segunda-feira, 8 de outubro de 2018

MICAR - Texto "12 Angry Men"

 
 
Decorreu na semana passada a 5ªedição da MICAR – Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista, para cujo catálogo escrevi um texto sobre “12 Angry Men”, que foi também publicado on-line no À pala de Walsh. O título original do texto é “AS ASAS DOS JUSTOS” e o filme, esse, um tratado de todos os tempos, certamente fundamental numa época como a nossa em que todos têm sempre muita pressa em disparar acusações e denúncias nas “redes sociais”.
 
 
"Sobre a personagem de Fonda, dizíamos, apenas viremos a saber, numa rápida conversa de quarto-de-banho (literalmente), que é arquitecto. E assim voltamos, então, à referência bíblica que insinuámos nas primeiras linhas – e voltamos também, repare-se, a Bresson e à Graça. Talvez que Fonda, esse corpo alado disfarçado num alvo fato, não seja, afinal, um “arquitecto” qualquer, e esta “última reunião” de doze homens – que lembra uma outra que Leonardo Da Vinci um dia imortalizou – não seja, também ela, uma reunião qualquer (Fonda como um Judas “invertido”). Quiçá Fonda seja um qualquer “grande arquitecto” ou um enviado seu que, tal qual o anjo de James Stewart no 'It’s a Wonderful Life' de Capra, uma vez cumprida a sua missão na terra dos homens – a de “fazer o bem” (Do The Right Thing, diria Spike Lee), pois que, como se lê na placa cimeira do tribunal (de imponentíssimas colunas que um dia Mussolini recuperou para o espaço público italiano, e que Lumet apanha no travelling que abre o filme), “Administration of Justice is the Firmest Pillar of Good” –, parte, batendo as asas, daquela escadaria outrora uma via-sacra. A chuva parou. Oxalá que por cada anjo (ou justiceiro) exterminador houvesse um anjo salvador".

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