"Aqui, no Norte, logo que anoitecesse o frio seria cortante e a catedral já estava cheia: não havia mais onde se abrigarem; as próprias escadas que conduziam ao campanário tinham todos os degraus ocupados, e a cada momento chegava mais gente aos portões, com filhos e objectos de uso caseiro às costas. Qualquer que fosse a sua religião, pensavam que estariam ali seguros. Enquanto observávamos este espectáculo, vimos abrir caminho um rapaz com uniforme vietnamês e armado de espingarda: foi detido por um padre, que lhe tirou a arma.
O padre a meu lado disse, à laia de explicação:
- Aqui somos neutros. Estamos em território de Deus.
Eu pensei: «Que estranha e miserável população que Deus tem no seu reino, assustada, regelada, faminta ('Não faço ideia de como vamos alimentar esta gente', dissera-me o padre); poder-se-ia supor que a um grande rei era possível realizar mais do que isto». Mas depois pensei: «Onde quer que se vá é sempre o mesmo - não são os governos mais poderosos que têm as populações mais felizes»".
O Americano Tranquilo, Graham Greene.