este verão foi, com toda a certeza, aquele com mais sol, areia e água salgada dos meus últimos 5, talvez 10 anos. nada, porém, que tenha sido planeado ou particularmente desejado - aconteceu ser assim, e aconteceu muito bem. pelo meio desta regeneração não premeditada, um filme que, em 2011, não apanhei em sala veio-me, a certa altura, intensamente à cabeça, e, quando voltei à pedra não erodida da cidade, corri a vê-lo. “Deste Lado da Ressureição”, de Joaquim Sapinho, é um fi...lme de que não gosto muito, mas no qual encontro, ainda assim, boas e generosas ideias, a maioria delas, porém, e é pena, toscamente concretizada – desde logo, essa coisa (crónica em alguns cineastas ou filmografias, mas absolutamente ausente do maravilhoso “Corte de Cabelo”, também de Sapinho) de dizer pouco ou nada sobre os elementos narrativos nucleares (o desaparecimento do pai, o sofrimento daquele filho e a fuga, o seu violento corte com a mãe – embora daí também emerja um mistério que não deixa de ser cativante, sobretudo pela hipótese edipiana e incestuosa) e, ao invés, de explicar, prolixamente, desnecessariamente (quando não, até, pateticamente), as camadas transcendentais ou metafísicas dessa mesma narrativa, e que ao leitor devem ser deixadas para reflexão/como sugestão (aquela confrangedora cena na praia entre o rapaz e o instrutor de surf, em que o segundo diz, perdoem-me a eventual imprecisão, que “a praia é a nossa religião e o mar o nosso Deus”). é um desequilíbrio que, de facto, não se compreende, mas que, ainda assim – insisto –, não me retira completamente o prazer na leitura do filme.
é disso e de outras coisas que falo no podcast do Daniel Reifferscheid, “Prestes A Ver”, para ouvir aí em baixo (e com quem, há muitos anos atrás, quando ele foi meu editor num dos primeiros sites para o qual escrevi, discuti, breve mas intensamente, hip-hop e “mensagem”, música e erudição, por aí fora).
Podcast: Episódio Trinta E Seis - Deste Lado Da Ressureição (c/Francisco Noronha)
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