segunda-feira, 2 de maio de 2016

IndieLisboa #5: A verdade como modo de existir em Vincent Macaigne



Voltei de Lisboa e de uma semana de bons filmes (nenhum extraordinário, ainda assim), cujo ponto alto foi a descoberta de um realizador e actor chamado Vincent Macaigne.

O (apaixonado) texto com que encerro a minha cobertura do IndieLisboa é, justamente, sobre ele e pode ser lido no À pala de Walsh (clicar).

Para quem tiver interesse, os meus textos sobre o festival: [1], [2], [3], [4], [5].


"Não há como dizê-lo de outra forma (a não ser pelo gozo pelo rebuscado, que não cultivo): Vincent Macaigne é um grande actor. É daqueles a quem tal adjectivação, por mais utilizada que seja, por mais banal que se torne, assentará sempre com a propriedade e o rigor que ela genuinamente possui, em qualquer momento e em qualquer lugar. Macaigne carrega essa intemporalidade na palete de recursos dramáticos que convoca, na fisicalidade do seu corpo, grande e possante (há algo de Gérard Depardieu em si…), a contrastar com a profunda fragilidade emocional das suas personangens. Tanto em Une histoire américaine (...), como em Tonnerre (...), como, ainda, em Les deux amis (...), Macaigne é o “homem na valeta”, o homem rejeitado por uma mulher, o animal ferido – o “cachorro” a quem, por vezes, só falta mesmo a língua de fora… – que se recusa a lamber as feridas. Como um miúdo que faz uma ferida no chão da escola a jogar futebol mas não resiste à tentação de voltar a jogar no dia seguinte, Macaigne não desinfecta a ferida, não lhe passa Betadine, não coloca um penso, não deixa sarar (...). A crosta – a primeira barreira protectiva – nunca chega, por isso, a formar-se, justamente porque Macaigne é avesso à cicatrização, preferindo voltar ao campo de futebol – a um “campo de batalha” chamado Amor – e fazer, numa qualquer disputa de bola, um carrinho de joelho no chão. “Sem medo!”, como se diz na gíria".

[Excerto]

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