Eppur… Um feliz 2021
Da minha janela vejo o Bósforo todos os dias: divisões e correntes, agitações e marés. Tal como no homem, tal como no mundo.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
Eppur… Um feliz 2021
notes to self
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Entre la pierre et la plume... IAM no ípsilon
Mais de 30 anos depois do início da carreira, os IAM, nome histórico do hip-hop francês, permanecem com os pés e a cabeça em Marselha – mas também no Antigo Egipto e em Nova Iorque. "Entre la pierre et la plume", livro recentemente editado em França, é mais uma porta de entrada no universo e mitologia de um super-grupo que continua até aos dias de hoje a agitar a complexa sociedade gaulesa.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
fantasmas que amamos
(Fantasmi a Roma, 1961, Antonio Pietrangeli)
Os fantasmas andam alegremente à solta, repetem rotinas fatais, debruçam-se sobre rear windows romanas para espreitarem as mais belas mulheres durante o serão. Uma vida frugal e feliz até ao momento em que o seu habitat fica em risco – o vetusto palácio em que vivem no centro da vecchia Roma prepara-se para ser vendido pelo sobrinho (Mastroianni, também no papel de um dos espirituosos fantasmas, num desempenho ambivalente, oportunista mas sensível, ganancioso e culto) do falecido dono aristocrático e colocado ao serviço de um gigantesco empreendimento imobiliário de um shopping (isto nos anos sessenta, sessenta...). As vias legais a que os fantasmas recorrem não resultam (são derrotadas ante o dinheiro e a corrupção), pelo que terão de lobrigar uma solução alternativa: pedem os bons ofícios do seu colega fantasma “Caparra” (provável alcunha para Giovanni Baglione, histórico rival de Caravaggio) para pintar um fresco num tecto falso do edifício de modo a que este seja classificado e, assim, impedida a venda. É ambígua a personagem do perito e crítico de pintura que, chamado ao local, declara que o fresco não é de Caparra mas de… Caravaggio. O negócio fica definitivamente enterrado e a preservação do palácio assegurada. A arte salva a arte, a crítica salva a arte – e o cinema, as salas de cinema por onde passeiam os fantasmas das nossas vidas (e da outra, talvez maior, a colectiva), quem os salva?
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
2020 - motion pictures (movie theaters only, now and ever)
2. Portrait de la jeune fille en feu de (Céline Sciamma)
E eis Richard Jewell no meio disso tudo como um autêntico oásis – ou deserto, não sabemos nunca ao certo, o filme está sempre a virar o bico ao prego, objecto cubista permanentemente formulando questões, respostas e contra-questões políticas e ideológicas (os EUA e o significado da liberdade, o virtuosismo patriótico das forças de segurança e a corrupção e a privacidade, o “bem da nação” e o individualismo, a cena das armas no quarto do patético Jewell que me parece ser a redenção de Eastwood da das gunsas kid’s best friend em The 15:17 to Paris; sendo tudo isto que acabo de enunciar assaz exíguo para a gigantesca massa problematizante em que o filme se constitui), axiomas e contradições (se não insanáveis, perto disso) a cada plano, sequência, a cada diálogo. Um filme de uma dialéctica exemplar que, ao jeito socrático, nos interpela a todo o momento no caminho de descoberta da verdade (a do “V” maiúsculo, não a do autor do atentado…) e que deveria integrar a formação dos funcionários de qualquer instituição pública (a começar nas escolas e a acabar no SEF). Saber que o advogado de Jewell (interpretado por Matthew McConaughey) corresponde, na vida real, a L. Lin Wood, cretino circense (com todo o respeito que as ditas artes me merecem) que tem feito parte da imundície trumpista do “Stop the Steal” só torna tudo mais rico e perturbante. Única reserva: a história muito mal contada por Eastwood para justificar o facto de, no filme, ter colocado a jornalista Kathy Scruggs (Olivia Wilde) a fazer uma troca win-win (i.é, sexo-informação) com um agente do FBI, algo sem sustentação factual e a que Scruggs, que já cá não mora, nunca poderá responder. Chama-se honra – aquilo que Eastwood talvez mais tenha enaltecido ao longo da sua obra…
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
Oh, baby, you're so mean to me
num filme em que os "yankees" são tratados pela comunidade cercada (é um filme de cerco, também, e não apenas o da guerra; de claustrofobia) como os índios nos westerns mais rasos (bárbaros, invasores, bestiais), palavra-arquétipo sem rosto nem humanidade, logo, apavorante (como, enfim, "the thing"), eis a bela e o monstro, a monstra e o belo para mostrar que o terror está, afinal, bem no meio deles. ou seja, de nós
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
2020 - I said-a hip, hop, the hippie
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
2020 - discos (INT)
Discos (INT) do meu ano
2020 - discos (PT)
1. Meia Riba Calxa (Tristany)
2. Rapazes e Raposas (B Fachada)
3. Véspera (Clã)
4. Sinceramente Porto (Keso)
5. SYSTEM (ProfJam e benji price)
6. Revezo (Filipe Sambado)
7. Lourenço Crespo (Lourenço Crespo)
8. Ed Harris Tape (Silab & Jay Fella)
Outros: You Don't Know Me, I'm Not Your Homie (Wake Up Sleep), Rotulado (Kilu), In3gah (In3gah), Outro Formato EP (Paulo Leitão), Light Headed (SaiR)
quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
Ninguém – homens, mulheres – sai bem na fotografia, mas, meu Deus… quão bela é a fotografia. Humana, sumamente humana, como todo o cinema de Pietrangeli, fino receptor da complexidade e da ambiguidade, dos interstícios morais alheios a julgamentos sumários. Quando Pina – mulher sagaz e independente cuja submissão e condescendência para com este homem sem qualidades nos espanta a cada plano – finalmente lhe diz, já a noite vai alta, o que pensa dele (racista, egoísta, grosseiro), Adolfo retorque de olhos baixos: “Tens razão. É tudo verdade”. Mas diz mais: “É nisso que nos tornamos quando estamos sozinhos”. Não se trata de uma solidão de cariz amoroso, mas de algo muito maior, um estar-no-mundo sozinho.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
notes to self
straight from Brooklyn
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
epítome, pináculo, nec plus ultra
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Cena maravilhosa
domingo, 29 de novembro de 2020
flags of our fathers
(Boyhood, 2014 / Brad's Status, 2017 / Lady Bird, 2017)
"You know what I'm realising? My life is just going to go. Like that. This series of milestones. Getting married. Having kids. Getting divorced. The time that we thought you were dyslexic. When I taught you how to ride a bike. Getting divorced... again. Getting my masters degree. Finally getting the job I wanted. Sending Samantha off to college. Sending you off to college. You know what's next? Huh? It's my fucking funeral! Just go, and leave my picture!". (B)
"My son: he's here. We still have years together... We're still alive. I'm alive". (BS)
"Hey, Mom, did you feel emotional the first time that you drove in Sacramento? I did and I wanted to tell you, but we weren't really talking when it happened. All those bends I've known my whole life, and stores, and the whole thing. But I wanted to tell you I love you. Thank you, I'm... thank you". (LB)
a sós
O estranho caso de Manoel
Eis o homem da câmara de fotografar: é quase com uma fotografia por cada ano de vida do centenário cineasta portuense que a Casa do Cinema Manoel Oliveira dá a conhecer uma parte do seu inestimável acervo, num irresistível vis-à-vis entre imagem estática e imagem em movimento. Mas esta é também a história de como uma imagem pode constituir a obsessão de toda uma vida – e de como ela pode dar um filme.
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
(O Estranho Caso de Angélica, 2010, Manoel de Oliveira)
Découpage magnífica, com tanto e tão pouco... O trabalho, a terra, o pão. A vida, o céu, a morte. Matéria e espírito. De novo o trabalho (o mendigo também trabalha) e o agradecimento pelo dízimo: "Que seja pelas alminhas. Nossa Senhora o proteja na sua Graça". E a fotografia, o cinema, trabalhando a morte e a ressurreição de tudo isso.
Q-Tip, beautiful as ever
desperate fools overture
Faixa inicial que Mac Miller, numa tradição iniciada com The Divine Feminine (arranques minimalistas, delicados, ricamente melódicos, com ênfase nas cordas, e carentes de percussões ou perto disso), certamente não enjeitaria para abertura do seu álbum seguinte...