segunda-feira, 6 de abril de 2020

I Vinti


Três aspectos irrecusavelmente simbólicos num dos primeiros e menos conhecidos filmes de Antonioni: “I Vinti”.
Mesmo num filme supostamente menos dado a psicologismos (o relato introdutório em off sublinha o “realismo” pretendido para a análise do fenómeno social de uma juventude “rebel without a cause” tratada pelo filme), Antonioni constrói já arquitectonicamente o espaço físico e mental das personagens, quer no seu recorte dentro de paisagens amplas, desoladas, quer na utilização de cenários on-location, eles mesmos, “arquitectónicos”, tantas vezes de sentido inverso: ruínas, de um lado, obras de construção de edifícios, do outro. De resto, o ennui já está todo nas personagens principais dos primeiros dois episódios (no segundo deles, o jovem contrabandista da alta burguesia é filmado, na sua deambulação pelas ruas em modo morto-vivo à James Cagney no “Roaring Twenties”, como a “agulha no palheiro” das grandes fachadas da cidade). Já a personagem do episódio passado em Londres vale mais pela sua singularidade dentro da galeria de personagens antonionianas – trata-se quase de uma réplica do Bruno de “Strangers on a Train” (1951, dois anos antes de “I Vinti”), o que, logo por aqui, anula qualquer putativa recusa de psicologismos (mesmo que aqui de cariz moral, comum em Hitchcock, raro em Antonioni).


Depois, a reverência pelo jazz e pelos músicos negros que o criaram. Praticamente ausente dos seus primeiros filmes, o jazz só aparecerá com estrondo em La Notte (1961), sobretudo na sequência da dança dos dois bailarinos negros no clube nocturno. Antes disso, porém, já estava aqui – que não em som, mas em imagem.


Finalmente, talvez o aspecto mais curioso de todos (e que nunca tinha visto referido antes). “I Vinti” termina, no episódio filmado em Londres, com uma cena – totalmente desconexa (?) no contexto narrativo do filme –, de duas pessoas, num court de ténis, a trocarem bolas. Como terminará, 13 anos depois, em Londres também, naquela que é uma das mais emblemáticas cenas de todo o Antonioni, Blow-Up…

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