quinta-feira, 18 de outubro de 2018

se me perguntas se
é a suor a que cheiras se
te abraço
a resposta (é sim) só se
primeiro descobrires a língua
despudoradamente
o tempo suficiente para ficar cá fora só,
virgem, desamparada no mundo

se te ris ela voltará
para dentro, mantém-te
séria rir só com as sardas
os olhos
abertos com(o) os meus
e ambos testemunhamos então
como todas as línguas
de amor são ridículas
momento em que as pestanas já não mais sombra fazem
a essa impronunciável órbita de frutos verdes e acastanhados

os olhos
enfim
fechados
por substâncias mais alucinantes
do que todas as outras que adormecem
os que à nossa volta dançam
as mãos, jogo das escondidas
sabotado à partida
as nossas ancas numa estranha
mutação fisionómica que as revistas da especialidade não previram
são quem tem os discos nas mãos
definem que é funaná
que ouvimos quando é vigorosa e repetitiva
a batida e de repente isto não é berlim
muito menos o porto
viemos à ilha de santiago
olha, ilha, não diria melhor
quatro arenosos pés que miro cá de cima
em redor, o oceano
só o atravessaremos quando as luzes nos forçarem
a abrir os olhos

ia haver um furacão
eles bem avisaram nas notícias.
mas tu não te precaveste devidamente
pensavas que podias sair à rua com as sardas
como se nada fosse.
por isso acabarás espantada recusando olhar
para a câmara na entrada de um prédio feio
resgatada por um humilde mas muito posto canteiro
como a dona teresa das cervejinhas frescas pela fresca da manhã
a quem tu tanta estima dispensas.

no fim da caminhada
sentámo-nos na tua caravana e disseste:

já demos umas voltas,
nós

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