quinta-feira, 28 de maio de 2009

à cena

E assim se fizeram à madeira
que não era madeira
mas pedra
perdoem o lirismo de quem vos quer à sua beira.

Fizeram-se à pedra,
portanto
pés dançantes
movimento e canto
s-e-t-e era o número amigo
para o encontro dos teatreiros errantes.

Os ponteiros
nem de pressa nem devagar
andavam
andavam como sempre
como devem andar...

Eles lá iam
por caminhos diferentes
até
à Alegria
dia
após
dia.

Minuto
após
minuto
o espreguiçar sonoro
do recém-nascido fruto.

Segundo
após
segundo
adoptaram caretas e trejeitos
criadores do seu próprio mundo.

tactearam o mundo volátil
do palanque
fácil, o gozo
de um momento sem fosso
lavando e massajando descobertas
nas saliências empedrenidas de um tanque

Sem fosso
Sem quebra
Sem intervalo
a não ser o do fim
o tal do fado.

E agora que o fim chegou
fim mais não há
para a saudade
que o fim cantou

O fim não existe!

A saudade por ele subsiste.
Enquanto houver saudade
ninguém vai crêr
que tu
partiste

Não vou não.

O fim é só uma ilusão triste.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Há coisas na vida que tê-las pela metade é definitivamente pior do que não as ter de todo.
A angústia é maior porque se pensa invariavelmente como é ter as duas metades ou quando as vamos ter.
E, então, sofre-se.

domingo, 24 de maio de 2009

culpado sem saber

É esta própria ignorância que torna os homens passíveis de censura, antes que de desculpa.
Aristóteles

Não se trata o homem de acordo cm a dignidade do seu conceito quando se separa dele o plano do bem e, com ele, a determinação da sua acção má enquanto tal, e se lha não imputa como má.
Hegel

excertos de Direito Penal, Questões Fundamentais, A Doutrina Geral do Crime, Jorge Figueiredo Dias.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Assim se acabaram as híbridas reverências.
não porque o desejo fugiu
mas porque outra coisa surgiu.

Não sei que sinta
os olhares não mais se cruzam
e as palavras
deixaram de ser tinta.

Já não secam.
Pior do que chamar alguém de mal-educado, é chamar de mal-formado.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

- Se me deixares, eu morro. - sibilou-lhe ao ouvido.
- Por não me teres nunca mais? - disse num gritinho excitado.
- Não. Por saber que já me tiveste. Ou que eu já te tive.

vagamente inspirado pelo filme (não pelo livro) Amor de Perdição.
Dizem os pombinhos adolescentes:
o que é meu é teu
e o que é teu é meu

E nós rimo-nos, condescendentes
aliados desse estúpido
amor ateu.

Depois falamos na emoção e na razão
sem perceber
que mal não traz ao mundo
o Amor em forma de religião.

Bradarei aos céus convosco,
correligionários do Grande e Imaculado Amor
com todos vós chorarei a dor
e sorrirei por cada nova flor.

De Amor.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vou ao fundo da minha vontade
e digo o que não diria
há uns tempos
tímido mascarador da verdade.

Não era mais que medo
a falta de sossego
o receio
de caír em desapego

assim me embruteci
numa carapaça
da qual
agora saí

Ela está ainda aí
pousada na areia
eu olho-a
esperando que seja levada pela maré cheia.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eu acordo
e tu estás a chegar

A imagem é quase literal
Porque até o Tempo se move por nós, afinal...

domingo, 3 de maio de 2009

Colhi uma flor para ti
Não ta dei

A dar-te,
tem que ser mais bela que tu.

Tarefa ingrata, a do sol, da chuva e do vento...

sábado, 2 de maio de 2009

O episódio de violência (física e psicológica) com Vital Moreira é uma vergonha. Como disse uma das manifestantes: "vão ser estas as manchetes, acabámos de perder a manifestação".
As pessoas têm que perceber que não somos todos iguais (nas nossas idiossincrasias, claro). Se há uns que pensam pela sua cabeça, reflectem, interrogam-se e tiram as suas conclusões pessoais, estão no seu direito.
Atentar contra o livre-pensamento é atentar contra umas das mais óbvias dimensões da Liberdade. A mesma que estava a ser festejada no grande dia que é o 1º de Maio.

Pessoalmente, e sendo eu apartidário, o candidato às europeias Vital Moreira merece-me toda a consideração. Goste-se ou não do estilo, oxalá fossem mais os académicos sabedores a candidatarem-se a cargos como este. Para fazer bem, é preciso saber. Muito. Vital é dos que sabe mais.