terça-feira, 14 de outubro de 2025



Como falar na “andersonização” de alguém que, depois de “Paul” e “Thomas”, já tem “Anderson” no nome? Explicitando, então: eis a wes-andersonização de Paul Thomas Anderson.

Como nos produtos em série de Wes, One Battle After Battle perfila-se como um objecto sem alma, algo particularmente inusitado depois desse portento lírico e juvenil que tinha sido Licorice Pizza. Personagens não existem; antes actores conhecidos a fazerem de actores conhecidos a fazerem algo engraçado numa colecção de cenas-vinhetas conclusivamente sinalizadas com a punchline da praxe. Colecção ou caderneta em que o cromo Di Caprio faz do actor conhecido Di Caprio a fazer de um stoner desengonçado e ex-resistente vagamente “anti-fascista”; Del Toro a fazer do actor conhecido Del Toro a fazer de um excêntrico sensei protector de imigrantes e desafortunados: Sean Penn a fazer do actor conhecido Sean Penn a fazer de um militar facho, homoerótico, obcecado por mulheres negras.
É uma figuração (literalmente, atenta a carência de dimensionalidade) que obedece a um protocolo de familiaridade com o espectador, um piscar-de-olho a solicitar que este reconheça e se reconheça: “Olha o Di Caprio! Olha o Del Toro! Olha o Sean Penn!”. Bonecos desenhados por quem sabe de antemão que o espectador vai clicar com eles, assim se "ganhando" a cena logo à partida.
Colateralmente, inusitada também a forma como se desperdiçam actores: Wood Harris, sim (o grande Avon Barksdale de The Wire), mas, sobretudo, Alana Haim (essa mesma, a de Licorice, e espectadores haverá que só agora tomem conhecimento da sua presença), que terá um ou dois escandalosos minutos de filme (se tanto). Para quê?

Cenas supérfluas, perfeitamente destacáveis umas das outras, que não estão a fazer nada senão servir o propósito do gag ou de número de stand-up: para que servem exactamente as cenas da ressurreição de Sean Penn, do seu gaseamento ou aqueloutra em que o hitman latino-americano tem um súbito remoque de consciência e se decide a matar os hitmans brancos e salvar a miúda? Isto para nos pouparmos à cena final da carta...

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