Só soube ontem que Claude Levi-Strauss faleceu. Atordoado aquando da sua leitura pela magnitude de Tristes Trópicos, e a propósito de outras ramas, escrevi um dia isto. E citei também isto, que volto a citar aqui como tributo ao homem que partiu. Poucos me terão atordoado - o termo é mesmo esse - como o fez Levi-Strauss (só Ortega y Gasset, provavelmente).
A etnografia traz-me uma satisfação intelectual: tal como a história, que une os extremos da história do mundo e da minha, assim também ela desvenda ao mesmo tempo a sua razão comum. Ao propor-me estudar o homem, ela liberta-me da dúvida, pois considera nele essas diferenças e modificações que têm sentido para todos os homens, com exclusão daqueles que, peculiares a uma única civilização, se dissolveriam se escolhessemos ficar de fora. Ela tranquiliza, por fim, esse apetite inquieto e destruidor de que falei, garantindo-me uma matéria praticamente inesgotável para a minha reflexão fornecida pela diversidade dos usos, dos costumes e das instituições. Ela reconcilia o meu carácter e a minha vida.
Claude Levi-Strauss, Tristes Trópicos
Quando transcrevi o excerto coloquei como título, como poderão ver pelo link, "comigo é o Direito...".
E embora eventualmente com outras matizes, continua a ser (e gosto de desconfiar que o será sempre?). Para bem do "meu carácter" e da "minha vida". O bom nisto é de nos ser dito por alguém, por outro: sabemos que a experiência pessoal é real, porque afinal não unicamente pessoal. Se dito (ou iluminado) como o faz Levi-Strauss, ainda melhor.
Não conhecia a sua obra, mas pelos excertos, atordoado é mesmo o termo.
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