quinta-feira, 21 de junho de 2018

Crítica "DAYTONA"

 
 
No Ípsilon da última sexta-feira, continuo a acompanhar o ressurgimento da GOOD Music e de Kanye West, desta feita olhando para "DAYTONA", que junta o último (produção) a Pusha T (voz).
 
 
«O que é interessante, porém – e, de resto, extensível a todo o rap que se assume, genericamente, como cru ou agressivo –, é que todo este discurso “egotripesco”, de auto-engrandecimento, vai sempre produzindo – ou deixando-se contaminar por – importantes anotações sobre os EUA, seus mitos... e paranóias, do sonho americano à obsessão materialista, do sufoco das minorias e dos mais pobres a uma (compreensível) arrogância nova-riquista (“See these diamonds in this watch face? / All that shit came from pressure”, desabafa Pusha em “Come Back Baby”), realidades que, porventura, nós, europeus ocidentais, nunca chegaremos a compreender por completo. Houve quem já se interrogasse sobre a razão para o fascínio de alguns críticos (onde não nos incluímos, isso é certo) pelo fascínio, por sua vez, de certos rappers com o dinheiro. É uma questão válida e à qual Pusha T poderá dar uma ajuda na resposta com estes dois versos: “They say don't let money change you / That's how we know money ain't you”. Por outras palavras: quem nunca esteve na situação de nada ter senão uma família tragicamente disfuncional e um quotidiano de tráfico, armas e pobreza e de um dia passar a desfrutar de tudo e mais alguma coisa provavelmente não conseguirá jamais compreender, enfim, how money does change you (mas é também por isto que os rappers são dos músicos contemporâneos mais fascinantes, pela capacidade de fazerem conviver um arrazoado ostentatório com um objecto extraordinariamente poético)».
 
 

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