NERVE é um dos artistas mais talentosos, autoristas, idiossincráticos e marginais no hip-hop português. Alguém cujo trabalho sigo desde 2006 (EP Promoção Barata) e que tem vindo a construir uma obra muito própria, poética, megalomaníaca e chavasqueira em doses iguais.
Tinha, por isso, de escrever sobre o seu novíssimo álbum (cujo conceito inicial remonta há 10 anos atrás), cuja maior virtude é o seu maior defeito: a manutenção da mesmíssima linha dos trabalhos anteriores, com a (grande) excepção da sonoridade global do álbum. Para ler e, sobretudo, ouvir no Rimas e Batidas (clicar).
"(...) estes anos volvidos, o seu imenso talento mantém-se intocado, sendo isso que lhe permite adornar o seu trabalho com doses cavalares de egocentrismo, megalomania (em “Lenda”, mas até na própria comunicação com os fãs) sem que isso nos cause incómodo. Isso e o facto de sabermos que, por detrás dessa máscara (do “Andy Kaufman” a que NERVE alude em “Subtítulo”), há um tipo esquivo (“esquizóide”, nas suas palavras), introspectivo, complexado (a meias com a tal megalomania, como é audível em “Conhaque”), noctívago (conferir sample inicial de “Monstro Social”), mais ou menos misantropo – afinal, um tipo como muitos de nós, mas, no caso, dotado de um particular talento para escrever canções e que faz do seu muito desalinhado hip hop o meio de expelir a sua visão cáustica, sarcástica e auto-depreciativa de si, do mundo e da própria arte (“Se eu fizesse o pino / a arte ressuscitava / E um urinol voltava a ser um urinol” – Duchamp e dadaísmo, em “Monstro Social”, dizem alguma coisa ao leitor?)".
(Excerto)