Este mês, e na sequência de outros filmes soviéticos sobre os quais tenho escrito (este ou aquele), atirei-me ao fabuloso Tenho Vinte Anos (1965), de Marlen Khtusiev. Filme-sonho sobre a URSS do período Khruschchev onde, por um instante, tudo pareceu possível (nomeadamente, a liberdade). O filme passa hoje na Cinemateca, no âmbito do ciclo integral Marlen Khutsiev: Um Segredo do Cinema Moderno.
Para ler no À pala de Walsh (clicar).
Se Mne dvadtsat let ecoa os ares mais respiráveis do pós-estalinismo, tal permite a Khutsiev, de modo ora mais explícito, ora mais subtil, filmar as convulsões internas da URSS a partir do locus que realmente (lhe) interessa: as pessoas. Por isso, se, sobre um filme da propaganda estalinista como Chapaev (Georgi e Sergei Vasilyev, 1934), Marc Ferro escrevia que o mesmo “(…) montre que les héros se trompent, que la spontanéité conduit à des erreurs, que les individus meurent, alors que le parti voit juste, qu’il ne se trompe ni ne morte jamais”, então, o filme de Khutsiev representa, justamente, o triunfo da espontaneidade e dos indivíduos. Ou seja, e talqualmente acontecia com Ballada o soldate de Grigoriy Chukhray (cineasta muito admirado por Khrushchev), este é um filme também “político” no sentido em que, por oposição ao titânico (tirânico) projecto transpersonalista soviético, se afirma como radicalmente personalista, algo detestavelmente “burguês” e “individualista” para as autoridades (como se o personalismo, cristão ou laico, não fosse compatível com a ideia de comunidade e de progresso colectivo).
[Excerto]
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