quarta-feira, 4 de novembro de 2009

(e que bom que assim é o) rito

Abrem-se as pernas. Tronco direito. Esticam-se os braços. Gémeos, abdominais, bíceps, tríceps, deltóides e outros que tais. Estirados.
Levantam-se e compõem os fatos. Fraldas para dentro, cinto religiosamente apertado (como é mesmo?, pergunta o mais novo e suspira secretamente o mais velho), peito para fora. Enfileiram-se na tira vermelha com rostos genuinamente sérios. Respiram. Joelho esquerdo, joelho direito. Dedo grande do pé direito sobre o dedo grande do pé esquerdo. Mãos na horizontal sobre os joelhos. Queixo para a frente. A polidez íntima de cada um materializa-se no círculo em que a mão direita repousa na esquerda, os polegares tocando-se.
Mokuso.
Os olhos fecham-se e cada um vai para bem longe. Não se exige nenhuma espiritualidade de ocasião nem tão-pouco reflexões do dia que finda. Os olhos fecham-se e cada um dá, não ao diabo, mas a si próprio, o que sabe. Se quiser. Se não quiser, também não há problema. O silêncio imprimido pela palavra é tudo o que lhes é dado. Façam ou pensem ou meditem ou ignorem o que quiserem. Esse tempo de silêncio é vosso, diz-lhes autoridade nenhuma no interior das suas cabeças.
Mate.
Os olhos abrem-se e voltam ao local de onde nunca saíram. Passou rápido, passou devagar, nunca o sabem. O silêncio não é mensurável quando o suor e a divagação inevitavelmente incipiente se misturam. E que bom que assim o é, pensam, desconfiando sem desconfiança de que sempre farão a pergunta a si próprios. E que bom que assim o é, repetem, admirados e satisfeitos.
Senseni-Rei.
Pausa.
Shomeni-Rei.
Pausa.
Rua daqui p'ra fora!

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