A HIPHOPulsação Magazine está de volta - infelizmente, pela última vez. O número de Agosto 2012 será o último e, por esse motivo, cessará, também, a minha colaboração com a revista. A revista pode ser lida gratuitamente aqui.
O meu artigo opinião, intitulado "O hip-hop entre o modernismo e o pós-modernismo", consta da rubrica Rapensar, páginas 41-43. É uma reflexão sobre o lugar que o hip-hop, enquanto género musical e, mais latamente, artístico, ocupa nos caminhos que a Arte tomou no século XX. Aqui fica um (extenso) excerto:
"O hip-hop, na sua composição nuclear, parte de uma premissa clara: a de que é possível e, mais importante, belo, colar e sobrepor diversos géneros e sensibilidades musicais – essa a essência do sampling. Ao misturar as batidas dos sound system jamaicanos com as sonoridades dos monstros sagrados do jazz e da soul, os jovens do Bronx mostravam ao mundo um dos rostos mais visíveis da revolução igualitária na Arte: a sua dessacralização e, consequentemente, o caminhar rumo à fusão, ao experimentalismo, enfim, a uma espécie de “vale tudo”, no qual um sample de Ray Charles deixa de ser uma peça grave e solene para se metamorfosear num elemento mais na composição de um beat. Neste particular, o hip-hop, como género musical, afirma-se, pois, como profundamente modernista.
(...)
Todavia, o que há de particular no hip-hop é o facto de ele não se resumir a um modernismo puro, antes convocando, também, algumas das notas típicas da era que se lhe seguiu: o pós-modernismo. No domínio artístico, o pós-modernismo assentou numa reabilitação do passado, isto é, de alguns dos seus valores, gostos e normas. (...) É difícil, pois, não ver o que de pós-modernista o hip-hop possui, ontem como hoje. Quando Eric B. samplou, em Paid in Full (1987), nomes como James Brown, Bobby Bird ou Syl Johnson, ou quando, hoje, Kanye West sampla, em Late Registration (2005), Curtis Mayfield, Shirley Bassey ou Otis Redding, que melhor exemplo de ecletismo e revivalismo podíamos ter? Desde Grandmaster Flash (que, em The Message, 1982, samplou funk americano, rock inglês e por aí fora) que o hip-hop sempre prestou o seu tributo aos grandes artistas do passado, reconhecendo-lhes a sua musicalidade ímpar através da incorporação das suas melodias nos beats".
De resto, sobre o fecho da revista, limito-me a transcrever o que, no artigo, deixei em post scriptum:
"Tive, até esta parte, a oportunidade e felicidade de colaborar com a HIPHOPulsação Magazine, projecto levado a cabo, de forma desinteressada e apaixonada, pelos fundadores do blog que lhe deu nome: o Druco e o Sempei. Coisa rara hoje em dia, sobretudo num meio como o hip-hop, onde a competitividade nem sempre é saudável e se prefere falar mal da galinha do vizinho.
Numa altura em que, segundo sei, a continuidade desta revista está em causa, só posso agradecer o permanente entusiasmo dos coordenadores deste projecto com a minha colaboração e desejar, do fundo do meu coração, que ele não morra ou que, pelo menos, os seus timoneiros não “desistam” do hip-hop e, mais importante, de pensar o hip-hop. Em Portugal, são poucos os espaços de crítica e reflexão construtiva sobre este género musical, e o Druco e o Sempei vinham, até a esta parte, com os seus textos, críticas e entrevistas, a proporcionar um pequeno oásis nesse deserto. Só por isso, o meu muito obrigado. Word up!".
Muito obrigado pela colaboração Francisco, sempre num nível mais do que requintado! Foi um grande prazer e privilégio!
ResponderEliminarUm abraço