Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
A Rebelião das Massas (iniciado em 1926 a partir das crónicas de Ortega y Gasset no diário espanhol El Sol) é um livro assombroso. Em cujas páginas os meus olhos voltarão concerteza a repousar muitas vezes.
Demorei algum tempo a lê-lo porque a absorção das suas linhas assim mo exigiu. Durante esse tempo, muitos foram os momentos em que pensei em deixar aqui alguns excertos. Acontece que quando sublinhava um certo parágrago para aqui o registar, voltava a sublinhar logo outro na página a seguir. Isto foi uma constante do príncipio ao fim do livro. Daí que tenha receio em deixar aqui algumas linhas com medo de esquecer outras. Porque é de facto uma obra assustadoramente inteligente em todo o seu corpo. E, compreensivelmente ou não, como aborda o próprio Ortega, profética.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
blasfémia (a de Francis Bacon)
Foi criada entre nós a primeira Associação Ateísta Portuguesa (AAP). No seu site, pode conhecer-se o seu manifesto e os seus objectivos.
Caso para dizer... aleluia!
Caso para dizer... aleluia!
terça-feira, 29 de julho de 2008
fala um portuense
Mais uma vez regressei de Lisboa, mais uma vez trouxe comigo uma vontade gigantesca de lá voltar. Este ano tinha prometido a mim mesmo que iria passear duas semanas por Lisboa como um verdadeiro turista de mapa e mochila às costas. Infelizmente, ainda não sei se será desta que partirei à descoberta dessa ninfa do tejo.
Desta feita, fiquei em casa de uma amiga minha em Alfama. Bem nos meandros daquela teia de ruas, ruinhas, ruelas e vielas, escadarias e corrimões, roupa a secar nas nossas cabeças e gente às janelas, vozes e confusão... ah, tanta vida! Mais uma vez saí de Lisboa a suspirar, perscrutando da janela do carro a misteriosa magnificiência da capital...
Ontem à noite fiquei também a conhecer o Tejo Bar. Para os lisboetas mais apegados a Alfama, o espaço será concerteza um local de já tantas noites passadas. Para mim, virgem na experiência, foi um tempinho delicioso o que lá passei. O Tejo Bar é um tasquito acolhedor com música ao vivo e onde quem toca está no meio de nós a beber uns canecos. Canta-se Amália, Caetano, Chico Buarque e tantos outros...
Oh Lisboa!
Curiosidade: os dois senhores na foto acima - que tirei do google images - estavam ontem lá a tocar.
domingo, 27 de julho de 2008
As poeiras que me fazem sorrir
Macaquinhos de alfazema e Puta da transcendência.
Vai à merda. Dá-me um rumo. Ou dá-me a morte. De uma maneira ou de outra. Venci! Porque assim o digo.
Empapado em suor acordo. E arrependo-me de muito. Mas digo-te na mesma:
- És na mesma uma puta, Puta de transcendência!
Vai à merda. Dá-me um rumo. Ou dá-me a morte. De uma maneira ou de outra. Venci! Porque assim o digo.
Empapado em suor acordo. E arrependo-me de muito. Mas digo-te na mesma:
- És na mesma uma puta, Puta de transcendência!
Do Sossego
terça-feira, 22 de julho de 2008
pause
Irei ausentar-me esta semana para um (julgo) merecido descanso de férias por terras minhotas.
Até breve!
Até breve!
domingo, 13 de julho de 2008
banda sonora
O Bósforo tem uma nova ponte.
Não será tão grande como a Vasco de Gama, mas tem o seu encanto!
Não será tão grande como a Vasco de Gama, mas tem o seu encanto!
beautiful like love
DJ Tonk é um produtor e dj americano de S. Francisco de créditos firmados na cena hip hop underground. Tal como noutros artistas que aprecio, Tonk junta ao street
beat tons jazzy muito relaxados.
Beautiful (LOVE, 2004) é o clip que aqui deixo, no qual o mc de serviço é Rashaan Ahmad (que recentemente lançou The Push).
beat tons jazzy muito relaxados.
Beautiful (LOVE, 2004) é o clip que aqui deixo, no qual o mc de serviço é Rashaan Ahmad (que recentemente lançou The Push).
sábado, 12 de julho de 2008
underground
Depois de por aqui ter falado do Cool Jazz Fest 2008, falo agora do Anti Pop Music Festival 2008.
O Anti Pop é um festival de música electrónica que se iniciou em 2006 e que tem trazido a Viana do Castelo alguns dos melhores homens nos pratos no que toca a electro, minimal, techno, progressive ou dub.
Em 2006 tive o privilégio de ouvir suprasumos como Vitalic, Michael Mayer, Trentemoller, Tigerskin ou Alexander Kowalski.
O ano passado estava a percorrer a Europa pelo que não pude ir. De qualquer forma, o cartaz foi tão bom ou melhor do que o de 2006.
Este ano não foge à regra. Dias 31 Julho, 1 e 2 Agosto.
Preferidos: Gabriel Ananda, Josh Wink, Marco Carola, Modeselektor, Marc Houle, Mathew Johnson, Freshkitos (portugueses e portuenses).
quinta-feira, 10 de julho de 2008
correndo o risco de ser um post igual a tantos outros blogs no dia de hoje
Depois de consumidas tantas músicas, vistos tantos concertos (em video, claro), absorvido tantas letras, conhecidas tantas estórias das revoluções de Zack de la Rocha (alguém em quem a Teoria da Revolução Permanente trotskysta assenta que nem uma luva) e feitas tantas moshs ao som de Rage Against The Machine... eles vão mesmo tocar entre nós!
Hoje é o dia R: de Rage, de Raiva.
A caminho de Oeiras eu vou. Até breve!
terça-feira, 8 de julho de 2008
new something
Os SubVerso são a dupla formada por Maze (vocal) e Soma (produtor). Para os menos conhecedores do panorama do (bom) hip hop que por cá se faz, sinto-me na obrigação de prestar homenagem a um dos mais brilhantes mc's portugueses. Pensar num Master of Cerimony (no verdadeiro sentido do termo) é pensar em alguém como Maze. Mergulha na felicidade (Dealema, 2003) é para mim um tratado de auto-determinação, auto-estima, sobrevivência psíquica. O hiper-realismo de que alguns acusam o hip hop, nomeadamente o meu querido pai, é talvez assertivo. O que não lhe retira valor, a meu vêr. De qualquer forma, se Maze recolhe alguns louros, é precisamente por saltar essa cerca hiper-realista e transportar-nos para outros recantos. O mesmo fazem grandes nomes como Common, A Tribe Called Quest, Blackalicious, Digable Planets, Kero One, Pete Philly and Perquisite, The Roots, entre outros. Gostaria de dissertar um pouco mais acerca da dialéctica realismo/poesia. Mas fica para uma próxima.
A Maze junta-se Soma, que aos beats boom-bap (lembrando KRS-One) empresta o jazz-flow aqui e ali preenchido com uns baixos muito soul. Assim é o resultado do primeiro single: Dá-me 1 sinal.
Fica aqui o link do myspace dos SubVerso para uma olhadela curiosa.
A Maze junta-se Soma, que aos beats boom-bap (lembrando KRS-One) empresta o jazz-flow aqui e ali preenchido com uns baixos muito soul. Assim é o resultado do primeiro single: Dá-me 1 sinal.
Fica aqui o link do myspace dos SubVerso para uma olhadela curiosa.
o meu festival de verão
Depois de Vilar de Mouros, Sudoeste, Superbock e tantos outros, este é o festival onde este ano eu não queria perder um concerto!
Preferidos: Herbie Hancock (!), Caetano Veloso, Mayra Andrade.
Curioso por (vêr e) ouvir: Ana Moura, Lizz Wright, Diana Krall.
Ainda por cima em terrinhas sulistas por mim desconhecidas. Só faltava mesmo um dia de concertos em Sintra!
sábado, 5 de julho de 2008
mudam os olhos
Neste momento, a moça está junto ao piano a folhear com os dedinhos um calendário. É uma dessas mulheres que causam o espanto geral quando surgem em sociedade. Incrivelmente bonita: alta, cabelo escuro, divinos olhos quase negros, esbelta, seios fortes, maravilhosos. Seus ombros e braços são antiguidade clássica, o pezinho é sedutor, o andar de czarina. Está hoje um pouco pálida; para compensar, os seus lábios pequenos, roliços e escarlates, de contornos admiráveis, entre os quais reluzem como colar de pérolas uns dentes pequenos e regulares, são daqueles que aparecem três noites seguidas nos sonhos - basta olhar para eles uma vez só. A expressão dela é séria e grave. Monsieur Mozgliakov parece ter medo do seu olhar fixo; pelo menos, como que se torce quando se atreve a olhar para ela. Os movimentos de Zina são altivamente desprendidos. Enverga um vestido simples de musselina branca. Fica-lhe bem o branco, tudo lhe fica bem, aliás.
Usa num dedinho um anel entrançado com os cabelos de alguém, e a julgar pela cor não são os da mãezinha; Mozgliakov nunca se atreveu a perguntar-lhe de quem eram os cabelos.
in Um Sonho do Tio, Fiódor Doistoiévski
Usa num dedinho um anel entrançado com os cabelos de alguém, e a julgar pela cor não são os da mãezinha; Mozgliakov nunca se atreveu a perguntar-lhe de quem eram os cabelos.
in Um Sonho do Tio, Fiódor Doistoiévski
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Porque quem fala no século XXI em "exploração do homem pelo homem" é anacrónico, marxista-leninista ou retrógado
A 2.400 metros acima do nível do mar, sobre a cimeira do vulcão Ijen, a terra é amarela e o ar irrespirável. No meio de uma nuvem tóxica e pestilenta, cerca de 200 trabalhadores lutam todos os dias através da remoção do enxofre das rochas com suas mãos vazias: muitos deles não têm mais do que 30 anos de idade, como resultado dos gases que lhes destroem os pulmões.
A mina de Ijen, na Indonésia, é uma das últimas minas de enxofre a céu aberto existente no planeta. Os gases sulfurosos são expulsos pelo vulcão através de longos tubos e depois do arrefecimento tornam-se um elemento precioso, que os proprietários venderão como combustível ou para fabricar pneus e pesticidas.
Muitos dos homens que trabalham aqui estão descalços e já sofreram todos os tipos de queimaduras, ao longo dos anos. Cinco minutos, neste lugar, são suficientes para uma pessoa normal adoecer. Os proprietários das minas apenas paga a estes homens quatro euros por cada dia útil, e ainda assim consideram ser um bom negócio: é o dobro do que eles podem pagar em qualquer plantação de café na área.
O trabalho da mina é dividida entre os que separam o enxofre da rocha e aqueles que o transportam pela montanha abaixo. Estes últimos carregam com cestas de entre 70 e 100 quilos de rocha e descem quilómetros a pé para a base do vulcão. Muitos deles fazem esta jornada, duas vezes por dia, o limite da sua resistência.
O resto, os que descolam o enxofre da rocha estão equipados com longas hastes de ferro, durante aproximadamente cinco horas, respirando os fumos que saiem do vulcão. No final do dia, os habitantes deste pequeno inferno extraiem cerca de 12 toneladas de enxofre nas montanhas. E alguém, a muitas milhas de distância dali, terá ficado um pouco mais rico.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
em estado bruto
Ingrid Bettencourt e 3 militares norte-americanos foram libertados do cativeiro mantido pelas FARC. No caso de Ingrid, já ia em 6 anos. 6 anos. 6 anos. 6 anos. 6 anos.
Uma vida. Não há nem nunca haverá causa alguma que justifique privar-se o homem do seu mais elementar anseio: liberdade. E a Liberdade não se cola a ideologias. Liberdade é liberdade.
Hoje estou emocionado. As águas do Bósforo estão menos turvas. Free Ingrid!