segunda-feira, 5 de julho de 2021


Finalmente revisto, quase 10 anos depois de me ter causado uma fundíssima impressão, continua monumental - um filme "total", essa espécie rara se não extinta, em vias de. Deixo aqui o excerto de um magnífico artigo de Eduardo Prado Coelho (no Público de 17 de Abril de 1992) que li no sábado antes da projecção de O Passo Suspenso da Cegonha - e que já tinha deixado neste mesmo blog aquando do seu primeiríssimo visionamento, estávamos em 2012...


"E partiu, ninguém sabe para onde; partiu para outro lugar, mas sobretudo partiu de si mesmo, partiu da sua identidade congelada para afrontar a cisão, a deriva das fronteiras, o anonimato de cinza e frio matinal. Na figura admirável do Desaparecido (que poderá ser aquele que surge na representação perfeita de um Marcello Mastroianni), encontramos toda a problemática actual de uma vida política que, enovelada na sua própria lógica, acabou por se minar a si própria pela perda da transparência e verdade autêntica.
O Desconhecido usa o silêncio, a cumplicidade tácita (talvez a Mulher o tenha reconhecido, mas reconheceu-o o bastante para o considerar definitivamente desconhecido – e esse pode ser o limite da paixão), a alegoria, a resposta pelo gesto (procurar um peixe dentro de água para não ouvir a sua própria voz na cassete)".

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