domingo, 29 de abril de 2012

It's show time, folks


All That Jazz (1979), Bob Fosse.

Tem sido mais ou menos assim (mais ou menos) que, nos últimos dias, tenho começado cada dia. Show time: tempo de resistir, segurar a besta, representar, se necessário. Quem não viu esta fuga para a frente no filme de Bob Fosse, não viu... nada.

sábado, 28 de abril de 2012

cada ciência sua desavença



Tal como o jurista é capaz de discutir aturadamente o sentido e o alcance da utilização de uma vírgula ou de uma locução num texto legal, também há, noutras bandas, quem discuta e discorra, aguerrida e exaustivamente, sobre o significado, a simbologia, eventualmente, a fenomenologia (!), até, de um pillow shot do Ozu, como é o caso do famoso plano do vaso, no Primavera Tardia (1949). E, permitam-me desiludir algumas cabecinhas ("oh, mas discutir o Ozu é muito mais interessante"), é muito mais o que os une do que os separa.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

a chuva do meu inverno



"A Chuva do Meu Inverno", álbum Filho Perfeito (2012), Pródigo.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

ora vamos lá saber onde pára o dito cujo

É bom que a coisa se comece a espalhar: Escola da Fontinha: e o despacho, senhor presidente? Só fico mais feliz por saber ter sido escrito por alguém que se sentou nos mesmos bancos de faculdade que eu.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

round midnight



Wes Montgomery - "Round Midnight".

terça-feira, 24 de abril de 2012

tudo mal

Corre tudo mal a este país. O 25 de Abril não vai ser o mesmo sem Miguel Portas. Até sempre.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

E partiu



O Passo Suspenso da Cegonha (1991), Theo Angelopoulos.


"E partiu, ninguém sabe para onde; partiu para outro lugar, mas sobretudo partiu de si mesmo, partiu-se da sua identidade congelada para afrontar a cisão, a deriva das fronteiras, o anonimato de cinza e frio matinal. Na figura admirável do Desaparecido (que poderá ser aquele que surge na representação perfeita de um Marcello Mastroianni), encontramos toda a problemática actual de uma vida política que, enovelada na sua própria lógica, acabou por se minar a si própria pela perda da transparência e verdade autêntica. O Desconhecido usa o silêncio, a cumplicidade tácita (talvez a Mulher o tenha reconhecido, mas reconheceu-o o bastante para o considerar definitivamente desconhecido – e esse pode ser o limite da paixão), a alegoria, a resposta pelo gesto (procurar um peixe dentro de água para não ouvir a sua própria voz na cassete)".


Eduardo Prado Coelho, Público, 17/4/1992.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

é sempre o mesmo

"Aqui, no Norte, logo que anoitecesse o frio seria cortante e a catedral já estava cheia: não havia mais onde se abrigarem; as próprias escadas que conduziam ao campanário tinham todos os degraus ocupados, e a cada momento chegava mais gente aos portões, com filhos e objectos de uso caseiro às costas. Qualquer que fosse a sua religião, pensavam que estariam ali seguros. Enquanto observávamos este espectáculo, vimos abrir caminho um rapaz com uniforme vietnamês e armado de espingarda: foi detido por um padre, que lhe tirou a arma.
O padre a meu lado disse, à laia de explicação:
- Aqui somos neutros. Estamos em território de Deus.
Eu pensei: «Que estranha e miserável população que Deus tem no seu reino, assustada, regelada, faminta ('Não faço ideia de como vamos alimentar esta gente', dissera-me o padre); poder-se-ia supor que a um grande rei era possível realizar mais do que isto». Mas depois pensei: «Onde quer que se vá é sempre o mesmo - não são os governos mais poderosos que têm as populações mais felizes»".


O Americano Tranquilo, Graham Greene.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

linha vermelha


O documentário estreia amanhã. A minha crítica, essa, estreia hoje, na rdb - aqui.

terça-feira, 10 de abril de 2012

tristes descoincidências

Sou um português intranquilo a ler o americano tranquilo.

os maus filmes às vezes também nos podem fazer pensar

Podia ser o título de um artigo escrito por alguém que, numa noite como tantas outras, metido num shopping comercial, decidiu ir ao cinema às escuras (ou às cegas, para evitar o pleonasmo). E é. Aqui.


domingo, 8 de abril de 2012

back to the east

Não sei como é que este Port Authority (2007), do Marco Polo - filiado na escola nova iorquina, no que a produção diz respeito -, me passou tanto tempo despercebido. É um monumento no que de ultimamente se tem feito no hip-hop norte-americano. E este intro fala por si:



"Back to where all it began... back to the east"

quarta-feira, 4 de abril de 2012

afortunada




De uma coisa a Carey Mulligan se pode orgulhar: de ter contracenado, num só ano (2011), com os dois maiores actores do momento (entenda-se um conjunto lato de atributos: talento, pinta, pose, bom gosto dos filmes em que se metem, etc.). Curiosamente, em filmes em que tanto Michael Fassbender (Shame) como Ryan Gosling (Drive) encarnam misantropos high life marcados por um vazio profundo e, aos nossos olhos, (relativamente) incompreensível. E há várias similitudes entre as duas personagens: a despeito do traço associal, de nenhum dos dois nos é dado o seu background, o qual, todavia, pressentimos poder ser uma peça-chave para decifrar o seu modus vivendi actual (sobretudo Fassbender - já muito se falou, com todos os riscos que estas indagações comportam, nos eventuais abusos sexuais sofridos por Brandon na infância, ou na possível relação incestuosa com Sissy).

Shabazz Palaces


"Are you... Can You... Were You? (Felt)", álbum Black Up (2011), Shabazz Palaces.


Chamem-lhe "post-hip-hop" ou o que quiserem, mas o que estes tipos andam a fazer é diferente de tudo o resto que se vê hoje em dia, quer do ponto de vista formal (composição musical), quer no que toca às suas letras. Agora juntem-lhe vídeos (de inspiração cinematográfica) com este primor - além do acima, esta curta e aquele clip - e têm a receita completa.

terça-feira, 3 de abril de 2012

realismo


Shame (2011), Steve McQueen.


Como muito acertadamente - as always - escreveu o PM, Brandon (Fassbender) é "um dependente (sexual) que é contra a dependência (afectiva)". Ora, não há cena mais ilustrativa dessa circunstância do que aquele grande plano (que não encontrei em lado nenhum) em que, na primeira noite em que a irmã de Brandon, Sissy, lhe "assalta" o apartamento, Brandon a escuta, atrás da porta, a falar ao telefone com o namorado. É uma conversa terrível, doentia, aquela que, aos soluços, vamos ouvindo: a de alguém (Sissy) profundamente dependente (precisamente) da outra parte, que implora pela sua permanência, como se a solução para esse possível abandono fosse, pura e simplesmente, não existir, por inutilidade de tudo o resto. Não só o conteúdo dessa conversa, mas também a debilidade física de Sissy (o choro, os gemidos, os gritos, o tremer que imaginamos) compõem esse quadro dramático - o da dependência. E é isso que, por detrás da porta, Brandon confirma querer evitar a todo o custo, pelo risco - só pelo risco - de vir a estar/ficar assim. Por isso é que, abraços com esse pavor extremo, Brandon se refugia em relações com um prazo máximo de quatro meses e diz que uma vida inteira com alguém não é "realista". Ser realista é, muitas vezes, uma carapaça para nos protegermos do que a vida tem de melhor (e de mais perigoso, inevitavelmente): a loucura (não no sentido patológico, mas no de nos entregarmos às coisas), a paixão, o imponderável.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

divinos literatos

- Sabes porquê que o gajo chamou divina comédia à divina comédia?
- Porquê?
- Porque como a vida era tão deprimente naquela altura, só porque a história teve um final feliz, o gajo chamou-lhe divina comédia...

taxi driver


Hoje, apanhei um taxista que, de tão caricatural (cabelo lambido, bigode, palito, convencidão, cabeça de fora para espreitar o que vocês sabem), me fez desconfiar durante a viagem toda se não seria um tipo disfarçado a a fazer pesquisa no terreno para um doutoramento em sociologia ou psicologia. A hipótese não é tão descabida assim: por exemplo, o De Niro, para fazer o Taxi Driver, tirou a licença de taxista e andou uns meses a aprender os ossos do ofício.