segunda-feira, 24 de agosto de 2020

"Nzinga nunca vira um branco. E quando a informaram que o aniamatanga iria ser o marido, estremeceu. A pele do homem metia-lhe repugnância por a achar desprotegida e propensa a doenças e cheiros. Esse asco, essa antipatia, ficou nela até ao dia das núpcias. Na sua mente o branco não tinha pele.

(...)

- Imagina as carnes desprenderem-se dos ossos?

- É impossível, filha. Ele é pessoa como nós. Não é leproso.
- Ele não é normal.
- Não é doente, filha.
- Não tem pele, mãe.

(...)

- Há que encontrar maneiras - murmurou a mãe, olhando as mulheres conselheiras.

Estas, estupefactas com tal decisão, não conseguiam raciocinar. Para elas seria um privilégio dormir com um homem que se avermelhava por tudo e por nada. O corpo devia ser muito quente, imaginavam. O sangue que enrubescia ao sol o rosto redondo devia palpitar com outra intensidade. O sexo teria o vigor dos felinos e a morosidade extasiante das serpentes nos caprichosos enlaces amorosos. O calor libertado aqueceria como nunca as vísceras insatisfeitas das mulheres que copulavam para a reprodução. Não seriam só os homens a arfar de gozo, pensavam. Com o homem branco o sexo teria a liberdade da natureza animal, e não os sufocados guinchos nas palhotas escuras do sexo nocturno. Elas imaginavam os fios de cabelo feitos lianas enlouquecidas envolvendo os seios, o rosto, a vulva, as coxas, o corpo. Nzinga está doente, pensavam. Está a delirar. Como é que vai imaginar o sexo como um acto de defuntos?"


(Ungulani Ba Ka Khosa, Choriro)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020



 

(La Ragazza con la Pistola, 1968, Mario Monicelli)

 

É sabido o lugar relativamente isolado, singular, de Antonioni no panorama do cinema italiano dos anos 50-60. Maverick que não se encaixaria nem no neo-realismo nem na commedia all'italiana, de L’Avventura se disse ser um marco do cinema moderno, enquanto filme em que a narrativa sucumbe à cena, a cena ao plano, o plano a uma emoção ou sensação particular de uma personagem. Donde o peso concedido ao tempo, à paisagem, ao “ambiente”, tudo atributos que hoje vêm dar, de forma ...mais ou menos evidente, à ideia de “slow cinema”.

Quem viu Il Sorpasso de Dino Risi, lembrar-se-á bem da tirada de Gassman sobre L’eclisse ("Uma seca, bom para dormir. Que grande realizador, o Antonioni”). Em La ragazza con la pistola, Monicelli, um dos Mestres da commedia, aproveitando-se da presença de Monica Vitti - justamente “a” figura da chamada “trilogia da incomunicabilidade” - joga, metade brincadeira, metade alfinetada, com esse património antonioniano (Blow-Up, no caso, realizado dois anos antes): Vitti, num green londrino, toda destrambelhada de pistola na mão, a tentar vingar-se de Vincenzo, disparando sobre “o casal no parque”… Che figo

letters from the underworlds

 

Parece mentira, mas não é: aos 37 anos, o pianista criado numa aldeia montanhosa um dia habitada pela nobreza zulu e orgulhosamente parte de uma linhagem de excelência do jazz mundial ainda hoje mal-conhecida, é o primeiro músico sul-africano de jazz a assinar pela histórica Blue Note. Mas não está sozinho: os seus antepassados, de sangue e de som, também vão fazer companhia a John Coltrane, Wayne Shorter ou Art Blakey.

Entrevista com Nduduzo Makhathini no ípsilon da última sexta-feira

 

Link: https://www.publico.pt/2020/08/19/culturaipsilon/entrevista/nduduzo-makhathini-antepassados-chegaram-blue-note-1927752

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 




(La Ragazza con la Pistola, 1968, Mario Monicelli)

terça-feira, 18 de agosto de 2020

 


(Yeelen, 1987, Souleymane Cissé)




 


(Touki Bouki, 1973, D. Diop Mambéty)

Penelope




(LP Love Affair, 1978, Gary Bartz)

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

he was a new kind of man



                                                       (LP Metametic, 1980, John Foxx)



"He stepped out of the film again
Brushed off the dust and walked away
The touch of a hand was fading from him
A different scene began
A voice-over through scenes of sunrise
'It feels like someone's using my eyes'
Tinsel wind and curtains blowing
He looked down at his hands...

He was a new kind of man"

there's no-one driving



(LP Metametic, 1980, John Foxx)


Podia ser o Allen Halloween no refrão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

pitanga madura




(Pitanga Madura, 1992, Waldemar Bastos)

terça-feira, 11 de agosto de 2020

morro do kussava



(CD Pretaluz, 1998, Waldemar Bastos)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

marimbondo




(LP Estamos Juntos, 1983, Waldemar Bastos)

terça-feira, 4 de agosto de 2020

holiday!



(LP The Jammin' National Anthem, 1986, Steve Arrington)

fate



(EP Odd Cure, 2020)


"I thought you were fate
I was wrong all along
I thought you were fate
My mistake, had to make
I thought you were fate
It ain't it, just pretend
I thought you were fate"

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

no country for innocent men



Figura de proa do hip-hop americano mais alternativo, músico de verve espirituosa e poética, Quelle Chris tem em Innocent Country 2 (sequela do primeiro Innocent Country, editado em 2015), trabalho a 4 mãos com Chris Keys, o seu quinto álbum consecutivo em cinco anos – sem nunca baixar um milímetro na fasquia.

Entrevista com Quelle Chris no ípsilon da última sexta-feira