Bom ano!
É neste estado das coisas que se pode compreender – e problematizar – o fenómeno To Pimp a Butterfly, autêntica ilustração de como a peer pressure é geradora de unanimismos pouco ou nada genuínos: de repente, o álbum de Kendrick Lamar – um tratado da música negra, uma magnífica obra que ressoará nas próximas décadas, disso não duvido – aparece em primeiro lugar em tudo o que são listas dos melhores álbuns do ano. Coisa da máxima ironia: o politicamente correcto a “obrigar” à eleição de um álbum de hip hop, género politicamente incorrecto por natureza (por todos os motivos, bons e maus), como “o melhor do ano”. Mas a questão também se coloca a um outro nível: será verosímil que, para todas essas publicações e mais algumas, o álbum de Lamar seja, de facto, o melhor do ano? Bom, possível até poderá ser, mas pouco credível (e, se o for, então é um aborrecimento, porque significaria que gostaríamos todos do mesmo…!), sobretudo quando tal escolha é desacompanhada de exercícios críticos informados que a sustentem (ou, então, que se limitam a reproduzir frases de efeito de outras publicações).
[Excerto]
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