quarta-feira, 7 de março de 2012

se Hopper fosse vivo

Se Hopper fosse vivo, teríamos todos em casa um daqueles livros grandes no qual, entre outros, figuraria um quadro onde se vêem dois homens, à noite, parados num passeio iluminado a amarelo torrado de uma avenida larga e anónima, defronte da vidraça de uma loja já fechada fixando o olhar no televisor luminoso que, de lá de dentro, lhes mostra, num silêncio absoluto, um jogo de futebol, alumiando-lhes o rosto que não vemos. Pelo traço, compreende-se que os homens não se conhecem, não falam sequer, que o seu encontro foi fruto do maravilhoso acaso da urbe moderna, onde todos se cruzam, as pontas dos sobretudos se tocam mas ninguém se relaciona. Têm ambos o pescoço flectido para a frente, próprio de quem observa o seu objecto com atenção, e os braços descaídos, em paralelo.

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