quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Oh Mãe, porque é que eu não sou baptizado?

Passamos a infância a querer ser "normais" para depois passarmos o resto da vida a querer ser diferentes.

MGS dixit.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Maybe one day



"Maybe one day" (feat. Black Spade), álbum Give Me My Flowers While I Can Smell Them (2012). Blu & Exile. Teledisco realizado por Jerome D.


"Sunshine, what a day to take a walk in the rain
Wash the thoughts on your brain dry
Get lost for a change
Was hitting up? for some change just to cope with my lame life
Putting rings on queens that I wouldn't wife
Pushing dreams on fiends with this wooden mic
And it seemed so extreme to be free
So I just adjusted to being me, truly"

Minus



"Antes da música", EP Distracções (2012). Minus.

Depois da crítica, a entrevista - ali.

resistir

"Vamos cozinhar uma omeleta, eu e as minhas filhas. É preciso desfiar os filetes de salmão que sobraram de ontem, para depois misturar o peixe com os ovos mexidos. Ponho Bach a tocar na cozinha. Desfiamos o salmão e batemos os ovos ao som de Bach. Isto é resistir. Porque nesta meia hora assim passada na cozinha, os que nos querem triturar dissipam-se, eclipsam-se, deixam de nos ocupar o espírito. (...) Se nos querem servir angústia para o jantar, afastarmos a angústia para longe, nem que seja só por um bocadinho, é um forma de resistência. Será alienação? A alienação é sinónimo de alheamento, e eu sei perfeitamente o que estou a fazer e digo-os às minhas filhas, explico-lhes o sentido dos nossos gestos: estamos a levar a cabo uma cerimónia de resistência ao vazio, estamos a erguer um dique contra as invasões bárbaras.
Não permitir que todas as coisas se banalizem é resistir. Não deixar que o hábito nos embote a indignação ante o que é infame e o júbilo ante o que é grandioso também é resistir. Não deixar de executar o gestos banais com a paixão das primeiras vezes é resistir. Partir os ovos devagarinho, tirar as espinhas do peixe uma a uma e não apressar a preparação da omeleta, fazendo coincidir o momento em que apagamos o lume do fogão com o final do concerto de Bach e convertendo tudo isto numa cerimónia familiar é resistir. Porque as cerimónias de trazer por casa são uma barreira contra o caos e o arbitrário, e o que nos querem ver pelas costas trazem o caos e o arbitrário para dentro das nossas casas e para dentro das nossas vidas".

Paulo Faria, "Resistência", in Ípsilon, 19 de Outubro de 2012, p. 39.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

no tempo do "Sol Música"



"No Future", EP Flexogravity (1996). Mind da Gap e Blind Zero.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

um paradigma

Numa gruta, dois homens conversam. É uma gruta dos nossos tempos, onde a claridade impera e se superaram alegorias - julgam os homens, que não estes dois - ultrapassadas. Um deles diz ao outro: creio poder dizer que o paradigma intelectual da nossa era - e, só para que não haja confusões, a era destes homens é a nossa -, e cuja verbalização tão boa aparência causa nas mais variadas esferas, é o de que "mudar de ideias é sinal de inteligência". O outro concorda, acenando vivamente. Mas cedo mudará de ideias.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

uma hipótese

Houve um dia em que todas as mulheres do mundo se juntaram numa desabitada ágora que, para o bem da humanidade, nunca havia conhecido as botas dos arqueólogos. Numa grande assembleia, perguntavam umas às outras: o que é que ela tem que eu não tenho?

domingo, 21 de outubro de 2012

um organismo vivo

É muito comum que pessoas amigas que, por uma razão ou por outra, se tenham afastado se interpelem - frequentemente em ocasiões passageiras - lamentando mutuamente o facto de que  "dizemos sempre que depois combinamos qualquer coisa e nunca o fazemos", para logo de seguida salvaguardar, olhos francos, que "não é por falta de vontade, não é mesmo, mas o tempo passa e esqueci-me".
Ora, isto (o facto de o reencontro não se dever à "falta de vontade") é, muitas das vezes, convém dizê-lo, falso. Geralmente, lembramo-nos desse encontro fortuito e dessa conversa mais "séria" e prolongada apalavrada para a "próxima semana". Só que, pura e simplesmente, não pegamos no telefone, não enviamos o email, não escrevemos uma mensagem com menos de vinte caracteres.
Esta atitude não traduz, contudo, qualquer hipocrisia, sonsice, cinismo, o que seja. Simplesmente, há momentos na vida em que as relações - as que interessam - precisam de respirar de modo próprio, livre, dilatando espaços, datas, encontros, gestos. E isso porque, ganhando vida, se autonomizam, em parte, dos seus autores, passando a gravitar numa esfera particular, com regras e códigos (de sedução, de tolerância, de dependência) próprios. O facto de uma relação conhecer este tipo de atribulações ("fases", em português escorreito) não revela nenhuma perversa "funcionalidade" ou "instrumentalidade"; não, apenas atesta a sua  genuinidade e robustez. Em lado nenhum está escrito que as amizades, aquelas que o tempo não contabiliza - novamente: as que interessam -, devam viver sempre em esfuziante piloto automático: intensas, plenas, prolixas.
As relações, as amizades, são como um organismo vivo: alimentam-se, exercitam-se, respiram, repousam, renovam-se, reencontram-se. Forçar ou violentar qualquer uma destas funções vitais, ainda que num aparente ímpeto de bonomia, é desrespeitar a natureza das coisas. A nossa e a dessa esfera particular que só aos afectos pertence.

sábado, 20 de outubro de 2012

KL


"Rigamortis", álbum Section. 80 (2011). Kendrick Lamar.


"The dance between emotions and autobiography is what makes Kendrick Lamar the most exciting, original and captivating voice that mainstream hip-hop has heard in years. His debut independent album, last summer's Section. 80, was effortlessly high-concept, incredibly thrilling and invariably insightful - a true work of art. (...) Kendrick is an MC that remembers what trully matters; not just a message and a narrative, not just poetry, but a method of delivery, a mastery of craft and point-of-view, steadfast individuality and the creation of new conversations.
(...)
Kendrick is that rare breed: a thinking man's rapper and a rapper's rapper both, able to captivate with worldview and meaning while excelling as a technical tradionalist and progressive experimentalist. His bars are dense with internal rhymes and ideas folding in on themselves. He paints pictures that are at once abstract, impressionist and precisionist. He doesn't rhyme like anyone else, displaying evolving thought pathways and rhymes patterns with each song".


Kris Ex, "Family Affair", in XXL, Vol. 16, No. 6, September 2012, p. 57.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Outra vez Primeira vez



"Outra vez Primeira vez", álbum Se eu fosse... (2012). Virtus.

"Outra vez Primeira vez" é o single de estreia do álbum de instrumentais que Virtus lançará na primeira semana de Novembro para download gratuito.
Não me querendo repetir nos elogios a tão requintada composição, chamo a atenção para o lindíssimo teledisco, realizado e montado pela Joana Rodrigues.

RUN DMC - agora modelo para meninas


Loja de rua em Langkawi, Malásia.

Por desvendar, continua o mistério daquela(s) palavra(s): "'CHUPAREPUBLIC". Desconfio que não terá nada que ver com isto...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

until the quiet comes



"Getting there" (feat. Niki Randa), álbum Until the Quiet Comes (2012). Flying Lotus. Teledisco realizado por Kahlil Joseph.


Reparem na homenagem: "J DILLA CHANGED MY LIFE" (1:17).

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

quem diz na literatura, diz no cinema, na música, etc.

"Devo dizer que o desaparecimento do crítico «influente» me parece benéfica, porque de alguma maneira libertou o juízo do seu «efeito» (sobre as vendas, sobre o «sucesso»), tornou-o menos professoral, mais descomprometido. Porém, o fim da «influência» acarreta o fim do «prestígio», e a prazo o fim da própria crítica. Hoje temos muito informação disponível, fácil acesso aos media estrangeiros, uma multidão digital opinativa, quer dizer, nunca houve tanta gente que «escreve sobre livros», e portanto o ofício um pouco «olímpico» de «crítico» parece arcaico. Mas a imprensa, ao desistir da crítica, está a abdicar da «conversa civilizacional» que é uma das funções dos jornais e revistas desde há 200 anos. Está a dar força à ideia de que em literatura todas as «opiniões» se equivalem, o que certamente será muito democrático mas é culturalmente pobre".

Pedro Mexia, "O tapete sem figura", in LER, Setembro 2012, p. 21.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

convite para um conto cruel

Design: Teresa Chow

Amanhã, dia 16 Out., pelas 18h15, o Cineclube FDUP passa aquela que foi a minha escolha pessoal para a programação deste semestre: Contos Cruéis da Juventude (1960), do Ôshima, filme precursor da Nuberu Bagu japonesa.

Todos os motivos e mais alguns são bons para acorrer a esta sessão, a começar no seu teor político (tão actual) e sexual e a terminar na forma desassombrada de fazer cinema. Ah, e esqueci-me da cor: uma paleta godardiana que parece pronta a incendiar, a derreter, a tela (os vermelhos, os vermelhos).

domingo, 7 de outubro de 2012

sobre o plano nacional de cinema

"Depois, diga-se uma evidência. Naquela altura, Portugal já estava atrasado em relação à maioria das escolas europeias e norte-americanas. Hoje, estar atrasado é uma expressão que já nem define completamente a falta que faz uma pedagogia para o olhar nas estruturas curriculares, desde o mais básico ao universitário. E finalmente não posso deixar conter a ironia pelo facto de tal plano surgir num momento em que genericamente já se estuda a curva de influência decrescente da sétima arte nos suportes de acesso ao conhecimento e à arte. Como se numa altura em que todos estivessem já virados para a “morte do cinema” e as novas tecnologias ligadas à internet, redes sociais, second life, iPads e por aí fora, o nosso sistema de ensino andasse a descobrir as virtudes do cinema… Não sei se tudo isto é mais trágico ou se, dessa discrepância histórica, possa resultar algo inesperadamente criativo. E depois, como toda a gente sabe, esta ironia é duplamente reforçada pelo facto de se tratar de uma iniciativa proposta em plena paralisação funesta do próprio cinema em Portugal. Portanto, se politicamente o timing não é o correcto (e historicamente ainda o é menos), sejamos humildes e contidos na euforia da celebração de uma iniciativa que, de tão óbvia e relevante, deveria ter sido pensada para aí a partir dos 80, pelo menos.

Agora uma outra evidência. O importante neste PNC não é obviamente mostrar filmes às crianças. Porque isso já eles fazem, em casa, com amigos, no cinema, etc. O importante é construir uma estrutura para controlar as condições de visionamento das obras escolhidas e sobretudo construir um discurso pedagógico sobre essas imagens. Esse discurso tem de integrar a importância do meio audiovisual como forma privilegiada de transmissão de informação na actualidade, mas sempre salientando que parte dessa transmissão é feita, quando ao cinema diz respeito, através de um poderoso mecanismo de distorção da lógica informativa que é o dispositivo artístico cinematográfico. Desta forma, parece incrível mas é verdade, é ainda hoje necessário combater a ideia de que, como a maioria das pessoas nasceu com esse sentido inato e orientador que é a visão, não é necessário aprender a ver.  Esse é um papel de cidadania importante destinado a transformar o consumidor de imagens em alguém que as sabe ler e por isso dotado de um sentido crítico face a estas".

Carlos Natálio, n'a pala de Walsh.

futurismo



Kuala Lumpur, junto às torres Petronas.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

my rear window


Kuala Lumpur, Malásia, ontem, meio-dia.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

foi um homem



"Homem", álbum Maturidade (2008). NBC, ao vivo, no Coliseu do Porto.

Direi que vi este concerto.