(La Confession, 2016, Nicolas Boukhrief)
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Week-end: dos bons, só com groove
No ípsilon da passada sexta-feira, escrevo sobre o que 2019 nos poderá trazer a partir de um visionamento de Le livre d'image e, sobretudo, de Week-end, ambos de Godard.
Mas como tenho esperanças para 2019, que seja um week-end dos bons, com o groove dos australianos Poloshirt (Winston Surfshirt + Polographia) a ecoar no quarto.
Links on-line:
Hoje é sexta-feira, amanhã, Week-end? - https://www.publico.pt/2018/12/28/culturaipsilon/cronica/hoje-sextafeira-amanha-weekend-1855616
Da Austrália com Groove - https://www.publico.pt/2018/12/31/culturaipsilon/noticia/australia-groove-1855436
sábado, 29 de dezembro de 2018
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
olhar pela segunda vez, sempre
(The Man Who Shot Liberty Valance, 62, J. Ford / Banshun, 49, Y. Ozu)
"Mesmo quando se escolhe a vida, tem de se passar pelo cadáver do amor. Vera Miles é quem o sabe até ao fundo. No mesmo plano em que lembra ao marido as razões que tem para se sentir orgulhosa, revela-lhe que a flor do cacto fora ela quem a trouxera. Entre o jardim e o deserto, fica suspensa na curva final do comboio, movimento semelhante ao do início do filme, apenas em sentido inverso. O primeiro plano 'arrancava para a frente': o último 'puxa-nos para trás'.
(…)
Essa figura única na obra de Ford (um flashback dentro dum flashback, uma mesma sequência na multiplicidade dos pontos de vista) é muito mais do que a chave do filme, ou a revelação de quem matou Liberty Valance. É o apelo, pela primeira vez tornado explícito, a que olhemos sempre pela segunda vez, já que há sempre um fundo sob um fundo e outro ainda sob esse".
(…)
Essa figura única na obra de Ford (um flashback dentro dum flashback, uma mesma sequência na multiplicidade dos pontos de vista) é muito mais do que a chave do filme, ou a revelação de quem matou Liberty Valance. É o apelo, pela primeira vez tornado explícito, a que olhemos sempre pela segunda vez, já que há sempre um fundo sob um fundo e outro ainda sob esse".
João Bénard da Costa
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
domingo, 23 de dezembro de 2018
2018 - FILMES
Já foi divulgada a lista do ano do À pala de Walsh, para consultar aqui: http://www.apaladewalsh.com/2018/12/os-melhores-filmes-de-2018/?fbclid=IwAR2jSIYRPeHEhrvGyaIWQAWl6fuTUABxEQA8Wx-EH2IInIIXHxSl7GQx56o
Os 10 filmes do meu contentamento (estreias comerciais em PT apenas):
1. L’amant d’un jour (Philippe Garrel)
2. Ramiro (Manuel Mozos)
3. Cold War – Guerra Fria (Pawel Pawlikowski)
4. Phantom Thread (Paul Thomas Anderson)
5. Roma (Alfonso Cuarón)
6. Le livre d’image (Jean-Luc Godard)
7. Call Me by Your Name (Luca Guadagnino)
8. Frantz (François Ozon)
9. First Reformed (Paul Schrader)
10. Hereditary (Ari Aster)
2. Ramiro (Manuel Mozos)
3. Cold War – Guerra Fria (Pawel Pawlikowski)
4. Phantom Thread (Paul Thomas Anderson)
5. Roma (Alfonso Cuarón)
6. Le livre d’image (Jean-Luc Godard)
7. Call Me by Your Name (Luca Guadagnino)
8. Frantz (François Ozon)
9. First Reformed (Paul Schrader)
10. Hereditary (Ari Aster)
Outros filmes (estreias comerciais apenas) que levo comigo de 2018: Lean on Pete, Jusqu’à la garde, Lady Bird, Der Hauptmann, Visages villages,Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, As Boas Maneiras, Milla, Ana, Mon Amour, Happy End, Thelma.
Tenho sentido a felicidade de, todos os anos, encontrar um filme, pelo menos, com o qual crio uma relação especial, distinta da que mantenho com todos os outros. Isso não faz dele, evidentemente, “melhor” do que os restantes; esta não é a lista dos “melhores do ano” (isso pode ser encontrado nas indiewires desta vida), mas sim, mais modestamente, a lista d' os filmes do meu contentamento. Seriações como esta são apenas isso mesmo: diários de afectos que folhearemos daqui a uns anos e que então nos remeterão para aqueles que ama(á)mos, para noites mal dormidas ou refasteladas tardes de praia, pontadas no peito cuja electricidade desce pelo tronco e faz com que a perna esquerda adopte um passo estranhamento sincopado, diferente do habitual. Em 2018, talvez pela primeira vez, nenhum filme me abraçou dessa forma. Culpa dos filmes, culpa minha? A culpa é sempre dos dois. Reterei, porém, Cleo caminhando em frente; Cleo de pé, sempre. Nunca tentando nadar, apenas caminhando, nenhuma onda capaz de a abalar – no máximo, um cabelo colado às pálpebras que uma mão rapidamente sacode. Cleo.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
fazendo balanços, fechando contas disto e daquilo e eis que a agenda se abre, de repente, na penúltima página
sob pressão, à espera
do primeiro caracol
que não chega
a não ser que
enorme silêncio creme a seguir, um esquecido poema bruscamente interrompido pelo caracol que veio de onde eu menos esperava. tinha-me sentado estrategicamente no banco que me permitiria avistar a entrada, controlar os acontecimentos, mas até nisso fui apanhado na curva. quiçá a mesma que não previ e de onde apareceu, calças de ganga, um livro de poemas na mão, olhos de um planeta próximo. pedirei, tempos depois, numa dessas noites em que os nossos dedos se abraçam, como miniaturas de soldadinhos, por telemáticas insónias, que largue o livro e me deixe ver a mão, as mãos. vejo paredes, janelas, uma paisagem, o rapaz triste dos cabelos longos. este ano deu-me tanta coisa boa, com a excepção das tuas mãos: nunca as vi
2018 - DISCOS
Aos populistas e proto-fascistas que, no dia de hoje, tentam instrumentalizar uma insatisfação que, mais do que legítima, faz parte da normalidade saudável da vida em democracia e para a qual não há milagres imediatos (os impostos que são "altos", a existência de políticos "corruptos" - a sério?), damos música no Ípsilon, e da boa - pela minha parte, fico particularmente feliz por ver na lista dos 10+ os discos de Swamp Dogg (3.º) e de Mac Miller (6.º).
A minha lista individual abaixo: não são os "melhores discos do ano" (isso interessa-me tanto como os livros recomendados pelo zuckerberg), mas sim os discos do meu ano, balões histriónicos no diário, calendário dos meus afectos e memórias. Deixo também outros discos que, por uma razão ou por outra, me tocaram e projectam o que de mais entusiasmante poderemos ouvir no(s) próximo(s) ano(s). Nos comentários, link para os textos nos quais escrevi sobre alguns deles.
1. SWIMMING (Mac Miller)
2. Love, Death & Auto-Tune (Swamp Dogg)
3. Kids See Ghosts (Kanye West & Kid Cudi)
4. Lady, Lady (Masego)
5. Poloshirt EP (Poloshirt)
6. Caution (Mariah Carey)
7. Wanna Be Your Man (Prophet)
8. Ye (Kanye West)
9. Piano & a Microphone 1983 (Prince) + Lala Belu (Hailu Mergia)
10. Weather or Not (Evidence) + A Breukelen Story (Masta Ace & Marco Polo) + Fever (Black Milk)
2. Love, Death & Auto-Tune (Swamp Dogg)
3. Kids See Ghosts (Kanye West & Kid Cudi)
4. Lady, Lady (Masego)
5. Poloshirt EP (Poloshirt)
6. Caution (Mariah Carey)
7. Wanna Be Your Man (Prophet)
8. Ye (Kanye West)
9. Piano & a Microphone 1983 (Prince) + Lala Belu (Hailu Mergia)
10. Weather or Not (Evidence) + A Breukelen Story (Masta Ace & Marco Polo) + Fever (Black Milk)
Outros (sem ordem):
Oxnard (Anderson .Paak), Language (Starchild & The New Romantic), Deepak Looper (Papillon), KOD (J. Cole), Dear Annie (Rejjie Snow), PRhyme 2 (PRhyme), Conexão (Amber Mark), Mona Lisa (Apollo Brown & Joell Ortiz), Orpheus vs The Sirens (Hermit & The Recluse), Like A Baby (Jerry Paper), Jassbusters (Connan Mockasin), Silk Canvas (VanJess), Fill in the blank (Kev Brown), Bad Constant (Matt Maltese), Whack World (Tierra Whack), Girl Code (City Girls), Shugga Sextape Vol. 1 (Ian Isiah), Marée Basse (Vendredi Sur Mer), Time (Louis Cole), And Yet It’s All Love (Fatima), Harlan & Alondra (Buddy), Care For Me (Saba), No Rain, No Flowers (Sabrina Claudio), Travel Light (Children of Zeus), KTSE (Teyana Taylor), Ben Khan (Ben Khan), Black Ego (Lando Chill), Crush (Ravyn Lenae)
Oxnard (Anderson .Paak), Language (Starchild & The New Romantic), Deepak Looper (Papillon), KOD (J. Cole), Dear Annie (Rejjie Snow), PRhyme 2 (PRhyme), Conexão (Amber Mark), Mona Lisa (Apollo Brown & Joell Ortiz), Orpheus vs The Sirens (Hermit & The Recluse), Like A Baby (Jerry Paper), Jassbusters (Connan Mockasin), Silk Canvas (VanJess), Fill in the blank (Kev Brown), Bad Constant (Matt Maltese), Whack World (Tierra Whack), Girl Code (City Girls), Shugga Sextape Vol. 1 (Ian Isiah), Marée Basse (Vendredi Sur Mer), Time (Louis Cole), And Yet It’s All Love (Fatima), Harlan & Alondra (Buddy), Care For Me (Saba), No Rain, No Flowers (Sabrina Claudio), Travel Light (Children of Zeus), KTSE (Teyana Taylor), Ben Khan (Ben Khan), Black Ego (Lando Chill), Crush (Ravyn Lenae)
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
ritmos e blues no ípsilon
No Ípsilon da última sexta-feira, há ritmos e blues em abundância: há Mariah Carey, mas também 3 grandes discos de Marco Polo & Masta Ace ("A Breukelen Story"), PRhyme (Premier & Royce Da 5'9'' - "PRhyme 2") e Apollo Brown & Joell Ortiz ("Mona Lisa"). Word up.
Rapalavrar: para resgatar a Palavra no hip-hop: https://www.publico.pt/2018/12/14/culturaipsilon/noticia/rapalavrar-resgatar-palavra-hiphop-2018-1854202?fbclid=IwAR1SHxtRiXoDChxA79vlQZyfx_yqtnOURVHw-zwfGqZnkYAGXT0gL0eU5BM
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
We will never have Paris again
(Ultimo tango a Parigi, 1972, B. Bertolucci / Love, 2015, G. Noé)
[Ontem, ao rever o do Bertolucci, apercebi-me de como o do Noé nele se baseia/inspira livremente. Há muitos, mesmo muitos pontos comunicantes (inclusive uma cena filmada, também em modo "strolling", nesta ponte: não consegui encontrar o still exacto do Love, este foi o mais próximo que encontrei). Aliás, o Love torna-se mesmo outro filme quando lido a partir do do Bertolucci.]
disappear
(Light Sleeper, 1992, P. Schrader)
Schrader sempre a "jogar ao cinema", completamente embebido na gramática cinematográfica e na cinefilia. Nesta cena, por exemplo: não sendo um cineasta propriamente casto (de todo; embora o gráfico, o explícito, também não sejam marcas suas), repare-se como, meta-referencialmente, ele resolve a cena. "Let's disappear": forma simultaneamente de 1. elidir a questão visual do sexo; 2. "desaparecerem" no desejo, no prazer, no orgasmo (tal e qual na droga de que ambos tentam escapar); 3. desaparecerem, efectivamente, literalmente, do enquadramento; 4. desaparecerem dos olhos do espectador, porque o êxtase absoluto só a eles lhes pertence e diz respeito - mas também porque, em termos de "indústria", a cinematográfica e a moral, "tem que" se esconder a coisa do espectador... e volta-se a 1.
Cheers!
07-09-2018 / SWIMMING
"Wishin' I still had Mac wit' me (Yes Lawd!)
How do you tell a nigga 'slow it down'
When you livin' just as fast as 'em?"
How do you tell a nigga 'slow it down'
When you livin' just as fast as 'em?"
So long, Comrade
No Ípsilon da última sexta-feira, despeço-me do nosso bom camarada. Até já
“'Memories are the corner of my mind', canta Bradley na sua prisão nostálgica, impasse afectivo de toda uma vida, e na qual apenas durante 6 escassos anos fez aquilo para o que as suas goelas estavam fadadas. Com a sua partida, também ele, velho principezinho de asas abertas na capa desta celebração-despedida (há um raccord interessante entre as capas dos seus discos, rosto sorridente que se vai revelando crescentemente apreensivo), passou a fazer parte dessa perpétua geometria da nossa memória. Fly Little Boy".
sangue de outro sangue
Sobre o “Shoplifters” do Kore-eda – que me deixou relativamente indiferente, talvez pela repetição, melhor, redundância do filme no conjunto da sua obra, talvez pelo visível esforço “de efeito” (há uma certa auto-consciência de uma “pose” que está ganha junto do espectador praticamente à partida em virtude do universo humano que é captado: os rostos bondosos, cândidos, as expressões, os gestos), tudo coisas que talvez se condensem simbolicamente na circunstância de, nas prime...iras cenas do filme, o “pai” se queixar constantemente do frio e o espectador, na verdade, nunca o sentir, problema de mise-en-scène, da mais sofisticada (a iluminação, todo um regulador “térmico”) à mais elementar (traduzida no facto de as personagens não estarem por demais agasalhadas ou, simplesmente, não andarem em passo rápido na rua como normalmente se anda quando se tirita de frio, pelo contrário fumando, calmamente, nos passeios) –,
[fim deste inadmissivelmente longo parêntesis]
o que de mais determinante e poderoso entrevejo é mais ou menos isto que escrevi a propósito de alguns filmes que vi no ano passado em Locarno:
"At the end of the day, and after all the contemporary transformations that the notion of “parenthood” has undergone, the surviving theme is that love conquers all. That is what the powerful last scene in the Brazilian horror movie 'The Good Manners' tells us, in which Clara (Isabél Zuaa) tells her son, who is a werewolf, that she will not let him spend another hungry night just when the bloodthirsty mob is already on the other side of the door and ready to violate their family intimacy. Again, at the end of the day, it’s always this: a mother and a son together against the rest of the world. An unbreakable love bond resisting everything.
The fact that the bond which binds this mother and child has no biological nature only proves what is really fundamental here: that any idea of ”family” can only be based on affection and gestures of love, and, for that reason, the blood ties (and there is a lot of blood in “The Good Manners” exchanged between the characters) or other conventional representations of “parenthood” are nothing but artificial barriers that ultimately prevent us from loving others.
From another point of view, it is also to this idea that Travis Wilkerson points out in his impressive documentary “Did You Wonder Who Fired the Gun?,” in which the director himself undertakes an intimate and investigate journey on his racist, tyrannical, misogynist great-grandfather’s killing of a black man in the 1940s, as well as the current role of his aunt in an American white supremacist movement. What binds Wilkerson, a humanist, to his great-grandfather and his aunt? Just pure DNA. There is no love there; they’re his “family” only in the loosest sense".
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
ai as "caixas de comentários"
(LP Skiptracing, 2016)
Quando ouvirem falar mal das "caixas de comentários", mandem-nos ir dar uma volta ao bilhar grande.
"This whole album reminds me of my first and only boyfriend i ever had. We grew together so much, it was so fun weather we were being yelled at and called hippies by our favorite tea shop owner or running on the beach naked freezing our toes off. He really woke me up and showed me there was a life beyond the one i was living. I hope your ok Prud. I got our memories forever and ...even though your gone i will never forget the time we spent together and all our stupid inside jokes. Chasing my tail would have been the song we made love to for the first time for both of us. Lol we tried to get into it for like a hour but we couldn't stop laughing. Im glad we didn't but still that song still really special to me. I still find myself staring in the mirror at that mole on my shoulder you were obsessed with lol. I truly hope everyone can find a love like we had, i promise it would change the world. I know you will never see this but felt like i had to say it. The first month after i hear you got married i cried for days but now im just so honored to have felt such love and romance from a man who wanted nothing in return".
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
Hailu Mergia e Anderson .Paak no ípsilon
Muita coisa boa para ler no Ípsilon da última sexta-feira - nomeadamente, à conversa com o etíope Hailu Mergia e o seu regresso, 30 anos depois, com "Lala Belu"; e "Oxnard" de Anderson .Paak. Cheers!
Hailu Mergia: https://www.publico.pt/2018/12/03/culturaipsilon/noticia/taxi-driver-nao-fascista-armas-so-musica-humildade-1852606?fbclid=IwAR2PbTM46SS66oI4FK7gh-oDP9DFE9PHmHU9QOIC4QENHZOpJy5fJRzGEnc
Anderson .Paak: https://www.publico.pt/2018/12/03/culturaipsilon/critica/demasiado-tarde-demasiado-cedo-1852603
domingo, 2 de dezembro de 2018
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