sexta-feira, 21 de setembro de 2018

se calhar há um dia
em que te encontro
lá fora
como vocês dizem
peço-te
umas aulas
professora de quem
nunca me interessei por uma lição que fosse
arrogância feita de livros
teorias
desprezo por essas ondas paredes
tubos tábuas rasantes

se calhar há um dia
quando estamos todos
sentados em
silêncio à espera do milagre
(vem em forma de garganta
engolir-nos)
eu decido remar um pouco só
para não esfriar
e estás lá tu sentada
indiferente
mimadamente triste
tristemente bonita
(os teus cabelos foram os únicos
que nunca me fizeram
comichão no nariz)
provavelmente uma mão
no queixo a outra chapinhando
maldição que ninguém sabe
quem ta atirou para cima
então olhamo-nos
e tu pensas nas flores no pára-brisas
que terás feito com elas
pensas tu
penso eu talvez os dois
(cuidado com as distracções, isto
não foi feito para pensar
a garganta pode estar aí ao virar da esquina)
e com o bilhete?
havia bilhete ou eram só
flores já não sei mas ó sim se
me lembro do correio de resposta
no quarto-de-banho dos meus pais
gelidamente impedindo
que o meu irmão tão novo
ainda fosse testemunha do
seu primeiro crime

se calhar voltamos a
terra come
back to earth e volto a mostrar-te um disco
que amo como em dois mil e seis amava
o pratica(mente) que vieste comprar
comigo, já no carro
a partilhar com o pti
o sumário do dia,
caderno que altivamente não deixo que olhes
por cima do meu ombro.

se calhar
não
discos que seriam aulas novamente
a música do costume
venham as do mar
onde só o vento
é quem faz as revelações.

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