quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

excepções


"Excepções" (com Enigma), álbum UniVersos (2012). Virtus.

UniVersos (2012) foi, a anos luz da concorrência, o melhor álbum de hip-hop português de 2012 (e certamente um dos álbuns a eleger num qualquer top 5 de hip-hop português de sempre), assim como - e não preciso de pôr as mãos no fogo para dizer isto - um dos melhores álbuns da música portuguesa desse mesmo ano - di-lo alguém que, apesar de escrever, maioritariamente, sobre música negra e, especialmente, hip-hop, não deixa de escutar outros horizontes sónicos (ainda ontem pensava no quão bela poderia resultar uma colaboração entre a Jean Grae e a Fiona Apple). Sobre esse álbum-cometa, escrevi esta crítica, se bem que, hoje, olhando para ela, sinta que ficou muita - tanta - coisa por dizer.

Bom, o que me interessava mesmo, no entanto, era trazer para aqui "Excepções", talvez a única faixa de UniVersos que, estando disponível no youtube, ainda não constava deste espaço. É uma das minhas pistas preferidas, sobretudo por ser nela que a superlativa abstracção poética das letras de Virtus - bem como de Check e Each, rappers que formam os Enigma, aqui convidados - mais se evidencia, conferindo, como em tanto outras faixas do álbum, um enorme mistério às palavras e ao que elas projectam (sensações físicas, emoções, imagens, visuais e metafóricas, etc.). Sabemos que "Excepções" fala de relações, excepções (para ser redundante...), desilusões, esperanças incipientes, frustrações, avanços e recuos, "dessacralizações" (pais e filhos que não se amam, por exemplo). Sabemos isto, mas, chegados ao fim, a complexidade do que é dito e o polimento da métrica voltam a adensar o nevoeiro e, percebemos então, nada nos resta senão escutar, novamente, cada palavra. E cair no eterno - porque abstracto, precisamente - abismo que elas abrem (preparava-me para escrever "encerram", mas, aqui, a abstracção é uma porta infinita para significados e percepções). Perdi as palavras no meio do fumo e disse "fuma".

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