Quem viu Young Adult com olhos de ver, pressentiu o raio-X crítico, exaustivo e deprimido da sociedade fast (não é só a comida, mas também os afectos e os gostos, por exemplo) que Jason Reitman nos oferece.
Mavis Gary (por quem me tenho afeiçoado, de tanto nela pensar - e é na Mavis mesmo, não na Charlize, juro) é, ela mesmo, um ser fast: no cabeleireiro e maquilhagem que, num instante, a tornam numa mulher sofisticada (roubando-a à "degradação" das olheiras, unhas por cortar, cabelo mal tratado, etc.), na comida que come ("Ken-Taco-Hut", na expressão da própria Mavis, que parece deglutir, de forma quase animal, batatas fritas e afins), nas relações (sexuais, também) que tem, no modo como ora se dá, ora rejeita os outros, enfim, até nos próprios livros que escreve para viver - livros etiquetados na categoria "jovem adultos", ou seja, aventuras ligeirinhas e curtas, para não aborrecer muito (para não ser uma "seca" - como se sabe, vivemos na era do anti-"seca", ou do anti-pensar, que é o mesmo).
Há um momento quase insignificante (aparentemente) em Young Adult que resume - naquele que é um olhar muitíssimo perspicaz de quem filma e que mostra que conhece bem o objecto que está a analisar - Mavis Gary. Quando ela volta para o Minnesota, arranja um pequeno quarto de hotel. Assim que entra no quarto, atulhada de malas, sacos e do seu pequeno cão, a primeira coisa que faz não é, como seria normal num adulto, pousar as malas e arrumá-las. Ao invés, atira-as para cima da cama e retira imediatamente - sofregamente, diria - o portátil, ligando o cabo à tomada. Com a tralha toda em cima da cama, Mavis liga-se à internet e, apetece dizer, já está: está em rede, no mundo, com os outros. É tudo falso, artificial, claro. Mas é a solidão contemporânea (e esta é verdadeira, passe o trocadilho), crua e dura, em que estamos com todos e não estamos com ninguém. Pobre Mavis, continuarei a pensar em ti.