terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

dieu donne sa lumière à qui il veut

de repente, ali estou eu em frente ao mar com um rapaz dinamarquês que nunca vi mais gordo a questionarmo-nos sobre se a beauty do mar existe por si só ou apenas porque nós assim a nomeamos. se, acaso nenhum homem existisse, o mar seria belo na mesma. seria? lembra-me o eva, não apenas pelo estatura, o rabo de cavalo, a barba aloirada, também pelo modo como escuta, como mexe lentamente o pescoço em direcção ao chão enquanto pensa naquilo que lhe dizem. a forma como se admira lentamente com uma ideia e acrescenta a sua opinião. e o cheiro... o cheiro! steen, não é sting o cantor, como o meu pai no seu macarrónico, carinhoso, inglês dirá. olhamos o mar, o meu irmão em diante a dar aos braços e a tentar pôr-se em cima de uma tábua de serotonina. passa um canito, passam dois, chamo mas não me ligam. levo a língua aos lábios para sorver o último resquício do chocolate, take one, these are the best croissants in porto, oh, thank you, man, naquele jeito humilde, trengo. começa a fazer-me lembrar uma pilha de gente: o mccord que mal conheço, o grande silvino, amigo dos meus pais, cujos verões se faziam de bicicleta entre o porto e oslo, o primeiro ambientalista a fazer uma manifestação em portugal com uma máscara de gás na cabeça!!, oiço o meu pai. e depois oiço-o a ele, que conheceu o meu irmão em atenas quando não havia ainda tábua, a falar-me de como está farto da grécia antiga, que se vai pôr a escrever livros. romances? yeah man... kind of, fantasia, ficção científica...
 
o steen… em 20 minutos que não se repetirão talvez nunca mais, rimo-nos da surf church que eu descobri precisamente através do eva, que, no dia de natal, no mar, perguntou àquela mulher mais bonita que as próprias algas que maneira era aquela de mexer o rabo quando apanha a onda. que lata… mas deve ter achado piada, ficaram a falar o resto da manhã… americana, casada, não sei quantos filhos, criou a surf church ali ao lado, e claro que eu e o lucas ficamos curiosos para ir lá bater à porta. penso naquele filme, o do surfista crístico, do outro lado da ressureição, já não sei qual deles falou comigo primeiro, se o filme se a tábua. o steen… para depois confessarmos que sim, que ambos acreditamos que deus, ou qualquer ideia disso próxima, bem poderá estar ali, naquelas ondas, nas partículas de luz que neste momento se apressam a ir descansar. o casal a que há pouco perguntei por isqueiro pede-me agora que lhe tire uma fotografia, que eu espere porque é para nos sentarmos de costas e o mar ficar-se a ver à frente, sim senhor. minutos depois, serei eu a oferecer-me para tirar uma ao pequeno júlio e à sua mãe e à sua irmã de que agora não me recordo dos nomes, tão bonito o júlio, lembra-me o celso, claro. o steen, com uma bonomia incrédula no rosto, pergunta-me pelo o que se passou, mas não se passou nada, só aquela mãe e os filhos todos com um ar tão vivo que eu tive de arranjar um pretexto para lhes falar e acreditar que eram gente de carne e osso… pergunta-me pela krista, esse amor nascido entre dois strangers on a train, o meu irmão fala-lhe das coincidências extraordinárias dessa história, o portugal finlândia aqui no porto com ela no dia dos namorados e o steen, virando o rosto para mim que estou no banco de trás, diz arrastadamente, cheio de graça, I think I don't believe you, man… mas acredita, steen, foi mesmo assim, ela era finlandesa mas até português falava, há coisas que contadas
 
20 minutos assim, completamente out of the blue… comemos umas tangerinas já em casa na companhia da minha mãe. small oranges, diz ela, e despedimo-nos, have a good flight man, it was a pleasure. dieu donne sa lumière à qui il veut não lhe digo mas penso.

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