sexta-feira, 1 de setembro de 2017

justa distância

 
 
(Les Parapluies de Cherbourg, 1964, JD)
 
 
Se o travelling é uma questão moral, o local onde colocar – neste caso, “deixar” é ainda mais apropriado - a câmara também o pode ser (ou uma questão... "sentimental"?): na despedida, a câmara não vai nem com o comboio, nem fica com Deneuve (em movimento oposto ao do comboio). A meio, Demy deixa a câmara ficar exactamente a meio, sem tomar partidos, decisões, tão-pouco sugerindo eventuais desenvolvimentos para aquele dilacerado casal. No meio - o local justo, a justa distância, para filmar um e outro, sem necessidade alguma de fabricar "drama", porque Demy sabe que ele já existe (o quanto ele já existe…), sem aditivos gratuitos, naquela separação. Também por esta razão, e ao contrário do modo convencional como tantas vezes se filma, Deneuve não fica lá ao fundo imóvel, chorosa, a olhar o comboio partindo inexoravelmente. Não, o comboio vai e Deneuve vai também. Apesar de tudo, a vida segue - tem de seguir, é isso que nos (lhe) dizem... Na estação de comboios como, depois, na estação de gasolina, a vida segue.

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