sábado, 15 de março de 2008

furos e cores

O PS decidiu apresentar no Parlamento um projecto lei para regular a actividade dos estabelecimentos onde se fazem tatuagens e piercings. Todavia, depois de analisarmos o projecto lei, apercebemo-nos da distância perigosa que vai entre regular e proibir.
Uma coisa é regular a actividade destes estabelecimentos no que toca aos seus equipamentos, higiene dos métodos e instrumentos de trabalho. Até aqui, o projecto do PS é de louvar. Como diz o deputado do PS, Renato Sampaio, o projecto constituirá um "factor de protecção dos consumidores e de informação dos profissionais". Certo.
Outra coisa é proibir. E aqui a proibição socialista assume duas dimensões: a proibição de menores de 18 anos fazerem qualquer piercing e tatuagem; e a probição de qualquer cidadão, qualquer que seja a sua idade, de fazer piercings na língua ou nos genitais.
Parece-me a mim que esta segunda parte do projecto não tem muito que se lhe diga, a não ser que é uma intromissão na liberdade de cada um fazer o que lhe bem apetece. O PS diz que a medida se destina a evitar infecções e lesões cutâneas. Antes de mais, é de saudar esta omnisciência de Sócrates e companhia no que toca à arte dos piercings. Não que eu seja um perito na arte mas, possuindo algum historial na questão e conhecendo muita gente que usa e abusa de furos, posso afirmar com alguma certeza que qualquer piercing, à excepção de locais cronicamente complicados - casos da nuca ou do antebraço, por exemplo - quando feito com os instrumentos adequados (pistola ou agulha conforme os locais), em perfeitas condições de higiene e seguindo-se os conselhos posteriores à sua aplicação (desinfecção, não mexer, etc), raramente traz problemas para o cliente.
Depois vem a seguinte questão: antes de qualquer suposta preocupação do Estado com a minha língua (!), está a minha preocupação. A minha liberdade. A minha vontade. E estas estão de facto antes, mesmo muito antes, de qualquer preocupação do Estado. Por muito atenciosa que ela seja (?).
Ao lêr alguns comentários a esta notícia num site de um jornal diário, a minha apreensão subiu de tom. "Se os pais já não têm mãos nos filhos, ao menos que o Estado tenha!". Pois é. É este o enorme perigo em que esta medida se traduz. Um perigo para a democracia e para a tolerância. Porque basta darmos uma volta pela Europa, para vermos homens e mulheres tatuados e com piercings nos supermercados, nas lojas, nos correios, na polícia, nos transportes públicos,...
E já agora, deixo uma pergunta. Porquê que o PS não se lembra também de regular o funcionamento dos solários? É que estes, ao contrário dos piercings, já foram provados como verdadeiras ameaças para a nossa pele...

2 comentários:

  1. ora é isso mesmo ... regular os solarios faz muito mais sentido.
    ...
    e proibir nos estabelecimentos não invalidará que o mesmo não venha a ser feito potencialmente em piores condições de higiene e com maiores riscos fora dos estabelecimentos qualificados... exceptuando a recente lei do tabaco, a proibição tem habitualmente o resultado inverso.

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  2. porque os solários são fashion, e as pessoas fashion não ficam feias na sociedade. e então eles não se preocupam que ganhem cancro, desde que não tenham um ar demasiado de "bandalho".

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