segunda-feira, 17 de março de 2008

"Segundo estudos independentes, só entre 2001 e 2003, Bush, Powell, Rumsfeld, Cheney, Condleezza Rice e mais membros da administração americana proferiram um total de 935 declarações falsas [sobre a guerra no Iraque]. Neste quadro de terror e mentira impunes, não deixa de ser chocante que, nos Estados Unidos, um governador seja forçado a demitir-se por ter mentido... sobre a sua vida sexual."
Manuel António Pina, "Jornal de Notícias", 17 de Março de 2008

Interessa-me sobretudo a segunda parte da notícia. Sobre as mentiras de Bush e companhia, não há muito a dizer. Basta dizer que a razão apresentada para invadir o Iraque é falsa, não existe. E chega.
Agora a segunda parte. O processo de impeachment a Bill Clinton foi das coisas mais absurdas e pobres que a política norte-americana já mostrou ao mundo. Julgar e decidir sobre o destino político de um homem pela sua vida íntima é aberrante. A única coisa que aponto de negativo ao comportamento de Clinton foi, não mentir, mas admitir sequer falar sobre o problema na praça pública. Um problema que só dizia respeito a ele e às pessoas do seu círculo pessoal. Nunca aos media, à população e ao poder político. O impeach de Clinton é, além do mais, a meu ver, inconstitucional. Se analisarmos a Constituição Norte-Americana vemos que os motivos enunciados para o desencadear de um processo de impeachment se resumem a traição à pátria, subornos e questões de alta gravidade. Embora estas questões de alta gravidade sejam um conceito jurídico indeterminado, e por isso alvo possível de várias interpretações, não me parece, de forma alguma, que a vida íntima de um político - quaisquer os contornos que ela tenha, desde que não se intrometa de nenhum modo no exercício do poder - possa constituir uma situação de gravidade.
Clinton foi vergonhosamente retirado do poder à força. O processo de impeachment em causa fez-me lembrar a situação do poder político na Idade Média, onde os chefes de estado deviam fidelidade a uma série de ditâmes morais, éticos e religiosos.
Aliás, os EUA são especialmente virtuosos em fazer-nos lembrar os tempos políticos da Idade Média. A cadeira eléctrica leva-me sempre a pensar nas fogueiras e nos enforcados.
Saudosistas, os americanos.

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