quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"Travel Light", Children of Zeus, no ípsilon



No Ípsilon da semana passada (atenção ao artigo sobre/entrevista com as Pussy Riot), escrevo sobre "TRAVEL LIGHT", primeiro LP dos ingleses CHILDREN OF ZEUS, e no qual continuo a tentar rastrear o que de melhor se vem fazendo na música negra britânica (cfr. Loyle Carner, Rejjie Snow).

"(...) conjunto de treze canções cujo grande problema – embora, verdade seja dita, tomara a muitos discos padecerem deste tipo de 'problemas' – reside na sua relativa indiferenciação (...), sem rasgos ou arrojos que puxem o disco da sua palpável zona de conforto (...). Essa zona chama-se (...) neo soul, corrente americana de finais de 90/inícios dos 2000 que, liderada por gente como D’Angelo ou Erykah Badu, fez uma re-leitura da soul clássica dos 60/70 (a da Motown, Stax, etc., ou seja, aquela a que, curiosamente, a 'northern soul' de Manchester de algum modo sempre se opôs) a partir das possibilidades oferecidas pela electrónica, o R&B e, sobretudo, o hip-hop. Dito de outro modo, se Travel Light tivesse surgido por essa altura, com toda a certeza que teria, hoje, o estatuto de clássico; em 2018, soando tudo muito bem, é certo, de uma ponta à outra (arranjos perfeitos, orquestração coesa), fica-se, contudo, por esse travo saudoso (...), por uma fórmula que, não arriscando um milímetro, nos devolve a impressão de que já ouvimos tudo isto noutros discos (...). Isto dito, que o leitor não se engane: se estiver menos familiarizado com essa neo soul que o tempo levou (hoje substituída, de algum modo, por esse genérico carimbo de “contemporary R&B”), Travel Light será, sem sombra de dúvidas, uma agradabilíssima viagem, de que 'Sling Shot Riddim' (...), '360º' (o baixo distorcidíssimo, muito boogie, 'espacial', que tanto traz Amp Fiddler como Dâm-Funk para cima da mesa) e, em especial, 'Daddy’s Car' (comoventíssima rememoração desses momentos familiares que não mais nos deixam ao longo da vida) constituem as curvas mais entusiasmantes".

On-line: https://www.publico.pt/2018/08/13/culturaipsilon/critica/a-soul-de-manchester-continua-viva-1840328

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